sábado, 2 de janeiro de 2021

O que é ser de esquerda, hoje? (2)

 

    Fiz um post com este mesmo título em 28 de fevereiro de 2019, explicando que lia um livro com este nome. Fiquei, na época, de fazer comentários sobre os textos contidos na publicação, mas... não fiz. 

    Aliás, na época, fiz apenas dois: (1) vários dos textos definiam o que é ser de esquerda hoje, ao que Ruy Fausto opunha a ideia de "identidades de esquerda" - que ele dizia serem três ou quatro, no Brasil -; e (2) meu espanto com o fato de ele indicar que uma dessas "esquerdas" é de cunho REVOLUCIONÁRIO.

    Sinceramente, achava complicado que, no Brasil, ainda existisse uma linhagem de esquerdistas que defendesse a via revolucionária de acesso ao poder - embora não duvidasse que alguém, isoladamente, pudesse pensar nisso. Mas tenho que dar o braço a torcer de que há, sim, essa esquerda. Em outro post, comento o porquê dessa minha concordância com Ruy Fausto.

    Antes, porém, de prosseguir, gostaria de registrar que também acho difícil haver uma linha de pensamento efetivamente reflexiva que defenda um golpe que nos leve à ditadura. Tanto um, quanto outro pensamentos me parecem desconsiderar o ambiente histórico em que eventos de tais tipos ocorreram, em comparação com o atual. 

    Mas... vamos lá...  tratando do que "paira" nos textos, mais do que o conteúdo efetivo deles.

    Senti - o que penso se confirmar mais e mais por leituras quotidianas - que há uma fragmentação grande da "esquerda" - lembrando que tomo o termo no singular criticamente. E, dentro dessa fragmentação, ainda que pese a hegemonia do Partido dos Trabalhadores, há certo desconforto em relação a este.

    Assim é que José de Souza Martins indica que o "[...] partido reinante [o PT] [...] governa em nome da esquerda. Mas o faz com programas de afirmação da mesma economia iníqua e desenraizadora do que foi chamado de neoliberalismo econômico, com ataduras e remendos sociais de natureza assistencialista".

    Trata ainda de um "proletariado de Lula e do PT construindo a prática populista e de direita em nome da esquerda, no presente sem futuro".

    Roberto Freire, por exemplo, diz que "A mudança para o PT nada mais significou do que chegar ao governo e tudo fazer para nele permanecer o maior tempo possível. Mesmo que isso implique em deixar de lado promessas de mudança exigidas pelos brasileiros e esquecendo o amanhã".

    Ruy Fausto indica que "A prática do governo do PT está muito longe de ser a efetivação de um projeto sólido de luta contra a corrupção e contra a desigualdade, projeto que só uma esquerda com outras exigências seria capaz de propor e de realizar".

    Há outras referências desabonadoras ao Partido dos Trabalhadores. Decerto que opiniões desse tipo vindas de partidos que lutam pela hegemonia no campo da esquerda podem ser consideradas "interessadas", e, por isso, levadas menos em consideração. Mas há também a opinião de teóricos do campo da esquerda que dão um tratamento eminentemente crítico ao tema, e que merecem reflexão séria.

    Reforço, de qualquer modo, que essas são críticas internas. Não se trata de um bolsonarista, por exemplo, "atirando" no PT.

    E... depois escrevo mais... prometo, desta vez. Rssss

  

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