Por último, uma experiência pessoal.
Certa vez, eu e minha esposa estávamos em um barzinho, aguardando nossa filha chegar. Nossa mesa só contava com duas cadeiras. Olhei a mesa ao lado, que só estava com uma pessoa, mas dispunha de duas cadeiras. Virei-me para o ocupante da mesa, e, num tom amistoso, disse: "Amigão, você me permite pegar essa cadeira?", apontando para o objeto em questão.
O rapaz na mesa era negro. Ele me olhou e, em tom enfurecido, perguntou: "O que você disse?". Num primeiro momento, achei que ele não tivesse entendido a pergunta, e esclareci: "Eu queria saber se posso pegar essa cadeira". Ele voltou a falar com ar irritado: "Não. O que você disse antes?". Levei um instante para processar o motivo da raiva: ele havia interpretado o meu "amigão" como "negão".
Eu não quis polemizar, visto que minha intenção era apenas obter uma cadeira. Então, falei "Não disse nada antes. Só fiz uma pergunta. Se não quer ceder a cadeira, peço a outra pessoa". Virei para a mesa ao lado da dele, ocupada por uma pessoa branca, onde também havia uma cadeira sobrando, e perguntei: "Amigão, posso pegar essa cadeira?". A resposta foi afirmativa. Peguei a cadeira e esperei minha filha chegar.
Minha esposa, logo depois, quis me explicar o porquê da irritação do primeiro homem. Eu indiquei que havia entendido, mas que não quis entrar naquela polêmica... até porque não falei nada de errado.
Só quis destacar que a discriminação estava exclusivamente na mente do pretenso discriminado.
Aliás, vale o comentário de que a defesa do atleta do Bahia utilizou o argumento de que, pelo idioma diferente, o jogador do Flamengo pode ter confundido alguma outra palavra proferida com a que teria sido ouvida por ele.
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