terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

"Elogio da razão sensível"

  O título do post é o mesmo de um livro de Michel Maffesoli... não por acaso, já que é dele mesmo que vou falar.
  Eu já "paquerava" esse livro há muito tempo. Embora ele tenha sido publicado, na França, em 1996, a tradução brasileira só apareceu em 2008, pela Editora Vozes.
  O autor é um sociólogo, professor na Sorbonne, que tem se voltado para a sociedade contemporânea a fim de analisá-la criticamente. Em sua crítica, levantam-se problemas, por exemplo, relacionados à Ética. Aliás, foi por aí que eu comecei a pensar em Maffesoli e em seu elogio à "razão sensível".
  Por conta dessa expressão - que, em alguma medida, me remete à inseparabilidade entre razão e emoção, em Spinoza -, pensei poder refletir de maneira alternativa sobre os sistemas éticos, que, em sua esmagadora maioria, ainda que não percebam ou admitam, insistem na possibilidade de juízos éticos sempre racionalmente puros.
  Aliás, quando tive a oportunidade de registrar isso junto a um especialista em Ética, percebi que Maffesoli não gozava de boa reputação entre os "moralistas" - aqui, como estudiosos do campo ético-moral -, ou, pelo menos, junto a uma parcela expressiva deles.
  Leituras vão, leituras vêm... só agora consegui pegar o livro para ler - e nem sei se as minhas obrigações me permitirão ir até o fim sem interrupções.
   De qualquer forma, já na "orelha" do exemplar, há uma boa motivação para a leitura do texto. Lá está que "Elogio da razão sensível é um verdadeiro tratado de decifragem do mundo contemporâneo, que opõe, às razões da Razão racionalizante, as intuições da Razão sensível. Uma maneira de abordar o real em sua complexidade fluida, de levantar a topografia do imprevisível e do incerto". O que incentiva é perceber que não se adota um projeto absurdamente - no meu ponto de vista - irracionalista. Não dá para pensar o homem sem uma dimensão sua das mais importantes, como a razão, a não ser "desumanizando-o". Mas também não há como, em favor de uma razão abstrata, pura e desencarnada, esquecer a dimensão afetiva do homem... o que é, também, "desumanizá-lo".
  Não imagino que seja fácil pensar assim... como não foi simples para Spinoza, também. Mas acho que é necessário tentar fazê-lo.
  Por enquanto, não li quase nada do livro, mas já achei trechos que dariam belos aforismos - embora o texto não seja construído nesse "formato".
   Mas... lá vão eles:
   "Talvez seja quando o sentimento de urgência se faz mais premente que convém pôr em jogo uma estratégia de lentidão";
   "O establishment, com efeito, não é uma simples casta social, é, antes de mais nada, um estado de espírito que tem medo de enfrentar o estranho e o estrangeiro"; e
   "Quando já não se tem quaisquer garantias, ideológicas, religiosas, institucionais, políticas, talvez seja preciso saber apostar na sabedoria relativista. Esta 'sabe' ... que nada é absoluto, que não há verdade geral, mas que todas as verdades parciais podem entrar em relação umas com as outras".
   Aquilo que parece ser o grande "projeto" do texto está resumido, a meu ver, na seguinte passagem: "à moral do 'dever ser' poderia suceder uma ética das situações. Esta, ou melhor, estas últimas são atenciosas à paixão, à emoção, numa palavra, aos afetos de que estão impregnados os fenômenos humanos".
   Por enquanto, é só. Depois eu conto mais!

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