quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

"As pessoas gostam de ser enganadas"

   O título do post corresponde a uma das afirmações da entrevista do psicólogo e escritor americano Michael Shermer, de 57 anos, diretor da Sociedade Cética e da revista "Skeptic", publicada em uma das últimas edições da revista "Época". No Brasil, recentemente foi publicado seu livro "Por que as pessoas acreditam em coisas estranhas".
   Isoladamente, a frase apresentada fica muito "forte". Entretanto, contextualizada, embora ainda severa, a afirmação fica mais "palatável". A pergunta feita é "Por que as pessoas insistem em acreditar que essas alegações [feitas pelos 'médiuns' em geral] são verdadeiras?". Shermer responde: "Basta aos médiuns, curandeiros e pais de sento dizer que têm visões e preveem o futuro para que as pessoas acreditem. Faz parte da natureza humana. Não evoluímos para duvidar ou questionar. Desenvolver um senso crítico e uma visão própria de mundo exige educação, reflexão e tempo. Crer é muito mais fácil. As pessoas preferem ser enganadas".
   Vê-se, portanto, que esse "preferem" implica não só uma vontade consciente, mas principalmente um certo despreparo para o questionar, e uma concessão à comodidade.
   Uma outra afirmação que mostra o bom senso do autor é "Embora seja possível que algumas alegações de eventos paranormais, mediúnicos ou ufológicos possam ser verdadeiras, a verdade é que a maior parte delas é falsa". É verdade que ele arremata a frase com "..., e o mais provável é que todas não passem de pura farsa". Ainda nesse fecho, ele apresenta a prudência de falar em "o mais provável".
   No "Ensaio sobre os milagres", Hume apresenta uma ideia relativamente semelhante a esta de que tendemos a nos enganar, por nossa própria natureza, quando diz: "A máxima que nos guia habitualmente é a de que os objetos de que não temos qualquer experiência se assemelham àqueles de que temos experiência; a de que aquilo que concluímos ser o mais habitual é sempre o mais provável, e a de que onde há oposição de argumentos, devemos dar preferência aos que se baseiam no maior número de observações anteriores. Mas, se bem que, ao procedermos de acordo com esta regra, facilmente rejeitemos um fato desusado e inacreditável num grau ordinário, não obstante, quando aquele vai mais longe, o espírito nem sempre respeita a mesma regra; quando se afirma um acontecimento extremamente absurdo ou milagroso, o espírito mais facilmente admite semelhante fato, devido a essa mesma circunstância que deveria destruir toda a autoridade. A paixão da surpresa e da admiração, que provém dos milagres, é uma emoção agradável; dá-nos igualmente uma TENDÊNCIA perceptível PARA ACREDITAR nos acontecimentos de que procede." [grifo meu] E, em outra parte do texto, indica que "O que dissemos a propósito dos milagres pode aplicar-se sem alterações às profecias".
   

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