segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

"De Russell a Hessel"

   Calma, gente. Eu não queria escrever "De Russell a Husserl". Era isso mesmo que está no título do post. Aliás, que é igual ao que está na coluna do Cristovam Buarque, publicada em "O Globo" do dia 11 passado.
   Confesso que não conhecia o segundo nome, mas não poderia deixar de ligar o primeiro deles ao filósofo britânico Bertrand Russell - pensador bastante interessante.
   O grande incentivador da educação como "saída" do Brasil - ou "entrada" em um mundo melhor -, o senador Cristovam Buarque, fez uma comparação entre o filósofo Russell, na condição de pacifista que foi, com o diplomata Stéphane Hessel, autor do livro "Indignai-vos".
    O que os dois têm em comum? Seu ativismo político em prol dos mais fracos. 
   Segundo escreve o senador: "Além da formidável resistência dos vietcongues [na Guerra do Vietnã], foi a consciência mundial criada por Russell que despertou o mundo para a desumanidade daquela injusta e bárbara guerra, onde os bárbaros eram os ricos, cultos, desenvolvidos e tecnológicos americanos". Aliás, sem integrar nenhum grupo "estadunidensófobo", quero dizer que as imagens que vazaram do "campo de concentração de Guantánamo" mostram que os "bárbaros" continuam sendo os mesmos.
   Mas continuemos...
   "Bertrand Russell, Prêmio Nobel de Literatura em 1950, criou o Tribunal para Julgar os Crimes no Vietnã, e, caminhando ao lado de jovens, despertou o mundo para a tragédia vietnamita. Seu tribunal não tinha qualquer poder legal, mas uma imensa força moral capaz de encurralar os dirigentes da grande potência americana, com seus aviões e bombas, mas sem uma base ética para a guerra".
   A bem da verdade, fico na dúvida se essa "imensa força moral" de que fala Cristovam foi realmente "capaz de encurralar os dirigentes da grande potência". Se o tivesse sido, parece-me que a guerra teria vida mais curta, bem como uma relação de mortes, igualmente, mais breve.
   Mas continuemos... Buarque nos conta que Stéphane Hessel "... está despertando os jovens do mundo para indignarem-se contra outra guerra também maldita: a guerra da má economia, que destrói a natureza, provoca desemprego, desarticula os serviços públicos, condenando, sobretudo, os jovens a uma vida sem futuro...".
   Segundo Buarque: "Para se transformar no Russell dos dias atuais, Hessel precisa dar um passo adiante e convocar o mundo para criar outro tribunal. Desta vez, para julgar os crimes contra a humanidade provocados pelo modelo econômico, pelo tipo de crescimento que constrói muros, exclui multidões, apartando os que têm dos que não têm acesso aos modernos bens e serviços. Um modelo econômico que escraviza a humanidade, uma parte pela dívida contraída para poder aumentar o consumo de bens supérfluos, a outra pelo desemprego que impede de consumir até os mais essenciais bens de consumo para uma sobrevivência digna".
   O autor fecha o artigo dizendo que este "Tribunal Hessel [serviria] para julgar os crimes contra a humanidade, cometidos em nome de um crescimento econômico imoral, ineficiente e vazio existencialmente".
   Cristovam Buarque escreve - como fala, também - muito bem. Suas opiniões apaixonadas têm como fundo o espírito de um verdadeiro educador preocupado com as crianças de hoje, que serão os adultos, e a sociedade de amanhã. Eu confesso: sou seu fã! Entretanto, não posso deixar de me questionar o porquê desse modelo econômico, que quase recebe, no artigo, qualificações como "imoral, ineficiente e vazio existencialmente" - na verdade, esses adjetivos se referem a "um crescimento econômico" - sair-se tão bem diante de outras alternativas. E aí, logo em seguida, surge a questão de ser o modelo "imoral" ou de sermos, nós que aderimos a ele, "imorais".
   Obviamente, não quero dizer que todos somos imorais por não nos preocuparmos com aqueles que sofrem, mas quero dizer que, em certa medida, "acomodamo-nos", para dizer o menos pior, ao que nos circunda. É triste ver pessoas - E para reconhecer "pessoas" entre aqueles ossos de pé, semimortos, caminhando heroicamente, é uma dificuldade incrível -, na Etiópia, por exemplo, brigando por água distribuída pelas agências internacionais de auxílio. Mas, de um modo geral, trocamos essa preocupação quase instantaneamente quando estamos falando de nosso próximo aumento salarial.
   Não é fácil, eu sei disso. Mas não precisamos voltar nossos olhos para a Etiópia para ver fome, miséria, doenças e maus tratos a pessoas. Há, sempre, em qualquer lugar que estejamos, essas mazelas à nossa volta. E, normalmente, o que fazemos é "olhar para o outro lado".
   Será que o capitalismo é imoral, ou será que somos nós?
  

5 comentários:

mundy disse...

Bem nao vou falar de Russel e nem Hassel, isso deixo para o Amigo, mas sim do nosso citado em outro post Luiz Eduardo Soares, o artista Caetano Veloso em sua coluna do domingo 12 de fevereiro , falava da greve das Policias em Salvador e citou o sociologo umas 3 ou 4 vezes, dizendo nao entender como o modelo implantado por ele na epoca da Politica de Segurança Nacional em que o Luiz Eduardo teve forte presença, acabou nao sendo implantado e que o mesmo fora esvaziado por Jose Dirceu, bem a estes detalhes eu nao estou informado, mas o mesmo tambem no deu certo no Governo garotinho, alias o que nao é novidade algo dar errado no Governo dos Garotinhos, mas tambem nao sei o que pode dar certo vindo do LuiZ Eduardo,rsss, mas o cantor baiano, parece amar a s teorias, pois dá a entender que Salvador anda um caos e uma sujeira e que com o projeto de Luis poderia torna se melhor,queria eu achar isso do sociologo,queria eu entender Caetano como colunista politico, nao que ele esteja proibido disso, pelo contrariuo , se lhe deram espaço num jormal para escrever colunas entre uma composiçao de música, um show com a maria Guadu e a bilhonesima explicaçao do movimento Tropicalista, vejo me com a paciencia em falta, nunca me agradou o estilo musical do baiano, e tao menos me agrada este jeito colunista de ser dele, e quando leio na sua coluna a defesa do Luiz Eduardo como um grande artifice de politica de segurança, ao contrario do baiano , se Salvador que anda tao descuidada de sua aparencia e segurança na mao do Luiz estaria muito pior, alias eu nao conheço Salvador e nem tenho curiosidade para tal , para mim a imagem que sempre tive de pessoas que visitam Salvador que tirando os Soteropolitanos , que a capital baiana sempre foi um verdadeiro reino da sujeira e da falta de segurança e para mim nao vai ser um sociologo almofadinha de gabinete que possa ser soluçao para alguma coisa.

mundy disse...

Bem ainda sobre a Bahia, a Greve da Policia Baiana parece que já terminou e todo mundo sabe que paralisaçao de policia fere um monte regimentos, ordem e por aí vai, tudo isso esta explicito, mas o fato de o Governador Baiano Jaques Wagner repudiar a Greve e ameaçar é que me causa estranheza, nao que ele nao possa estar certo em lembrar que policial nao deva fazer greve , mas sim pelo fato de que como a maioria dos petistas este senhor ganhou projeçao politica justamente por viverem mais em greve do que trabalhando, alias descupe me os Petistas do blog, mas eu nunca vi um nome táo inadequado para um Partido e suas lideranças como Partido dos trabalhadores, pois trabalhar é o que menos petista , pelo menos os lidres fizeram na vida, tem um ex presidente que perdeu um dedo e nunca mais trabalhou,entao que vários setores cobrassem a volta ao trabalho dos policiais acho mais do que normal, mas para um Goveernador que fez sua carreira politica fazendo e apoiando greves ,parece ser uma contradição, vai entender nao fizeram outra coisa na vida a nao ser viver em Greve , mas agora no poder condenam a greve, ou seja o verdadeiro Nao Façam o que eu fazia, hahahahahahaahahaha.

Ricardo disse...

Querido compadre:
Inicialmente, quero dizer que terei que culpá-lo por antecipar minha leitura do livro do Luiz Eduardo Soares. O tal livro iria ficar na estante - provavelmente aquela que é fechada, destinada aos livros "Esses vão demorar" -, mas você fala tanto do sujeito - "Falem mal, mas falem de mim!" - que isso acabou me "atiçando".
Ontem, mais de dez da noite, eu li seu comentário e já me pus a folhear o livrinho. Vamos ver o que dele sai.
Quanto ao Caetano, já falamos disso certa vez, ele só faz o que o deixam fazer. Ninguém pergunta se eu quero escrever na Folha de São Paulo ou no Globo - até porque eu sei que não tenho competência para tal -, mas a ele convidam. Se querem ouvi-lo - ou lê-lo -, e ele tem suas opiniões, acho que deve registrá-las na sua coluna. Entretanto, concordo com você no que diz respeito à pouca relevância das opiniões dele. Acho que há coisa melhor para ser lida - inclusive, a Miriam Leitão e "imortal"(rsss) Merval Pereira, dos quais você não gosta.
Em relação ao Partido dos Trabalhadores, minha opinião é a de que ser oposição é bem mais fácil do que ser governo. Pena que o PSDB não o sabe ser. Hoje, vejo o quanto o PT foi importante, não exatamente por suas posições ideológicas - se é que os seus dirigentes maiores realmente têm alguma -, mas pela atuação crítica nas ações do então governo tucano. A mínima oposição - e, no caso do PT, nunca foi "mínima" - gera a necessidade de se explicar o que está sendo feito, dando transparência às ações e decisões... o que, hoje, como não há oposição, não acontece... a não ser quando a Globo "investiga" e descobre algo "esquisito".

Ricardo disse...

Xiii... faltou falar da greve da PM da Bahia.
Situação complicada opinar, em tese, sobre uma greve de policiais, principalmente militares.
Mas vamos à teoria.
Que os policiais deveriam ter um salário relativamente alto, ninguém deve discordar; afinal, arriscam suas vidas por nós.
Que todos os trabalhadores têm direito à greve, isso é fato; afinal, é um dos mecanismos reivindicatórios que melhor funciona.
Por outro lado, que militares se recusem a cumprir ordens legais, isso não é correto.
E ainda, que desordeiros invadam uma Casa Legislativa, sob o eufemismo de que apenas "ocupam" uma "Casa do Povo" - que, naquele momento, eles não são exatamente - isso não está correto.
Do ponto de vista prático, a coisa fica um tanto mais fácil, penso.
Muitos policiais se valem de sua profissão justamente para ganhar dinheiro fora da corporação. Se não tivessem porte de arma, não poderiam ser seguranças, muitas vezes, de bandidos. Mesmo que essa última parte não se refira à maioria deles, não é desconhecido dos mesmos que não podem trabalhar fora da instituição Polícia Militar, mas o fazem.
A discussão de políticas salariais é totalmente admissível, mas a percepção de que fazem mais mal do que bem à sua própria imagem, e, portanto, à adesão simpática da população às suas reivindicações, ao abandonarem o povo à própria sorte, seria algo a se pensar.
Isso, sem falar - no que torço para ser uma inverdade - em que eles mesmos promoveram atos de vandalismo na cidade, a fim de a população ficar mais suscetível à imagem da sua necessidade.
Além disso, quem faz greve se arrisca a algumas perdas. Se não fosse assim, seria fácil demais.
Por tudo o que vimos na cobertura jornalística, acho que as coisas deveriam ter sido conduzidas de outro modo pelos senhores "líderes" do movimento... não sendo necessários chegarmos à decretação da greve, e principalmente à invasão da Assembleia a aos atos de vandalismo e mortes que ocorreram.

mundy disse...

Compadre eu nao discordo do fato de se dao uma coluna para o Caetano que ele nao possa usar, é lógico que deve ter alguem , no caso muitos, pois o Globo o mantem,,mas sim ,minha critica é em cima do que de relevante este Velho Baiano do Tropicalismo que para mim é chato pacas, dizer que no Brasil falta dar uma chance maior para o Luiz Ediardo implantar suas ideias, ora bolas, o cara ja esteve em dois governos um estadual e outro Federal e nao fez nada, hahahahahahahahaha e sobre a Greve dos Policiais baianos, eu nao sou a favor e nem contra e os metods de vandalismo que atribuem que possam ter sido feitos por eles, tem que ser punidos caso sejam os autores, mas simplesmente foi uma critica velada ao modus operandi dos petistas enquanto foram oposiçao e agora como situação, simplesmente isso,no mais, acho que vou mandar meu curriculoo para um jornal, quem sabe arrumo uma vaguinh co0mo colunista, posso falar ate de Tropicalismo, hahahahahahahaahahahaha.E sobre o sociologo espere que consiga chegar ao final, que nao jogue la para o cantinho dos que se arrependeu, como eu me arrependeria , caso comprasse algo dele, nem passo perto da prateleira que tenha algo exposto dele, hahahahahaha.