sexta-feira, 22 de junho de 2012

Hannah Arendt e Martin Heidegger

   Durante algum tempo, procurei incansavelmente o livro  que trazia a correspondência entre Arendt e Heidegger, publicado, no Brasil, pela Editora Relume Dumará, em 2001. Não obtive êxito.
   O livro permaneceu esgotado durante muito tempo e, sinceramente, acabei ficando com os dois amantes afastados de minha cabeça. Na Arendt, nos últimos tempos, ainda tenho pensado mais do que em Heidegger - se é que alguém considera possível ficar muito tempo sem pensar no filósofo da Floresta Negra.
   Eis que hoje, num dos meus passeios "biblioinvestigativos", deparei-me com "os dois", a minha espera, num sebo - ou "alfarrabista", como dizem meus lusoamigos. Sem pestanejar, adquiri o exemplar. 
   Uma velha amiga, há muito sem contato comigo, certa vez comentou que eu adoraria "bisbilhotar" a vida dos dois pensadores. Aliás, parênteses aqui: é muito melhor esse tipo de "fofoca" do que a das novelas e BBBs. Fechados os parênteses, só posso dizer que ela acertou... ou, pelo menos, lidas míseras três páginas, que acertará. Rsss.
   Só para adoçar a boca dos amigos do blog, percebam como o "Lobo Mau" Martin se dirige à "Chapeuzinho Vermelho" Hannah:
   "Preciso encontrar-me ainda hoje com a senhorita, para falar ao seu coração [...] Nunca terei o direito de possuí-la, mas a senhorita pertencerá de agora em diante à minha vida e ela deve crescer junto à senhorita [...] Jamais estamos em condições de saber como nossa existência pode vir a atuar sobre os outros. No entanto, uma reflexão atenta é certamente capaz de evidenciar em que medida ela pode produzir um efeito destrutivo e tornar-se um óbice [...] estamos dispostos a guardar como um presente no ponto mais profundo de nossa intimidade o direito de nos encontrarmos e não desejamos desfigurá-lo em sua vitalidade pura através de nenhuma auto-ilusão. Não queremos nos deixar levar pela tola fantasia de uma amizade entre nossas almas - uma amizade que nunca tem lugar entre seres humanos [...] Seu M. H."
   Se o alemão não consegue me convencer completamente com sua Metafísica disfarçada de não-Metafísica, nos galanteios, ele recebe meu reconhecimento pleno.
   

2 comentários:

Claire disse...

procurei esse livro mto tempo tb.......adoro livro de cartas, bilhetes, correspondencias....

Ricardo disse...

Claire, se não me engano, já comentáramos algo sobre esse livro, e sobre você tê-lo apreciado... ou será que minha já tão falha memória anda me pregando peças?
De qualquer modo, concordo com seu gosto por livros de correspondências. Não há material melhor para procurar a "verdade" de alguém do que seus escritos particulares para alguém que ama ou respeita - ou seja, por quem nutre algum afeto. Se os "tratados" filosóficos mostram o pensamento já "pronto", o valor maior das cartas está na angústia pela construção desse pensamento.
Além disso, como eu disse, ainda nutrimos nosso lado "fofoqueiro", sabendo como grandes figuras se relacionavam no seu mundo privado.
Bom "relê-la".
Abração!