Como alguns devem se lembrar, a atleta do vôlei de praia Carol Solberg, no mês passado, após conquistar o terceiro lugar em uma competição, gritou "Fora, Bolsonaro".
O Superior Tribunal de Justiça Desportiva do Voleibol, ontem, a condenou com uma multa, convertida em advertência apenas. Segundo o entendimento do tribunal, Carol teria descumprido um determinado artigo do Regulamento do Circuito de Vôlei de Praia. Este artigo indicava, de modo resumido, que nenhum atleta pode se valer de meios de comunicação para expressar uma opinião crítica que possa vir a prejudicar a competição ou seus parceiros.
Não vou entrar no mérito do regulamento, nem mesmo da punição. Gostaria de refletir acerca de duas outras coisas: o opinar de Carol e um pedido de sua defesa, durante o julgamento.
Primeiro, em relação ao ato de emitir um juízo político, por parte da atleta.
Em princípio, sou a favor da plena liberdade de expressão. Penso que isso implique, inclusive, aceitar opiniões antidemocráticas; que defendam coisas que achamos desumanas - como o nazismo, por exemplo. Uma opinião é a externalização do que é pensado. Nesse sentido, acho que ela deve ser respeitada como um ponto de vista, entre outros tantos existentes. Respeito, contudo, não quer dizer concordância e adoção daquele ponto de vista como motivador de uma ação. Além disso, quem emite uma opinião deve assumir sua responsabilidade pelo que foi dito, incorrendo até em crime, dependendo do que for afirmado.
Mas minha concordância ampla com o ato de opinar - e, obviamente, com o responsabilizar-se pelo que foi dito - exige uma reflexão a mais: as figuras públicas precisam de um cuidado a mais quando se posicionam de forma aberta. Isso porque muitas pessoas, pela simples fama daquele que profere a opinião, aderem irrefletidamente à mesma, como se a opinião do "famoso" tivesse um peso maior do que aquela de quem estudou o assunto e contradiz o que foi afirmado. Portanto, uma manifestação pública de uma figura amplamente conhecida, mesmo que fora da sua área de atuação, tem um peso diferente da de outras pessoas - inclusive daquelas que teriam mais "confiabilidade" no assunto.
Sob essa perspectiva, acho que tanto a manifestação de Carol - fosse, também, a favor do presidente -, quanto a de juízes, atores e outros, deveria ser bem avaliada pelos seus emissores. Digo isso, principalmente, porque a reverberação dessas opiniões pode criar tantos antagonismos na sociedade, que acabam por fazer mais mal do que bem.
Quanto ao segundo ponto que levantei - aquele que diz respeito a uma solicitação específica da defesa de Carol -, gostaria de registrar que penso ser algo incoerente. Trata-se do pedido de que o julgamento não fosse político, mas exclusivamente técnico. Isso porque houve a preocupação de que a citação depreciativa ao presidente da República pudesse pesar contra a atleta - até porque uma das patrocinadoras e a própria organizadora têm a ver com o governo federal.
Dá até para entender o pedido da defesa, não fosse o caso de a origem da causa ter sido, justamente, nossa atleta ter deixado de lado exclusivamente o aspecto técnico da competição, para se imiscuir justamente no plano político.
Fica aí a reflexão, para quem quiser pensar junto comigo.
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