A minha curiosidade maior ficou por conta da escolha de Spinoza como personagem de um dos capítulos; afinal, normalmente, quem aparece é o "detestável" Leibniz, completando o racionalismo, ao lado de Descartes. Mas desta vez, não, lá estava o querido Spinoza!
O livro é bem "ágil". Os capítulos apresentam informações relativas à vida e ao pensamento de cada filósofo; uma cronologia envolvendo fatos contemporâneos ao desenrolar da vida destes; explicação de alguns termos que compõem o texto; bem como algumas idéias principais dos livros mais representantes do pensador.
Parti contente para a leitura do capítulo sobre Spinoza e, ao lado de informações que no geral valem a pena ser lidas, vejo algumas "escorregadas" que mereceriam ser corrigidas.
A primeira ocorre logo na segunda frase. Lá está "... panteísta racional que tentou construir um sistema... que explicasse Deus, a Natureza e os seres humanos, ... a partir de uma única realidade espiritual". Realidade espiritual? Isso parece mais com Hegel do que com Spinoza! Este último fala da "substância" - que inclui as dimensões material e espiritual - sem se ater exclusivamente a qualquer uma delas.
Depois, "proveu seu sustento como um humilde polidor de lentes. Seus amigos eram protestantes quase radicais". Alto lá! "Humilde polidor de lentes"? Spinoza era um mestre em lentes de precisão, utilizadas nos instrumentos científicos da época, conforme reconhece um cientista holandês famoso da época, um dos irmãos Huygens. E falar dos "colegiantes" como "protestantes quase radicais" é algo insensato. Os colegiantes formavam um grupo de estudos filosóficos marcado pelo ecletismo de seus representantes, todos interessados simplesmente em livrarem-se das amarras da superstição religiosa, sendo, por isso, melhor chamá-los de livres pensadores do que de radicais de qualquer espécie.
Alguns enganos menores continuam, como a referência à sua mudança para Leiden, em 1660, e para o "The Hague" (isso tem cara de idioma inglês... mas na Holanda?), em 1663. O correto seriam Rijnsburg (que realmente é perto de Leiden) e Voorsburg (perto de Haia). Finalmente, embora não citado, Spinoza se fixa em Haia (seria o tal "The Hague" do livro?).
Numa tentativa de aglutinar pensamentos, por conta do pequeno número de filósofos apresentados, penso, o autor comete outro engano, quando diz que "Espinosa ... afirmou que o mundo é o melhor de todos os mundos possíveis". Que isso? Isso é idéia do Leibniz (arght!), não do meu querido Spinoza! Aliás, do Dr. Pangloss, como conta Voltaire.
Engano menor, mas que normalmente aparece nas descrições de sua vida, é a morte aos 45 anos. Ora, se o homem nasce em novembro de 1632 e morre em fevereiro de 1677, parece-me que só chega aos 44. Aliás, espero que eu não escolha justamente esse ponto para me parecer com o "mestre"; visto que em 2009 já cumpro meus 44 anos de existência. Rsss.
De forma geral, entretanto, o livro é bom, valendo a pena a leitura, pela apresentação de pensamentos bastante representativos da Filosofia como um todo, em pouco mais de 180 páginas.