sexta-feira, 21 de maio de 2010

Mais livros (2)

  Outro livro adquirido recentemente por mim - apesar de também não se tratar de um lançamento - foi "Confissões de um Filósofo", de Bryan Magee, publicado pela Martins Fontes.
  Eu já havia me deparado com esse livro outras vezes, mas nunca pensei em ler sobre a vida de um filósofo que é mais divulgador do que produtor autônomo de pensamento.
  É bem verdade que ser um divulgador da Filosofia do nível dele, não é para qualquer um.
  Eu tinha apenas dois livros escritos por Magee. Um deles é "História da Filosofia", publicado pela Loyola, o outro é "Os grandes filósofos", da portuguesa Editorial Presença.
  O primeiro é uma edição muito bem cuidada, ideal para quem nunca teve contato com a Filosofia. As ilustrações são muito bonitas, os textos são curtos e bem trabalhados, permitindo um acesso "confortável" à História da Filosofia e a seus diversos representantes.
  O segundo é mais profundo que o primeiro, mas ainda não tem o caráter de texto filosófico por excelência. Ele serve bem a pessoas realmente interessadas, que já possuam alguma leitura da área, e que queiram "passear" por alguns filósofos, através, já, de alguns conceitos específicos. A grande virtude do livro - penso - é ser escrito em forma de diálogos - não do tipo platônico, "arquitetados" para conduzir o leitor a determinadas conclusões -, que são desenvolvidos a partir de programas televisivos da BBC, do ano de 1987, expondo características gerais e pontos específicos de alguns filósofos. O mais interessante, porém, é que os diálogos se dão sempre entre Magee e um especialista do filósofo em questão.
  É assim que aparecem, por exemplo, Martha Nussbaum - autora do fantástico "A fragilidade da bondade - Fortuna e Ética na Tragédia e na Filosofia Grega" -, quando o assunto é Aristóteles ; Anthony Kenny - que já apareceu aqui, tendo seu "Uma nova História da Filosofia Ocidental", sendo elogiado -, falando sobre a Filosofia Medieval; o "mercadologicamente" famoso Peter Singer, quando o assunto é Hegel e Marx; A. J. Ayer, quando se dialoga sobre Frege, Russell e a Lógica Moderna; e outros mais.
  O que me fez escrever, entretanto, sobre este livro do Magee que adquiri mais recentemente - que, infelizmente, também ficará me olhando da estante por mais algum tempo - é uma passagem que me remeteu às trocas de ideias que, por vezes, surgem aqui no blog - ai, ai, ai... eu continuo em dívida com o Existenz.
  Diz Magee: "Quando se estuda filosofia por um tempo suficiente... geralmente se consegue ver com os próprios olhos os pontos importantes na obra de alguém... Depois, pode-se prosseguir captando uma quantidade ilimitada de detalhes valiosos provenientes de fontes secundárias, mas, de longe, as percepções mais importantes ... são aquelas às quais se chega sozinho. Isso, entretanto, não ocorre nos estágios iniciais, quando ainda se está tateando: nessa fase, os outros podem indicar pontos altamente importantes que, de outro modo, não teriam sido percebidos [...] Uma parte essencial do processo para os iniciantes consiste em que suas crenças sinceras - e, muito mais importante que isso, seus pressupostos, que às vezes são inconscientes - sejam contestadas por pessoas tão inteligentes e bem informadas quanto eles próprios".
  Portanto, continuemos - como eternos iniciantes - contestando-nos, saudavelmente, uns aos outros, em busca de um necessário processo de crítica, e eventual ajustamento, de nossas próprias posições individuais.
  Ainda teremos o "Mais livros (3)", hein!



2 comentários:

Anônimo disse...

Olá Ricardo.
Não sei se irá interessar essa informação, mas você pode encontrar as conversas de Bryan Magee sobre o pensamento desses grandes filósofos no YouTube, porém não encontrei nenhuma com legendas em português (estão todas em inglês, portanto). Acho que a que mais interessaria você seria a conversa com Anthony Quinton sobre Spinoza e Leibniz. A primeira parte você pode ver no link: http://www.youtube.com/watch?v=GmbGbo-oyKc. Praticamente não as vi ainda, no máximo vi a primeira parte da conversa sobre a filosofia de Quine com... o próprio Quine!
Um abraço.

PS: Não me parece que esteja de qualquer forma “endividado” comigo. Como escrevi no final do meu último comentário a você, acho que os problemas apresentados foram mais de uma falha de comunicação do que de uma discordância de fato. De qualquer forma, saiba que escrevi o meu comentário já pensando que não haveria necessidade de continuar a discussão depois disso, só se talvez o assunto voltar espontaneamente em posts futuros seus ou se eu não consegui me fazer entender no texto (porém, se você ainda está querendo dizer mais coisas sobre o assunto não entenda isso como algum tipo de proibição, escreva o quiser se ainda achar necessário).

Ricardo disse...

Caro amigo Existenz:
Certamente interessa. Eu, certa vez, comentei sobre a impressão que me causou ver a entrevista com Hannah Arendt... apesar de eu já ter lido a mesma entrevista. A força é muito maior! Portanto, agradeço sua dica.
Em relação à dívida, que você gentilmente perdoou (rsss), gostaria de dizer que ainda tenho alguns pontos a acrescentar... apesar de reconhecer que minha ponderação foi ficando meio "inadequada" para um espaço "bloguístico", em função do tamanho. Talvez, como você disse, seja melhor o assunto ir "acontecendo" naturalmente, com a possibilidade de pequenas intervenções alternadamente.
Grande abraço