quarta-feira, 27 de junho de 2012

Notas Filosóficas de junho

   A última terça-feira do mês é dia de diversão e reflexão garantidas... com o Notas Filosóficas.
   Ontem, não foi diferente... aliás, foi sim, foi melhor do que os anteriores. Se bem que a superação dos limites de qualidade é uma marca da dupla Silvério e Faiga, os responsáveis pelo evento.
  A única nota - sem trocadilho - triste foi o problema com a divulgação do evento. Sempre recebo o folder por e-mail, o que não aconteceu desta vez. E, como no meu caso, a maioria das pessoas, senão a totalidade, não recebeu a confirmação do evento. Obviamente, não perdi tempo em confirmar, por telefone, a programação, e consegui sair mais cedo do trabalho, graças à colega Rosa, que se dispôs a me dar uma "cobertura" providencial.
   Falemos do evento, então.
  Se a Filosofia começa com o thauma, o Silvério nos fez filosofar logo quando chegamos ao evento. Afinal, segundo Faiga disse no mês passado, teríamos um "banquete" - portanto, nada mais óbvio do que pensar em Platão, em Sócrates, em Diotima, em Eros, etc. e tal - este mês, mas, quando adentramos ao recinto, eis que nos recebe nada mais, nada menos que Pitágoras. Ué???? Espanto! Portanto, começo da Filosofia.
   Eu adorei o Pink Floyd do mês passado, mas - que o Roger Waters não me escute - gostei muito mais do duo de flauta e violoncelo, Ranieri Tiago e Gabriela Sepúlveda, executando minuetos de Beethoven, Bach, Boccherini; Jesus, alegria dos homens, de Bach, e as Bachianas Brasileiras nº 5, do Villa Lobos, entre outras coisas.
   Que coisa linda! Continuamos, portanto, filosofando, "maravilhados" - ou seja, ainda sob o efeito do thauma, com a música instrumental.
   O Silvério, como sempre, conduz muito bem a aula... ou conversa, sobre o tema escolhido. Mesmo escolhendo a vertente "matemática" dos pitagóricos, que se valia mais da ideia de harmonia - ponte fundamental de ligação com a música do duo -, ainda teve tempo - mais um "espanto", aqui - de citar a outra vertente, dos akousmatikoi, que era mais "religiosa" que a anterior.
   Falar sobre Pitágoras é sempre difícil. As referências mais usuais são, normalmente, fantasiosas e anedotárias. Restou fazer uma ponte com Platão, embora houvesse, no roteiro distribuído, citações do grande pitagórico Filolau. O problema nessa ponte é que, se as relações matemático-musicais são tão importantes para a compreensão da realidade, Platão parece desprezar a parte musical da questão, embora obviamente não a matemática, quando expulsa os artistas de sua cidade perfeita.
   Lembrei, entretanto, do pitagórico Alcméon (ou Alkmaion) de Crotona, que, como "médico", entendia que a música tinha o poder de equilibrar os pares de opostos que formavam a alma, restituindo-lhe a saúde. Portanto, nossos queridos Ranieri e Gabriela seriam como que "médicos da alma".
   Melhor, então, ficarmos com Alcméon em vez de Platão. Afinal, uma cidade perfeita sem funk, tudo bem, mas sem música como a ouvida ontem, seria uma cidade desarmônica, e por isso imperfeita.
   Obrigado, mais uma vez, ao Silvério (nosso querido professor) e à Faiga (nossa querida organizadora).

terça-feira, 26 de junho de 2012

"Escolha ou Destino? - O determinismo na Filosofia"

   Ontem, concluí mais um curso na Casa do Saber, na Lagoa. O título do curso era o mesmo do post. Faltaria acrescentar, talvez, "... sob uma perspectiva spinozana", afinal, o curso foi ministrado pelo professor André Martins, notório especialista em Spinoza, da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
   O assunto "Escolha", em Spinoza, é "espinhoso" - com licença do trocadilho. Ao final do curso, senti que o professor André defendeu mais um ponto de vista sobre o assunto, o seu, que não me parece dos mais ortodoxos no estado atual do pensamento spinozano.
   Realmente, é difícil conciliar a falta de possibilidade de escolha com a proposta, de Spinoza, de uma "elevação" na condição existencial.
   O professor André defende que Spinoza está falando apenas de passado e presente, quando diz que tudo é necessário, mas não do futuro, para fugir de uma possível "predestinação". Eu não acho isso possível... aliás, acho que isso tira toda a força - explosiva demais - da conclusão spinozana. Afinal, pensar na necessidade do passado e do imediatamente presente, fora considerações muito específicas da temporalidade - que até poderiam caber numa perspectiva spinozana -, não me parece nada tão mirabolante.
   Eu fiz, inclusive, uma pergunta sobre uma possível chave de leitura para esse aspecto da opus majus de Spinoza, fazendo uma analogia com Hegel. Se, na Fenomenologia do Espírito, temos que fazer uma leitura percebendo que há duas instâncias cronológicas envolvidas ao mesmo tempo, a sincrônica (de uma visão totalizante) e a diacrônica (de uma visão que tem que percorrer a duração, trilhando os diversos instantes), não poderíamos fazer uma analogia, pensando que a predestinação não existe para o ser humano, que tem uma percepção diacrônica da vida, mas essa mesma predestinação, enquanto percepção simultânea, portanto, sincrônica, da temporalidade inteira, seria percebida como existente sub specie aeternitatis ? 
   André acha que essa é uma leitura enganada, achando que a eternidade de Spinoza é um sair da temporalidade de forma absoluta. O problema é que, ao contrário de outras filosofias, não há um "outro lugar", senão esta Realidade em que vivemos. Se a temporalidade da duração é a que nos é dada, é "aqui mesmo" que está a da eternidade.
   Mas quem disse que Spinoza é uma leitura fácil?
   De quebra, ainda consegui mais um livro autografado para minha estante. Trata-se de Pulsão de morte? Por uma clínica psicanalítica da potência, publicado pela Editora UFRJ, em 2009.
   Obviamente, ainda não li o texto, mas percebam o que diz o comentário de Nahman Armony:
   "Estamos diante de um trabalho revolucionário, lúcido e corajoso, rico e abrangente, com características inclusive enciclopédicas, e onde afirmação, crítica e ironia se integram. Um trabalho escrito com entusiasmo e profundo conhecimento, que por vezes usa o martelo de Nietzsche para demolir alguma ideia a ser reconstruída. Uma empreitada gigantesca levada a termo com brilhantismo. Novas ideias e propostas teóricas inovadoras que, projetando uma clínica psicanalítica que visa à potência de agir do analisando, são trazidas para o exame e o deleite do leitor. Uma metapsicologia renovada para novos tempos".
   É preciso dizer mais alguma coisa? Ah... em tempo, o professor André Martins também é psicanalista e trabalha, além de Spinoza, com Nietzsche.

Consequências da crise na Grécia

   Eu não sou especialista em Filosofia Antiga. Mas não dá para fugir de um contato mais íntimo com os gregos, no que diz respeito à Filosofia... e mesmo à cultura ocidental, de um modo geral.
   A Mitologia Grega (com suas "adaptações" romanas), por exemplo, é uma boa saída para mostrar às nossas crianças o relativismo religioso, e as diversas possibilidades de escolha de Cosmogonias vigentes.
   Quem está lendo o post até aqui não está entendendo o que a crise econômica grega atual tem a ver com o que está escrito. Pois bem, na verdade, o post é uma brincadeira enviada pelo meu compadre Paulo, que eu gostaria de compartilhar com os amigos.
   Então, lá vai:

   CONSEQUÊNCIAS DA CRISE NA GRÉCIA !!

1. Zeus vende o trono para uma multinacional coreana.
2. Aquiles vai tratar o calcanhar na saúde pública.
3. Eros e Pan inauguram prostíbulo.
4. Hércules suspende os 12 trabalhos por falta de pagamento.
5. Narciso vende espelhos para pagar a dívida do cheque especial.
6. O Minotauro puxa carroça para ganhar a vida.
7. Acrópole é vendida e aí é inaugurada uma Igreja Universal do Reino de Zeus.
8. Eurozona rejeita Medusa como negociadora grega: "Ela tem minhocas na cabeça!".
9. Sócrates inaugura Cicuta's Bar para ganhar uns trocados.
10. Dionisio vende vinhos à beira da estrada de Marathónas.
11. Hermes entrega currículo para trabalhar nos correios. Especialidade: entrega rápida.
12. Afrodite aceita posar para a Playboy.
13. Sem dinheiro para pagar os salários, Zeus libera as ninfas para trabalharem na Eurozona.
14. Ilha de Lesbos abre resort hétero.
15. Para economizar energia, Diógenes apaga a lanterna.
16. Oráculo de Delfos vaza números do orçamento e provoca pânico nas Bolsas.
17. Áries, deus da guerra, é pego em flagrante desviando armamento para a guerrilha síria.
18. A caverna de Platão abriga milhares de sem-teto.
19. Descoberto o porquê da crise: os economistas estão falando grego!
   Eu ri muito, lendo o e-mail.  


sexta-feira, 22 de junho de 2012

Hannah Arendt e Martin Heidegger

   Durante algum tempo, procurei incansavelmente o livro  que trazia a correspondência entre Arendt e Heidegger, publicado, no Brasil, pela Editora Relume Dumará, em 2001. Não obtive êxito.
   O livro permaneceu esgotado durante muito tempo e, sinceramente, acabei ficando com os dois amantes afastados de minha cabeça. Na Arendt, nos últimos tempos, ainda tenho pensado mais do que em Heidegger - se é que alguém considera possível ficar muito tempo sem pensar no filósofo da Floresta Negra.
   Eis que hoje, num dos meus passeios "biblioinvestigativos", deparei-me com "os dois", a minha espera, num sebo - ou "alfarrabista", como dizem meus lusoamigos. Sem pestanejar, adquiri o exemplar. 
   Uma velha amiga, há muito sem contato comigo, certa vez comentou que eu adoraria "bisbilhotar" a vida dos dois pensadores. Aliás, parênteses aqui: é muito melhor esse tipo de "fofoca" do que a das novelas e BBBs. Fechados os parênteses, só posso dizer que ela acertou... ou, pelo menos, lidas míseras três páginas, que acertará. Rsss.
   Só para adoçar a boca dos amigos do blog, percebam como o "Lobo Mau" Martin se dirige à "Chapeuzinho Vermelho" Hannah:
   "Preciso encontrar-me ainda hoje com a senhorita, para falar ao seu coração [...] Nunca terei o direito de possuí-la, mas a senhorita pertencerá de agora em diante à minha vida e ela deve crescer junto à senhorita [...] Jamais estamos em condições de saber como nossa existência pode vir a atuar sobre os outros. No entanto, uma reflexão atenta é certamente capaz de evidenciar em que medida ela pode produzir um efeito destrutivo e tornar-se um óbice [...] estamos dispostos a guardar como um presente no ponto mais profundo de nossa intimidade o direito de nos encontrarmos e não desejamos desfigurá-lo em sua vitalidade pura através de nenhuma auto-ilusão. Não queremos nos deixar levar pela tola fantasia de uma amizade entre nossas almas - uma amizade que nunca tem lugar entre seres humanos [...] Seu M. H."
   Se o alemão não consegue me convencer completamente com sua Metafísica disfarçada de não-Metafísica, nos galanteios, ele recebe meu reconhecimento pleno.
   

Adam Ferguson (2)

   Certamente não terei o tempo suficiente para pesquisar esse pensador que parece bastante interessante. Entretanto, é difícil contentar-me, como alguém que lida com trabalhos filosóficos, em fazer uma citação sem precisar a origem da mesma. Foi o que aconteceu no caso da citação atribuída ao Sr. Ferguson, em post anterior.
   Não que a pesquisa tenha sido tão exaustiva - e, justamente por esse motivo, alcançou apenas resultados parciais, afinal, ainda não tenho a obra da qual a citação foi retirada. Mas... pelo menos, já consegui contextualizá-la melhor.
   Aqui está a passagem completa - incluindo o trecho anteriormente citado, mas que, a bem da verdade, não diz respeito apenas à "história", e sim, de um modo geral, a todas as estruturas sociais humanas:
   "Men, in general, are sufficiently disposed to occupy themselves in forming projects and schemes: But he who would scheme and project for others, will find an opponent in every person who is disposed to scheme for himself. Like the winds that come we know not whence, and blow whithersoever they list, the forms of society are derived from an obscure and distant origin; they arise, long before the date of philosophy, from the instincts, not from the speculations of men. The crowd of mankind, are directed in their establishments and measures, by the circumstances in which they are placed; and seldom are turned from their way, to follow the plan of any single projector.

Every step and every movement of the multitude, even in what are termed enlightened ages, are made with equal blindness to the future; and nations stumble upon establishments, which are indeed the result of human action, but not the execution of any human design. If Cromwell said, That a man never mounts higher, than when he knows not whither he is going; it may with more reason be affirmed of communities, that they admit of the greatest revolutions where no change is intended, and that the most refined politicians do not always know whither they are leading the state by their projects.

If we listen to the testimony of modern history, and to that of the most authentic parts of the ancient; if we attend to the practice of nations in every quarter of the world, and in every condition, whether that of the barbarian or the polished, we shall find very little reason to retract this assertion. No constitution is formed by concert, no government is copied from a plan. The members of a small state contend for equality; the members of a greater, find themselves classed in a certain manner that lays a foundation for monarchy. They proceed from one form of government to another, by easy transitions, and frequently under old names adopt a new constitution. The seeds of every form are lodged in human nature; they spring up and ripen with the season. The prevalence of a particular species is often derived from an imperceptible ingredient mingled in the soil."


   PS. Mais um pouco de pesquisa e... Voilà!
   O trecho em questão faz parte da obra "An essay on the History of Civil Society", de 1767.  Aliás, a obra pode ser acessada através da Wikipedia em Inglês... e parece realmente bem interessante.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Erundina e o PT (2)

   Gostaria de reproduzir aqui um trecho da coluna do Veríssimo, também do jornal O Globo de hoje. Lá está escrito, sob o título de "Realpolitikagem":
   "'Realpolitik' é um termo conveniente para desculpar o baixo oportunismo, contradições ideológicas e calhordice em geral. O termo nasceu na Alemanha e tem uma longa história, sendo invocado sempre que um acordo ou arranjo político agride o bom-senso ou a moral. Há uma graduação na 'realpolitik' que vai do tolerável (uma acomodação com o vizinho do lado para assegurar a paz no prédio, mesmo tendo que aceitar o cachorro) ao indefensável (o pacto Stalin/Hitler no começo da Segunda Guerra Mundial, por exemplo). É difícil saber onde colocar o pacto Lula/Maluf nessa escala. O hipotético acordo com o vizinho é um sacrifício pelo entendimento e o Stalin estava tentando ganhar tempo até ter um exército. No acordo com o Maluf trocou-se uma história e uma coerência por um minuto e pouco a mais de espaço para o candidato  do PT na TV. Ó Lula!".

Erundina e o PT

   Estive pensando um pouco antes de postar qualquer coisa sobre o assunto "Erundina".
   Num primeiro momento, imaginei que bom era ver um político profissional se indignar com um absurdo flagrante - o Lula abraçando o Maluf. Aí, lembrei-me que absurdo já era a Sra. Erundina, que já tivera seus dissabores na década de 1990 com o PT, reunir-se novamente ao partido, lançando-se como vice na chapa do Haddad.
   Depois, lembrei-me de uma declaração da Erundina, que é do Partido Socialista Brasileiro, assim que anunciou a participação na tal chapa, dizendo algo como o Socialismo ser a solução para o Brasil. E pensei: "Ué, mas se ela pensa isso, será que a melhor opção é unir-se ao PT, para materializar esse projeto?".
   Fui refletindo mais e a estória só ia ficando mais esquisita. Por exemplo, quando a Erundina foi perguntada sobre esse apoio ao PT, apesar das rusgas passadas, ela disse "Não faço política com mágoa". Entretanto, após se despedir da chapa, disse "O tempo de TV é importante, mas não a ponto de sacrificar a imagem, a História, os princípios". Particularmente, concordo com essa última opinião... mas acho que esses "princípios" só se revelam pouco flexíveis justamente quando a "mágoa" da nossa oradora começou a transbordar.
   Muito triste isso.
   Mais triste, entretanto, é ver como a Política se apequenou com esse pessoal que anda por aí se dizendo "polités" - que eram os cidadãos preocupados com a "Politéia", seu local de viver, e com seus concidadãos.
   E essa tristeza se materializa na leitura do texto publicado em O Globo de hoje, na página 10, com o título "É preciso jogar o jogo que existe". Lá está escrito:
   "O coordenador da campanha do petista Fernando Haddad, Antonio Donato, admitiu ontem que a união com o PP de Paulo Maluf é polêmica.
   - Aparentemente, é uma contradição, não vou negar. As histórias são diferentes. Mas isso já ocorreu em todos os estados e em todas as eleições por causa do sistema eleitoral.
    Donato disse  que, na lógica da realidade política, o acordo é justificável:
   - Não posso resolver as contradições do sistema político brasileiro fazendo de conta que estou em outro mundo. Quem está no jogo precisa jogar o jogo que existe.
   O coordenador da campanha do PT rebateu o fato de a deputada Luíza Erundina (PSB) ter se incomodado mais com a foto de Lula, Haddad e Maluf juntos, do que com a aliança com o PP.
   - Existem a forma e o conteúdo. Ela reclama da forma. Acho que a gente tem que ver o conteúdo, o que significa ter uma força política que apoia o governo Dilma, que tem um tempo expressivo de TV e medir prós e contras".
   A única coisa eticamente razoável que o Sr. Antonio Donato disse foi que a ex-candidata a vice se preocupou mais com a foto do que com a própria união ao Partido Progressista.
   No resto, ele admitiu claramente que "Vale tudo!" para manter-se no poder.
   

Somos 74 ?!?!

   Dependendo do navegador que utilizo, o "cantinho" em que aparecem os ícones referentes aos amigos do blog não aparecem. Por esse motivo, aliado a uma certa desatenção e correria, nem sempre percebo que temos novos companheiros no blog. 
   Isso foi justamente o que aconteceu por esses dias. E, de repente (?!?!), me vi acompanhado de mais dois "amigos dos amigos" de Spinoza. Somos, portanto, agora, 74.
   Aos dois novos companheiros de reflexões quero dar as boas vindas. Mariele Rocha e Paulo Amaral, sintam-se completamente à vontade para participar dos temas abordados nos posts, e mesmo - como eu digo a todos que aqui chegam - para iniciar novas questões.
   Agradeço-lhes a visita e a companhia, esperando que possam se interessar em participar e contribuir com este espaço que é de todos os amigos dos "amigos de Spinoza".
   Grande abraço e, novamente, sejam bem vindos.
   

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Adam Ferguson

   Adam Ferguson (1723-1816) foi um historiador e filósofo escocês.
   Para dizer a verdade, sei pouquíssimo dele. Mas, como mais um daqueles sujeitos especiais que participaram do Iluminismo escocês, ele deve ser muito bom... Prometo referências mais completas, em breve.
   Desta vez, entretanto, só quero registrar uma frase dele que achei interessante: 
   "A história é produto das nossas ações, mas não da nossa vontade".

terça-feira, 19 de junho de 2012

Spinoza pode nos salvar?(2)

   Acho que devia uma resposta ao amigo Marcelo, e que o melhor lugar para escrever seria num post, e não num comentário. Aliás, para quem é mais recente no blog, esta é uma prática recorrente por aqui: quando julgo - com todas as possíveis falhas deste que emite o juízo - que o comentário merece relevância em relação ao post original, faço questão de transpô-lo para um novo post, a fim de que a leitura dos outros amigos fique facilitada.
   Esse é o caso do comentário do Marcelo... penso eu.
   Lendo o post original, Marcelo [nos] perguntou: "Mas o que, afinal, é a Salvação?", e completou "Esperança religiosa da alguma remissão pós morte? Esperança política de uma reorientação social?".
   As perguntas são ótimas, segundo minha humilde perspectiva.
   Entretanto, segundo a perspectiva spinozana - pelo menos a que consta no livro que deu origem ao post -, acho que as perguntas só poderiam ser respondidas com "NÃO".
   Minha competência poética não é suficiente para igualar àquela do nosso amigo. Consciente disso, minha resposta será, portanto, mais "simplória".
   A "salvação", em Spinoza, não poderia ser "transcendental" - afinal, tudo, para ele, é imanente. Dito isto, só nos restaria uma "salvação" na vida, e não "pós-morte". Pelo menos, não se o "pós-morte" for algo que transcende a esta "Natureza" que nos é dada... e vivida.
   Quanto à nova orientação social, acho que, em Spinoza, ela pode vir a depender da nossa "salvação", sim, mas não acho que a nossa "salvação" se resuma a ela. E, lembremos, apartando Filosofia de Sociologia - o que nem sempre é bom - que, aqui, falo do homem "fazendo" a sociedade, muito mais do que a sociedade fazendo o homem.
   Se o título do post foi enganoso - e nisso me desculpo com meu amigo Marcelo -, penso que seu conteúdo foi um pouco mais específico. A "salvação" proposta é muito mais pragmática do que teórica... é muito mais "para agora" do que "para o futuro" (distante  ou, pior, eterno).
   Tornando a coisa mais clara, eu começaria por relembrar que o título original da obra é "Spinoza pode nos salvar a vida" - e não o "pós-vida", ou a "vida pós-morte".
   Acho que a Introdução já nos dá uma pista interessante do que se trata, no livro, de explicar. Ansay, aí, escreve que [numa tradução livre]: "Se fosse necessário resumir sua [de Spinoza] obra em uma só frase, ele nos diria: 'Aprenda a nadar'. Aprenda a nadar, pois sua vida é vivida nas ondas; sua vida é nadar no mar e, sem cessar, você é sacudido, esbofeteado, espancado por estes fluxos que o superam e que arriscam de o afundar, se você não prestar atenção e se você não compreender, por todos os meios, o modo deste combate".
   Se essa imagem do mar que nos sacode é boa, falta especificar que mar é esse. Isso, Ansay faz mais adiante, dizendo que esse  é o "mar dos afetos". E é aqui que está a grande "sacada" do autor: vivemos sendo constantemente - consciente ou inconscientemente - deslocados de nosso centro de neutralidade "racional" - que nos orgulha tanto, a nós "seres humanos", tão pouco "animais".
   Agora, sim, podemos novamente colocar que "Spinoza pode nos salvar a vida", ensinando-nos a não sossobrar nesse "mar de afetos".
   Nesse sentido é que me parece que, ao homem, não cabe simplesmente a "salvação" do lago pós-pedra, da mesma forma que, ao lago "pré-pedra", na perspectiva humana, acabaria por faltar algo.
   Eu diria que, ao homem, não basta a tranquilidade, para ser feliz, o almejado é a perfeição... como o é para todos os seres. Se, para alguns, a perfeição é a tranquilidade... ataraxia neles! Mas, talvez, não seja só isso o que basta ao homem.

I Colóquio sobre Ceticismo

   Para comemorar os dez anos do Laboratório de Estudos Hum(e)anos, foi promovido o evento I Colóquio sobre Ceticismo, na Uff, nos dias 13 e 14 de junho passados.
   Eu, para minha sorte, faço parte do Grupo de Estudos dos professores Cesar Kiraly e Rodrigo Brito. Os dois, apesar de jovens, são espantosamente competentes. Com o professor Rodrigo, tenho mais contato... e percebo o seu "espírito cético" descortinando os mistérios de todos aqueles textos clássicos. Com parênteses, aqui, para o fato de que ele usa o texto em Inglês e dá aquela conferida no original em Grego. Ah... meu Grego I não é suficiente para isso. Rsss.
   Mas... voltando ao Colóquio.
 A abertura foi feita por ninguém menos que DANILO MARCONDES - esse tem que ser todo em maiúsculas mesmo, já que ele é "O cara".
   Outro "monstro sagrado" é o professor Renato Lessa. Este abriu o segundo dia, com a "inesperada" comunicação "O absoluto da preguiça".
   Aliás, esses dois protagonizaram uma cena muito engraçada. Depois do professor Danilo apresentar sua comunicação sobre a história do "Argumento do Conhecimento do Criador", o professor Renato Lessa afirmou que Danilo era tão bom que conseguia "inventar" um argumento e "embuti-lo" nas doutrinas de diversos pensadores - sem que eles mesmos o tivessem utilizado -, construindo uma história do mesmo.
   Só mesmo duas "feras" para dialogar nesse nível.
   Por questões pessoais, gostei muito da comunicação do professor Gustavo Bernardo, da Uerj, "O Deus da ficção e a ficção de Deus". Esse, aliás, fez um comentário bem interessante, quando, afirmando-se ateu, disse que, bem ao encontro da ideia central do colóquio, se esforçava para ser um cético, apesar de, até aquele momento, só ter conseguido ser um "dogmático negativo", enquanto ateu que era.
   A comunicação mais "apaixonante" foi proferida pela "doce" professora Lívia Guimarães, da UFMG, sobre "A morte filosófica de Hume". O texto foi extremamente poético... embora, particularmente, eu discorde da ausência de angústia na morte de Hume por questões filosóficas... afinal, era ele mesmo que se dizia "desorientado" com suas proposições filosóficas, feitas no interior de seu escritório, considerando que a "cura" para essa confusão vinha do seu contato com a "realidade" empírica.
   Durante a comunicação, nosso querido Sócrates foi citado como alguém que teve uma "boa morte filosófica". Entretanto, quem se debruça, por exemplo, sobre o Fédon, sabe que, na verdade, o "moscardo de Atenas" não se preocupava com a separação entre corpo e alma justamente porque desprezava a vida corpórea. Portanto, não há mérito nessa atitude, visto que a morte representava a cura de uma "doença", e não o enfrentamento de uma situação desafiadora, onde se necessita da virtude da andréia, ou seja, da "coragem"... à la Estoicismo.
   Eu só tenho a agradecer ao professor Rodrigo Brito a oportunidade de participar desse "Circo de Feras"... ainda que a distância... para não ser "abocanhado" e "engolido" por nenhum desses "amigos [mais próximos] de Spinoza".

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Mythós e Lógos (2)

   Aliás, em relação ao post anterior, Kierkegaard, em seu O conceito de ironia, comentando justamente os mitos platônicos, diz: "o mítico é o entusiasmo da fantasia ao serviço da especulação".
   Portanto, não se trata de "mito" OU "logos", mas de "mito" E "logos".

Mythós e Lógos

   Os manuais insistem em afirmar que a Filosofia é o momento, na longínqua Grécia, em que o Lógos "derrota" o Mythós. Lemos isso, damo-nos por satisfeitos, e repetimos para nossos queridos neófitos em Filosofia.
   Nem precisamos ir tão longe em nossos estudos para perceber que a coisa não é bem assim... ou não é nada assim. Logo depois que ultrapassamos a barreira dos pré-socráticos, e vamos ler o Sócrates platônico mais tardio - pós-aporias - deparamo-nos com o "criador de mitos", Platão, usando-os "a torto e a direito".
   Estou lendo um ótimo livro, chamado Platão e a imortalidade: mito e argumentação no Fédon, de Rubens Garcia Nunes Sobrinho, publicado pela Editora Edufu, em 2007. O autor mostra, apoiado em outras feras do Platonismo, a relação de Platão com os mitos, e conceitua maravilhosamente o "Mito Filosófico", apartando-o do mito comum. E é justamente do "mito filosófico" que Platão se vale para reforçar sua teia de argumentos.
   Percebida essa sutileza, não é que até fiz algumas concessões ao estilo de Nietzsche?

Nós, os labirintos

   Sempre digo que Nietzsche tinha intuições "poderosas". Minha diferença com ele diz respeito aos argumentos para formalizar conceitualmente essas intuições. É bem verdade que, para ele, essa "formalização" era pouco importante. Mas... se o "bigodudo" era filósofo, acho que isso fazia parte de suas "tarefas".
   De qualquer forma, registro aqui mais um de suas intuições fantásticas:
   "Se quiséssemos e ousássemos uma arquitetura conforme a natureza de nossa alma (somos covardes demais para isso!), então, nosso modelo seria o labirinto" (Nietzsche, Aurora)
   

sábado, 9 de junho de 2012

Ditadura e tirania - males menores?

   A fantástica Hannah Arendt (1906-1975) entendia que o totalitarismo não poderia ser comparado a outras formas de dominação, como a ditadura ou a tirania. A questão não dizia respeito apenas ao grau de violência envolvido em cada um desses tipos de dominação, mas principalmente em que o totalitarismo se valia, para eliminar a liberdade, submetendo a população aos seus imperativos ideológicos, de um aparato "legal" - obviamente, estabelecido por ele mesmo. Além disso, consideravam que essa legislação positiva era manifestação de uma lei natural - de evolução e depuração da raça, no caso do nazismo, e de progresso e supressão das classes sociais, no caso do stalinismo.
  Sendo pior que os demais tipos de dominação, seria de se esperar que todas as atenções humanas se voltassem para evitar, novamente, esse tipo de evento no mundo em que vivemos.
   Parece que, em certa medida, desde quando Arendt registrou os principais mecanismos desse fenômeno - o totalitarismo -, ele deixou de se "manifestar". 
   Mas isso é suficiente? Penso que não. Se o ser humano não se mostra um ente bestial por completo ao não reincidir nessa forma de dominação, as outras - teoricamente, menos graves - também deixam um rastro de dor por onde passam.
   Queria reproduzir um artigo publicado no jornal O Globo de hoje que trata do governo da Síria. Sua leitura provoca uma certa angústia - pelo menos, foi assim que o recebi -, em função da percepção de quão difícil é eliminar algo que tem como principal característica a violência brutal e inexplicável.
   O texto é do escritor, e Prêmio Nobel da Paz, Eli Wiesel, e tem como título "Bashar al-Assad, de Damasco ao Tribunal de Haia".
   "A História da Síria é, agora, tanto uma tragédia como um escândalo. Dia após dia, sua política e seu Exército humilham, aterrorizam e matam hordas de cidadãos. Velhos e jovens, instruídos e ignorantes, ricos e pobres: todos viraram alvos. Em apenas um dia, duas semanas atrás, jovens foram chacinados um a um - com tiros na cabeça.
   E o chamado mundo civilizado não está sequer tentando impedir o massacre. Seus líderes emitem comunicados, mas o banho de sangue continua. Uma situação que se arrasta por 13 estranhos meses e que não está perto do fim.
   Quando questionados, nossos líderes simplesmente dão de ombros: 'O que neste mundo pode ser vislumbrado quando um líder pseudodemocraticamente eleito prende, atormenta, tortura, desfigura e mata sem parar, em larga escala, centenas de seus cidadãos? O que poderia detê-lo?'
   Intervenção militar? Não. Por que não? Porque os americanos estão cansados de bancar guerras distantes. Porque as famílias americanas perderam muitos filhos e filhas em conflitos longínguos. as famílias sírias devem sofrer por conta da ajuda que demos a outros? Pelos sacrifícios que já fizemos?
   Resoluções da ONU? Rússia e China vergonhosamente transformam-nas em inúteis.
   Sanções econômicas? De alguma maneira, o presidente Bashar al-Assad não tem medo delas. Expulsões diplomáticas? Produzem manchetes nos jornais, nada mais.
   Que manobra estratégica, então, é operacionalmente recomendada, capaz de trazer possíveis resultados políticos?
   Não estou seguro de que a assistência armada seja a única solução. Sanções econômicas se provaram relativamente fúteis em outros locais. Mas por que não imaginar uma outra opção, capaz de produzir um efeito dramático?
   Por que não advertir Assad de que, se não interromper a política assassina na qual está engajado, será preso e levado ao Tribunal Penal Internacional, em Haia, e indiciado por crimes contra a Humanidade?
   Tal acusação teria aspectos de desencorajamento. Ele perderia qualquer apoio, qualquer simpatia no mundo em geral. Nenhuma pessoa honrada sairia em sua defesa. Nenhuma nação lhe ofereceria abrigo. Nenhum documento com limitações se aplicaria a seu caso.
   Se e quando perceber que, como o ditador egípcio Hosni Mubarak, vai terminar em desgraça, trancado numa cela de cadeia, ele poderia pôr fim à luta criminosa e sem sentido pela sua sobrevivência.
   Por que não tentar?"
   E minha angústia não termina após a sugestão do autor, visto que eu não tenho a mínima esperança de que a proposta seja suficiente para paralisar Bashar al-Assad.


domingo, 3 de junho de 2012

Spinoza pode nos salvar?

   O título do post é meio problemático. Será que Spinoza pretendeu, em algum momento de sua vida, "salvar" alguém? De qualquer forma, não se pode negar que, em certa medida, a liberdade que nos propõe possível de se alcançar, implica, na doutrina spinozana, uma forma de salvar-nos de nossa "servidão".
   Mas o post tem esse título por conta do último livro que adquiri, que se chama "spinoza peut nous sauver la vie - Traité de philosophie pratique", de Pierre Ansay, publicado pelas Editions Couleur.
   Apesar de ainda não ter lido o livro, e de desconfiar muito das formas - e "fórmulas" ou "receitas" - muito "diretas" de aplicação da Filosofia à vida quotidiana, uma olhadela rápida revela que o livro parece ser bem interessante. Ele apresenta pequenas passagens da Ética, para depois expor "dicas" de boas atitudes para se tomar na vida.
   Depois, escrevo um pouco mais sobre o livro.