A última terça-feira do mês é dia de diversão e reflexão garantidas... com o Notas Filosóficas.
Ontem, não foi diferente... aliás, foi sim, foi melhor do que os anteriores. Se bem que a superação dos limites de qualidade é uma marca da dupla Silvério e Faiga, os responsáveis pelo evento.
A única nota - sem trocadilho - triste foi o problema com a divulgação do evento. Sempre recebo o folder por e-mail, o que não aconteceu desta vez. E, como no meu caso, a maioria das pessoas, senão a totalidade, não recebeu a confirmação do evento. Obviamente, não perdi tempo em confirmar, por telefone, a programação, e consegui sair mais cedo do trabalho, graças à colega Rosa, que se dispôs a me dar uma "cobertura" providencial.
Falemos do evento, então.
Se a Filosofia começa com o thauma, o Silvério nos fez filosofar logo quando chegamos ao evento. Afinal, segundo Faiga disse no mês passado, teríamos um "banquete" - portanto, nada mais óbvio do que pensar em Platão, em Sócrates, em Diotima, em Eros, etc. e tal - este mês, mas, quando adentramos ao recinto, eis que nos recebe nada mais, nada menos que Pitágoras. Ué???? Espanto! Portanto, começo da Filosofia.
Eu adorei o Pink Floyd do mês passado, mas - que o Roger Waters não me escute - gostei muito mais do duo de flauta e violoncelo, Ranieri Tiago e Gabriela Sepúlveda, executando minuetos de Beethoven, Bach, Boccherini; Jesus, alegria dos homens, de Bach, e as Bachianas Brasileiras nº 5, do Villa Lobos, entre outras coisas.
Que coisa linda! Continuamos, portanto, filosofando, "maravilhados" - ou seja, ainda sob o efeito do thauma, com a música instrumental.
O Silvério, como sempre, conduz muito bem a aula... ou conversa, sobre o tema escolhido. Mesmo escolhendo a vertente "matemática" dos pitagóricos, que se valia mais da ideia de harmonia - ponte fundamental de ligação com a música do duo -, ainda teve tempo - mais um "espanto", aqui - de citar a outra vertente, dos akousmatikoi, que era mais "religiosa" que a anterior.
Falar sobre Pitágoras é sempre difícil. As referências mais usuais são, normalmente, fantasiosas e anedotárias. Restou fazer uma ponte com Platão, embora houvesse, no roteiro distribuído, citações do grande pitagórico Filolau. O problema nessa ponte é que, se as relações matemático-musicais são tão importantes para a compreensão da realidade, Platão parece desprezar a parte musical da questão, embora obviamente não a matemática, quando expulsa os artistas de sua cidade perfeita.
Lembrei, entretanto, do pitagórico Alcméon (ou Alkmaion) de Crotona, que, como "médico", entendia que a música tinha o poder de equilibrar os pares de opostos que formavam a alma, restituindo-lhe a saúde. Portanto, nossos queridos Ranieri e Gabriela seriam como que "médicos da alma".
Melhor, então, ficarmos com Alcméon em vez de Platão. Afinal, uma cidade perfeita sem funk, tudo bem, mas sem música como a ouvida ontem, seria uma cidade desarmônica, e por isso imperfeita.
Obrigado, mais uma vez, ao Silvério (nosso querido professor) e à Faiga (nossa querida organizadora).