terça-feira, 31 de março de 2015

Tratado da Natureza Humana


   Como sabemos, David Hume escreveu esta obra enorme com apenas 27 anos. Apesar de ser um clássico, nunca o li de modo organizado. Até então, somente visitei o livro, aqui e acolá, para reforçar uma interpretação. Agora, pelo contrário, estou fazendo uma leitura com método, fruto de um curso que estou frequentando do prof. Vladimir Vieira, na UFF.
   A primeira coisa que me chamou atenção, na tradução de Denise Danowski, publicada pela Unesp, foi o comentário da tradutora de que Hume raramente é muito rigoroso quanto aos termos que emprega. Ela dá exemplos do que diz. Mas, na verdade, eu tive oportunidade de perceber algumas outras "imprecisões", digamos assim. 
   O exemplo do tom de azul que nunca foi percebido, ou seja, do qual nunca tivemos uma impressão produzida na mente advinda dos sentidos é um desses casos. É certo que Hume já tinha dito que a diferença entre impressões e ideias consiste nos "graus de força e vividez". Segundo o filósofo, o tom de azul "faltante" numa paleta de cores é "apreendido", formando-se a ideia da mesma, mesmo sem que tenha havido a impressão correspondente. Contudo, se não há possibilidade de confrontar as duas intensidades de vivacidade deste tom de azul, não há como dizer que aquilo que se formou foi uma ideia, e não uma impressão. Além disso, embora Hume tenha falado sobre a diferença entre os dois entes mentais - impressão e ideia - ser exclusivamente este grau de força e vividez, logo no começo do texto, o escocês registra que "sob este termo [impressão] incluo todas as nossas sensações, paixões e emoções, em sua primeira aparição à alma" (Grifo nosso). Ou seja, o tal tom de azul que aparece pela primeira vez na alma, poderia ser dita, sim, uma "impressão", e não uma "ideia". 

domingo, 29 de março de 2015

Julian Baggini


   Acho que vale a pena dar uma olhada no site de Julian Baggini, o Microphilosophy, no endereço http://www.microphilosophy.net/

Ethics - The Big Questions


   O título do post é o mesmo de um livro de Julian Baggini.
   Eu não conhecia o autor. Conforme diz, apesar de ser chamado de filósofo, ele tem escrito mais sobre Filosofia do que efetivamente feito esta. Mas, a bem da verdade, ser um filósofo, no estrito sentido do termo, isto é, produzir uma doutrina que dê conta de explicar o mundo, em suas diversas manifestações, é algo bastante improvável. O que mais vemos sair dos bancos das faculdades de Filosofia são grandes comentadores das visões de mundo de alguns poucos filósofos. Eu, por exemplo, contentar-me-ia em estar neste grupo dos bons comentadores. Aliás, talvez eu até ficasse feliz de ser apenas um bom historiador da Filosofia. Afinal, ao contrário do que pensam muitos, não há História da Filosofia que não seja, ela mesma, já filosófica.
   Bem... voltemos ao Julian Baggini. 
   A contracapa do livro diz: "Julian Baggini is one of Britain's most popular writers on philosophy and bestselling author. The Financial Times has said of him that 'Every society needs its guardian of good sense: Baggini is ours'. Não é pouca coisa ser o "guardião do bom senso de uma sociedade", hein! Rsss.
    O livro faz parte da série "The Big Questions", cujo editor é ninguém menos que Simon Blackburn, professor de Filosofia da Universidade de Cambridge. A série tem títulos sobre Filosofia, Física, O Universo, Matemática, Deus, Evolução, Mente e, este do que trato, Ética.
   O título sobre o qual escrevo traz vinte capítulos, tratando de questões como "Os fins justificam os meios?", "O aborto é assassinato?", "Nós somos responsáveis por nossas ações?", "A moralidade é relativa?", entre outras.
   Dei uma olhada em alguns dos capítulos, mas só li um por inteiro, o que diz respeito às leis sobre drogas. Isto porque, alguns dias atrás, tive a oportunidade de assistir a uma argumentação sobre o tema. O texto é leve, e acho que ajuda a pensar em ética aplicada. Talvez possa servir bem para aulas referentes a este campo da Ética.
   Por útlimo, vale registrar que quem quiser pode assistir a  uma palestra de Julian Baggini. Basta acessar: http://www.ted.com/talks/julian_baggini_is_there_a_real_you 

Reforma Política (3)


   O autor Murillo de Aragão é bem realista ao dizer que "não há real interesse na aprovação imediata de alterações profundas no sistema político. As reformas vão se dar ao sabor das pressões e dos interesses em uma combinação que visará agradar à maioria no mundo político e não, necessariamente, à sociedade". Isto porque os agentes políticos que estão no cenário atual, sabem que uma mexida "dura" e séria, certamente atrapalharia o fisiologismo a que assistimos hoje.
   É curioso saber, por exemplo, que "O 'micronanico' Partido da Causa Operária (PCO), que não está entre os trinta com representação no Congresso e jamais elegeu um deputado federal, recebeu mais de 300 mil reais do Fundo Partidário em 2012!"
   Quando comenta os obstáculos à reforma política, o autor cita aquele que lhe parece o mais sério: "a população em geral não está muito interessada nos detalhes da política". 
    Especialmente neste ponto do texto, algo me chamou muita atenção: uma pesquisa do IBGE, de 2013, mostrou que "a leitura ocupa escassos 6 minutos do tempo diário das pessoas, enquanto elas assistem à televisão, em média, durante duas horas e 35 minutos! Caso se considere a relação de atividades simultâneas, o tempo dedicado à televisão chega a assombrosas quatro horas e 52 minutos!"
   Percebemos, então, que o nível de informação dos cidadãos, de um modo geral, mas principalmente destes enquanto eleitores, é muito deficiente. Desta forma se torna difícil esperar uma clareza de entendimento das propostas dos políticos - seja na eleição, seja nos possíveis itens passíveis de uma Reforma Política -, sem a qual imaginamos ser pouco provável que se gerem boas escolhas. 
   Porém, mais do que a preocupação exclusivamente com o mundo político, vemos que o país fica culturalmente prejudicado - e muito! - com uma quantidade de leitura tal ínfima. O poder de crítica certamente vai se perdendo... ou até deixando de ser construído.

quinta-feira, 26 de março de 2015

Reforma Política (2)


   Apresentada a minha defesa, a Terra parece ter voltado ao seu eixo natural. Rsss.
    Então, é hora de diversão... o que significa, também, leituras sem compromisso de utilização direta. Peguei para ler, por isso, o livro Reforma Política, sobre o qual já falei aqui.
   O texto é realmente muito bom. Vale à pena a leitura.
   Logo no início, ainda na apresentação, de autoria de William Waack, este extrai uma frase do texto original que diz: "Nosso sistema político está doente e precisa de reformas urgentes antes que nos empurre para soluções autoritárias".
   Por que destaquei essa passagem? Justamente porque já vimos aparecer, nas últimas manifestações, de 13 e 15 de março, referências elogiosas à volta da Ditadura. Isso é preocupante... mas tem explicação. O diagnóstico de que o sistema vigente é tão "doente" que não tem mais cura via "reforma", quase imediatamente nos remete à conclusão de que a doença só acabará por meio de uma intervenção mais drástica... o que pode sugerir a adoção do autoritarismo.
   Portanto, invistamos mais seriamente na "reforma". Será menos traumático.
   Depois continuo com mais citações sobre o livro.

Guerra entre "mundos"


   Sexta-feira passada, dia 20 de março, enfrentei uma situação bastante curiosa: participei de uma guerra entre "mundos". Não, não... não vi marcianos invadindo nosso poluído planeta Terra. Os "mundos" em questão eram "universos filosóficos".
   Eis que apresentava meu trabalho, construído com várias citações de comentadores anglófonos. Não foi uma opção baseada numa escolha por um modus philosophandi, mas fundamentalmente porque me parece que o tão querido Spinoza anda mais vivo pelas bandas de quem fala inglês, do que de quem fala francês.
   Há que destacar que minha formação spinozana foi construída sobre bases francesas - além da incontornável Marilena Chauí, é óbvio. Com o tempo, fui descobrindo vários importantes, e altamente qualificados, comentadores escrevendo na língua inglesa. E aí, as publicações foram sendo adquiridas naturalmente. 
   Eis que as perguntas foram surgindo. Em vez de o conteúdo ser objeto direto das questões, grande parte do que foi citado dizia respeito à opção pelos "anglo-saxões", em vez de pelos "franceses". No início, até concordei com o comentário de que deveria ter destacado essa opção anglófona. Mas, depois, fui vendo que não era uma simples questão de indicar que a opinião dos anglófonos era "mais uma", e não "a" posição correta; e sim de registrar o "erro" do "mundo inglês" e o "acerto", única e exclusivamente, do "mundo francês".
   Em suma, a crítica de um certo "dogmatismo" de minha parte - por conta, diga-se, de uma opção refletida e justificada, formulada a partir da leitura comparada dos dois "mundos" - veio carregada de um outro "dogmatismo" - este sim, irrefletido, fruto de uma leitura parcial, a partir de uma vivência que parece fechar os olhos para a existência do "outro mundo", também. 
    Como disse um amigo meu, igualmente filósofo, "Filosofia não é time de futebol!", ou seja, apesar de as possibilidades serem múltiplas, a opção por uma, desde que seja fruto de um ato consciente, onde as demais sejam analisadas, não é o mesmo que aderir "cegamente" a qualquer posição, simplesmente desconsiderando as demais como absurdas.