Tenho grande apreço por este tema, "Felicidade".
Particularmente, acho que a visão dos antigos, pelo menos a partir de Sócrates, da Filosofia como algo que se ocupa fundamentalmente do "viver bem" é insuperável. E o ápice desse entendimento - a meu ver - está em Aristóteles, particularmente, na Ética a Nicômaco.
"Ora, Ricardo, se você acha isso, por que se debruça sobre a filosofia moral de Spinoza, um moderno?", poderia perguntar alguém. E a resposta é simples: Eu acho que Spinoza, neste aspecto, não é nada moderno.
Na minha dissertação, escrevi a opinião de Foucault sobre Spinoza. Sem recorrer ao texto, registro a essência da ideia foucaultiana: Spinoza foi um dos últimos a viver uma época onde o "cuidado de si" era importante para a Filosofia.
Nisso, portanto, ele retoma um ideal que pertence à Antiguidade, visto que posteriormente a técnica não estará mais à disposição do bem viver, enquanto experiência transformadora, mas apenas em relação íntima com o desvendar do mundo.
Posso estar exagerando um pouco, mas é claro que mesmo a preocupação "prática" de Kant não é similar à de Aristóteles. Não quero dizer, necessariamente, que a de Aristóteles seja melhor - embora seja justamente o que eu acho, mas isso é questão de valoração subjetiva -, mas com certeza é diferente.
Parece-me, contudo, que a abordagem spinozana consegue ir além daquela magnífica construção ética peripatética. A meu ver, a ontologia e a psicologia spinozana são ainda mais ricas do que as aristotélicas, e acabam por fundamentar melhor o estudo da Ética.
Portanto, ao contrário de Stuart Hampshire, que, em Two theories of morality, analisa duas teorias que ele acha completamente distintas, a de Aristóteles e a de Spinoza, penso que estes dois pensadores têm éticas bastante alinhadas.
Depois escrevo mais...
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