segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Limitado

  Tenho um amigo "ambientalista" - as aspas ficam por conta de a profissão dele não dizer respeito às coisas do meio-ambiente, mas de ele gostar de se informar sobre isso. Esse meu amigo é bastante "radical" em suas opiniões pró-natureza. Lê muito sobre o tema, e sempre pretende conversar comigo sobre seus pontos de vista. 
   Como sempre faço, tento mostrar algumas coisas sob uma perspectiva diferente. Assim é que quando vejo algum "bom sinal" das coisas, uma espécie de autorrecuperação do meio-ambiente, tento falar sobre o assunto. Da mesma forma que, quando leio opiniões de cientistas renomados contrariando a propaganda do "ecologicamente correto", também levo esses pontos de vista ao amigo.
   Dia desses, tomei contato com uma coleção de livros em inglês chamada "The politically incorrect guide to...". E os temas a respeito do "politicamente incorreto" passam pelo Capitalismo, pelo Islã, pelo Darwinismo, pela Bíblia... e pelo aquecimento global e o ambientalismo. Consegui comprar, por já estarem disponíveis na Livraria Cultura aqui do Rio, três deles: Capitalismo, Islã e Aquecimento global e ambientalismo. Depois, pedi mais dois pela Amazon.com: Bíblia e Socialismo.
   Fato é que fui mostrar a ele o tal livrinho. Mal comecei a ler algumas informações da capa, onde o autor apresentava desafios ao nosso senso comum, e ele já foi logo dizendo que aquilo não era algo de valor. Concordei que pode não ser um trabalho científico, mas que pelo menos deveríamos saber quais são os argumentos e em que eles se apoiam. Dando de ombros, ele disse: "Você é muito limitado para conversar sobre isso comigo. E isso, por ser muito cartesiano". 
   Fiquei pensando: Limitado, eu sou mesmo. Aliás, não só sobre este assunto, mas sobre todas as questões. Mas quem não é? Por exemplo, mesmo que eu fosse um super-mega-hiper especialista em Spinoza, haveria argumentos que eu não enfrentara; livros que eu não lera; etc., sendo, portanto, limitado em meus conhecimentos.
   Desta forma, o "limitado" não me incomodou muito. Mas aí veio o "cartesiano". Bem... eu sou spinozano - rsss -, mas compreendi o adjetivo "cartesiano" como representando alguém que não consegue ir além do método, que não "vê além". Já estou elucubrando. Mas o fato é que aquilo era uma "denúncia" a um mau hábito meu.
   Se a questão é a do método, eu fiquei lamentando por meu amigo. Afinal, todos os cientistas que elaboram as pesquisas que validam a opinião de meu amigo têm que ser "cartesianos" - nesse sentido. Se eles concluírem suas pesquisas sem terem acolhido o método científico, simplesmente serão "gurus" - como vemos muitos por aí, em várias áreas, inclusive na ciência -, sem serem respeitados como verdadeiros cientistas.
   Depois, fiquei imaginando se meu amigo não pensava que, se há textos científicos que afirmam coisas diversas, pode haver um conflito entre as conclusões que ainda não foi ultrapassado. Essa "disputa" entre dois cientistas, não é como uma simples oposição de opiniões. Cada qual colhe seus dados; introduz os meus em seus modelos matemáticos e tira suas conclusões com suas incertezas, estatisticamente calculadas. E, mesmo ambos fazendo Ciência, ainda se veem diante de conclusões diferentes. 
   Por fim, questionei a mim mesmo: Qual a competência do meu amigo para pegar um trabalho verdadeiramente científico e criticá-lo? Como saber se a coleta de dados foi feita corretamente? Como avaliar se o modelo matemático não possui desvios na sua formulação? Como saber se o nível de incerteza não é tal que inviabiliza aquela conclusão expressa de forma tão segura? Isso, para não fazer uma pergunta mais difícil, mas que nem deveria ser uma preocupação a esta altura: O cientista está sendo honesto em suas perguntas e respostas?
   Para não discutir com meu amigo, só pensei: Somos dois limitados. Rsss. Vá lá... ele é um limitado com mais informações limitadas, já que não se abre ao outro lado da estória; e eu sou um limitado mais "circunscrito" dentro do meu rol de leituras... portanto, diria, um limitado mais limitado.
   

4 comentários:

Anibal Werneck de Freitas disse...

Todo o conhecimento de Deus está à disposição do homem. O problema está na individualidade que se restringe em limites. A cada passo, a humanidade vai ampliando o seu saber, cada pessoa dentro do espaço que lhe foi reservado. Sabemos que só em Deus se encontra a totalidade do real, portanto, nele não se encontra o limite. Deste modo, ser limitado é normal, do contrário seríamos deuses.

Ricardo disse...

Caro amigo Aníbal:
Também acho que ser humano é estar limitado em suas possibilidades de apreensão do mundo. Acho que, em certa medida, podemos dizer que a humanidade está ampliando seu saber... mas, sob alguns aspectos, como por exemplo o cuidado com a própria natureza, estamos parecendo um pouco ignorantes.
Valeu pelo comentário, amigo.

crodi disse...

Seu amigo é bem limitado, pois não conhece os "limites" de seu próprio conhecimento. Já aquele que se abre para o debate, como vc fez, expande seus limites.
um abraço



Ricardo disse...

Amigo Crodi:
Tive oportunidade de retomar a conversa com meu amigo ambientalista. Pra quê? A coisa piorou. Rsss. A agressividade foi tanta... mas eu continuei defendendo minha visão. A questão mais complexa, a meu ver, é que a argumentação era "A ciência não sabe de tudo" - com o que eu concordo -, quando eu mostrava que havia cientistas dizendo o contrário das crenças dele, e era "é óbvio que minhas observações estão corretas, tanto é que os cientistas as confirmam". Ué... mas, afinal, os cientistas são confiáveis ou não? E por que só os que defendem as observações dos ambientalistas é que estão corretos?
Mas depois eu vou comentar mais um pouco da traumática segunda conversa.
Grande abraço, amigo Crodi! Obrigado, mais uma vez, pelos comentários!