terça-feira, 29 de dezembro de 2015

"Nobreza" (2)


   Acho muito interessante quando há comentários nos posts. E, como eu sempre digo, quando o comentário é muito legal, gosto de trazê-lo para dentro de um novo post - ainda que seja indiretamente, via citações. Este é o caso do comentário feito pelo "Eduardo" no post "Nobreza", de 06 de julho de 2015.
   Vamos dar uma rápida relembrada.
   O post tratava de uma matéria da revista Veja que dizia respeito a pessoas, no Brasil, que lutam pelo reconhecimento, lá em Portugal, de seus títulos nobiliárquicos. Eu foquei especificamente um dos citados na matéria, o conde de Wilson, Eduardo Pellew Wilson. O viés de minha análise era um estranhamento quanto a algumas das opiniões de Eduardo, não exatamente pela sua condição de conde, mas muito pela de filósofo, que é sua formação acadêmica.
   Como eu indiquei, no post original, fiquei surpreso com as ideias do conde-filósofo em relação a duas questões: (1) ser nobre é algo eterno - na matéria, havia a indicação de que o nobre era da "classe média" - e (2) casar-se com alguém não-nobre seria impensável, para ele.
   Eu ressalvei que não poderia pensar como o conde de Wilson por não ser um nobre. Mas discordei das ideias do professor de Filosofia Eduardo - que, ao fim e ao cabo, são a mesma pessoa - por fundamentos exclusivamente filosóficos.
   Qual não foi minha surpresa - muito boa, aliás - quando o "Eduardo" respondeu, agora, em dezembro de 2015. Sugiro que leiam o post original e o comentário, para retomar a discussão de modo mais completo.
  Ele reforçou que o conceito de "classe média" é recente, não tendo a abrangência suficiente para lidar com categorias sociais mais antigas. Ser nobre não teria nada a ver com ser rico; portanto, não haveria nada estranho em ser nobre e de classe média.
   Além disso, explicou, ainda melhor, a questão da nobreza de sua esposa - indicando que há a possibilidade, para qualquer pessoa que se disponha a fazê-lo, de investigar os dados sobre a família dela.
   Como eu havia citado Aristóteles em minha argumentação, Eduardo indicou que o Estagirita não poderia tratar da nobreza portuguesa se espraiando pelo mundo, por simples anacronismo. Logo em seguida, diz que "A Filosofia não trata de genealogia nem de nobreza, especificamente".
   Por último, disse que "ter, enfim, uma opinião filosófica para a nobreza deve ser algo interessante", para confessar que precisaria se debruçar mais sobre a questão da Revolução Francesa, a fim de pensar sobre alguns dos artífices nobres deste evento.
   Prosseguindo com as análises.
   Inicialmente, gostaria de dizer que não há nenhum tom de desrespeito para com a nobreza brasileira. Desta feita, não haveria nem necessidade de destacar, como fez Eduardo em relação aos antepassados da sua esposa, a seriedade histórica do levantamento genealógico.
    Logo em seguida, eu gostaria de dizer que sinto um certo pudor em dialogar com o conde de Wilson, mas nenhum em tratar do assunto com meu colega filósofo, o Eduardo. Desta feita, será com este que eu vou argumentar. Lá vai...
   Acho que Eduardo está absolutamente correto em dizer que ser e ter são coisas diferentes. Daí sua opinião de que um nobre pode viver como classe média. Nossa diferença não está neste ponto. A minha questão é outra. Ao contrário dele, que pensa que ter um título de nobreza é algo eterno, a que eu fiz a referência de ser algo essencial, eu imagino que isso é apenas mais outro "rótulo".
   Não rejeito a qualidade de nobreza presente em alguém. Deste modo, penso que há realmente muitos "nobres". Aliás, há vários deles morando em favelas. A nobreza a que me refiro é a do ser humano que vive em sociedade, e não aquela que diz respeito a um título que lhe é outorgado por um determinado grupo.
   Posso até aceitar que, para aquele determinado ser humano, a nobreza pertence à sua natureza. Agora, uma coisa a respeito da qual meu colega Eduardo não vai conseguir me convencer é que essa qualidade seja hereditária. Ou seja, posso até concordar que o antepassado da esposa do conde tenha sido um homem superiormente virtuoso, e até que a própria esposa do conde é alguém muito nobre, só não acho que isso tenha vindo pela simples genealogia que os liga. 
   Platão, citado pelo Eduardo, até acreditava que cada homem tinha uma natureza que já determinava sua tendência a ser guardião ou artesão, por exemplo. Contudo, não falava disso ser "transmitido" de pai para filho. Aliás, na República, os pais nem deveriam manter seus filhos sob seus cuidados, pois as distintas naturezas iriam ser identificadas e reforçadas pelo Estado.
   Já Aristóteles, que também apareceu na estória post-comentário, trata das honrarias - entre elas, por exemplo, um título nobiliárquico - com muito rigor. Afinal, não seria isso que traria eudaimonia ao homem. E mais, como dizia Spinoza, talvez entre as três fontes imaginadas da felicidade - riquezas, honrarias e prazeres sensoriais/sensuais -, a mais frágil era justamente a que se refere às honrarias, visto que depende fundamentalmente dos outros. Riqueza, eu posso efetivamente ter; prazeres, eu posso efetivamente gozar; mas honrarias, eu só possuo diante do reconhecimento dos outros. 
   Estamos aqui naquele reino tão disputado pelos gregos antigos - lembremos Platão e os sofistas, por exemplo -, que é o das coisas kata physis e kata nomos. Ou seja, daquilo que é "por natureza" e "por convenção". A meu ver, a "nobreza", pelo menos como a vê Eduardo, pertence simplesmente ao segmento das coisas por convenção... e não daquelas por natureza.
   Concordo até que casar-se com uma mulher nobre é algo fundamental... mas não acho necessário que ela tenha nenhum título de nobreza. A minha "mulher nobre" seria nobre na sua essência de ser humano, e não pelo mero reconhecimento de que um seu antepassado foi alguém excessivamente virtuoso e que, por isso, recebeu um título de nobreza que ela "carregou" para si como algo que lhe é interno.
   Mais uma opinião: acho que os segmentos sociais são sempre definidos pelo seus limites. Por que há nobres? Porque há plebeus. Por que há burgueses? Porque há proletários. Aí, eu pergunto: Ainda há espaço para "nobres", se ninguém se preocupa mais com a segmentação dos "plebeus"? Particularmente, penso que não. Por isso é que, com uma certa mercantilização do esforço humano, acho que as "classes" - outra segmentação por convenção - corresponde melhor ao que vivemos hoje. Mas, obviamente, há outras categorias possíveis de serem estabelecidas como, por exemplo, as surgidas de uma divisão das regiões da experiência religiosa, submetidas às diversas religiões oficiais.
   Por último, eu diria que a Filosofia já refletiu, em alguma medida, sobre a nobreza, sim. A ética e a política de Aristóteles pensam no assunto, ainda que obviamente não considerando o par "nobre-plebeu". Mas ao falar do poder na mão dos aristoi em oposição ao poder na mão do demo, o "povão", nos dá alguma medida dessa discussão.
  Por enquanto, é só. E muito obrigado ao colega Eduardo e ao conde de Wilson.

9 comentários:

Eduardo disse...

Já escrevera uma resposta comentando seu texto; mas, comi escrevi muito, impediram meu texto de ser publicado. Portanto, vou escrever em pedaços meu texto.
Eu nunca afirmei que um nobre pode viver na classe média e que nenhum fator há que o impeça de tal viver. Quem introduziu o conceito de classe média foi a jornalista, certamente para dar um efeito dramático à reportagem. Eu si.pledmente sou nobre e se me perguntarem como me sítio na sociedade, irei responder que pertenço à nobreza. Eu não acredito no conceito de classe média, que é usado para quem não se situa em ordem alguma social. Nesse particular, o francês classifica AA pessoas por pequena burguesia, alta burguesia e, Menis frequentemente, pela nobreza, porque é uma ordem social pequena. Na França, onde a saúde e a educação são, em geral, de excelente qualidade, burgueses e nobres estudam nas escolas públicas.
Quando afirmei a respeito da nobreza da minha mulher, referi-me à quedtaot técnica. Ser nobre é ter antepassados nobres. Já no dia-a-dia, minha mulher e eu nos tratamos como marido e mulher, discutimos o absurdo no valor dos planos médicos, comrntamos como o Brasil se está esfacelando nas garras gananciosas do PT, ficamos horrorizados com a penada da presidente simplesmente isentando o BNDES de crimes ambientais, assim como estarrecidos com o faro de que há, em cada andar do prédio do BNDES um militante do PT. Para que mesmo?
Agora, o casamento entre nobres significa um somatório de ascendências, o que vai fortalecer a nobreza das gerações vindouras, que são sempre mais nobres que seus antepassados, claro. E foi o que fiz. Meus filhos descendem do médico dos i.operadores do brasil pela maew, e, pela minha parte, descendem do médico de Catarina de Médicis, de Carlos IX de França, de Henry II e do Duque de Aumale. Era o ilustre Jean Mazille, meu deci.o-segyndo avô, doutor em medicina pela universidade de Montpellier, filho de um barbeiro-cirurgião enobrecido um pouco por Catarina de Médicos, e neto de um barbeiro, quer dizer, de um trabalhador mecânico em 1480.

Eduardo disse...

Já escrevera uma resposta comentando seu texto; mas, comi escrevi muito, impediram meu texto de ser publicado. Portanto, vou escrever em pedaços meu texto.
Eu nunca afirmei que um nobre pode viver na classe média e que nenhum fator há que o impeça de tal viver. Quem introduziu o conceito de classe média foi a jornalista, certamente para dar um efeito dramático à reportagem. Eu si.pledmente sou nobre e se me perguntarem como me sítio na sociedade, irei responder que pertenço à nobreza. Eu não acredito no conceito de classe média, que é usado para quem não se situa em ordem alguma social. Nesse particular, o francês classifica AA pessoas por pequena burguesia, alta burguesia e, Menis frequentemente, pela nobreza, porque é uma ordem social pequena. Na França, onde a saúde e a educação são, em geral, de excelente qualidade, burgueses e nobres estudam nas escolas públicas.
Quando afirmei a respeito da nobreza da minha mulher, referi-me à quedtaot técnica. Ser nobre é ter antepassados nobres. Já no dia-a-dia, minha mulher e eu nos tratamos como marido e mulher, discutimos o absurdo no valor dos planos médicos, comrntamos como o Brasil se está esfacelando nas garras gananciosas do PT, ficamos horrorizados com a penada da presidente simplesmente isentando o BNDES de crimes ambientais, assim como estarrecidos com o faro de que há, em cada andar do prédio do BNDES um militante do PT. Para que mesmo?
Agora, o casamento entre nobres significa um somatório de ascendências, o que vai fortalecer a nobreza das gerações vindouras, que são sempre mais nobres que seus antepassados, claro. E foi o que fiz. Meus filhos descendem do médico dos i.operadores do brasil pela maew, e, pela minha parte, descendem do médico de Catarina de Médicis, de Carlos IX de França, de Henry II e do Duque de Aumale. Era o ilustre Jean Mazille, meu deci.o-segyndo avô, doutor em medicina pela universidade de Montpellier, filho de um barbeiro-cirurgião enobrecido um pouco por Catarina de Médicos, e neto de um barbeiro, quer dizer, de um trabalhador mecânico em 1480.

Eduardo disse...

Existe uma diferença entre nobre, aristocrata e fidalgo. De qualquer forma, o aristocrata nao precisa ser nobre. Existiu um casal ni Rio de Janeiro, cujo nome não vou citar, em que ele nenhuma nobreza possuía, era filho de um oportunista que se fez na esteira do Governo Vargas, Governo de que eu não gosto e veja que descendo de dona Maria de Jesus Vargas, irmã de um bisavô de Getulio Vargas... Pois bem, nesse casal de milionários, a cônjuge, é segredo de polichinelo mesmo, fazia programas no Copacabana Palace há muitos e muitos anos atrás, certamente fundamentada na sua beleza física e...sem uma gota de sangue nobre... Esse casal sempre se apresentou como um casal de aristocratas na sociedade e o fez corretamente. Tinham muito dinheiro e controlavam a vida de muita gente. De nobres e fidalgos, porém, nada tinham.

Eduardo disse...

Ser aristocrata, portanto, é deter o poder (politico ou econômico). Eu nao tenho nada de aristocrata, mas sou nobre e fidalgo.
A nobreza é uma convenção, é um código, no qual há muitas regras que variam de país para país.
Pode haver nobres morando em favelas; mas poderão ter vergonha de assim se declararem porque seu viver caiu, a poto de já não terem dinheiro para comprar um apartamento. Permanecem nobres, mas como fortalecer a sua qualidade se não se casarem com nobres? Houve muita gente criticando o casamento real na Grã-Bretanha. Um príncipe se casando com uma não nobre... Uma casa que recebe dinheiro do governo, para ser nobre, não fez uma ultima aliança no mesmo meio social. Outros explicam que deve ser para consolidar a realeza naquele país, tornando-se bem popular. O que o senhor pensa a respeito?

Eduardo disse...

O artigo publicado na revista Veja examinou Brasil eirós detentores de um título nobiliárquico português. Sendo assim, a matéria tratou da nobreza portuguesa no Brasil e, em sentido lato, da nobreza européia, não da nobreza brasileira, cuja hereditariedade não é por títulos, mas, sim, por brasões de armas, por foros de fidalguia passados pela Casa Imperial a um antepassado e, por fim, pela Vênera da Ordem da Rosa, afidalgadora por definição. Ocorre que a transmissão aos descendentes depende de aprovação do Chefe da Casa Imperial do Brasil.
O artigo era sobre a nobreza, com uma conclusão inusitada: ser titular serve para ser chamado de barão pelo porteiro etc. O porteiro aqui do meu prédio nem sabe direito meu nome completo, o que dirá se sou titulado, fidalgo, nobre!... No meu caso, eu fiz a prova de nobreza para confirmar, na minha geração, a nobreza que represento Assim fazendo, vai-se perpetuando a qualidade de nobre. Ser nobre não é ter um título. Ser nobre é ter uma ascendência nobre.
Em termos filosóficos, seara que escapou ao artigo, eu discordo que os homens sejam iguais. Somos todos diferentes, sem exceção, e temos é de saber conviver na diferença. Nesse ponto, penso que a educação formal ajuda muito ao aprendizado da diferença entre os homens. Quanto a mim, possuo mais de trezentos anos de passado - leiam-se antepassados - com nível acadêmico, pela minha avó paterna. Agora me diga: tal perfil é ou não de uma elite?

Eduardo disse...

No que concerne aos atuais aristocratas, eleitos pelo povo para implementar programas sociais de formação e minimizar a desigualdade de renda entre os brasileiros, é uma grande vergonha tais dirigentes hodpedarem-se RM hotéis de luxo, onde apenas nobres ricos e gente rica se hospedam. O Hotel Ritz de Londres é um bom exemplo. Tornar-se aristocrata no Brasil, por eleições, para desfrutar d . Grandes apartamentos do Governo em Brasília e viajar, para se hospedar em hotéis de luxo, não condiz com a razão de ser desses eleitos. É fundamental que se avance na educação formal, para que os brasileiros não votem nunca mais em gente que só quer se aproveitar do povo.

Eduardo disse...

O artigo publicado na revista Veja examinou Brasil eirós detentores de um título nobiliárquico português. Sendo assim, a matéria tratou da nobreza portuguesa no Brasil e, em sentido lato, da nobreza européia, não da nobreza brasileira, cuja hereditariedade não é por títulos, mas, sim, por brasões de armas, por foros de fidalguia passados pela Casa Imperial a um antepassado e, por fim, pela Vênera da Ordem da Rosa, afidalgadora por definição. Ocorre que a transmissão aos descendentes depende de aprovação do Chefe da Casa Imperial do Brasil.
O artigo era sobre a nobreza, com uma conclusão inusitada: ser titular serve para ser chamado de barão pelo porteiro etc. O porteiro aqui do meu prédio nem sabe direito meu nome completo, o que dirá se sou titulado, fidalgo, nobre!... No meu caso, eu fiz a prova de nobreza para confirmar, na minha geração, a nobreza que represento Assim fazendo, vai-se perpetuando a qualidade de nobre. Ser nobre não é ter um título. Ser nobre é ter uma ascendência nobre.
Em termos filosóficos, seara que escapou ao artigo, eu discordo que os homens sejam iguais. Somos todos diferentes, sem exceção, e temos é de saber conviver na diferença. Nesse ponto, penso que a educação formal ajuda muito ao aprendizado da diferença entre os homens. Quanto a mim, possuo mais de trezentos anos de passado - leiam-se antepassados - com nível acadêmico, pela minha avó paterna. Agora me diga: tal perfil é ou não de uma elite?

Eduardo disse...

Nem sempre algo existe pelo seu oposto. O advento da burguesia bem ilustra esse conceito. Quando a burguesia surgiu, PPR volta do século XIV, mesmo um pouco antes, nem havia proletariado, que é um conceito oriundo da Revolução Industrial. Na Idade Média, os servos pagavam tributo a seus senhores. E um suserano poderia ter, como tinha de fato, vários feudos e uma família nobre pagar-lhe tributo. É o caso dos Harcourt na França, à época barões.
Se há nobres, há plebeus. Não existe uma contrariedade necessária entre esses dois grupos sociais. Para exemplificar, houve um marquês na Inglaterra setecentista que se encantou com uma prostituta de bordel. Com ela casou-se e teve filhos. A descendência é ilustre. Tem um príncipe italiano que se amaziou com una senhora brasileira e, depois de os filhos nascidos, com ela casou-se. Nesse caso, a senhora era figura de menor, se algum, relevo social. Talvez fosse proletária. Então, é possível haver matrimonio entre pessoas de meios sociais diferentes. Há realmente muitos exemplos, inclusive na minha família.
Na sua pergunta: há ainda espaço para nobres se ninguém se preocupa com a segmentação dos plebeus? Como acima escrevi, nobre e plebeu não são pessoas necessariamente dicotômicas. Existem acessos e decessos sociais em qualquer família. A nobreza ocupa um lugar na sociedade. Não estou falando de países desenvolvidos, muitos dos quais são monarquia. Não. Estou falando de pessoas como eu, pessoas que estudam, que trabalham, que fazem prova de nobreza e que acabam por contribuir socialmente. Ou vai me dizer que um membro do governo, um qualquer eleito pelo povo, foi visto roubando os brasileiros e ainda fez uma contribuição social?! A nobreza ainda produz socialmente e, por isso, tem direito a existir.

Eduardo disse...

Caro professor Ricardo,
Nunca mais ouvi um comentário seu a respeito dos nobres.
Relendo seu texto agora, notei uma passagem que me fez pensar. Eu nunca pretendi convencer o professor Ricardo do fato de a nobreza ser hereditária. A História, a nossa civilização judeo-cristã são quem, justamente, alicerçam essa idéia. Existe uma expressão, a qualidade de sangue, que, na ideologia propagada pela nobreza, é responsável pela manutenção de um status qui social. Era muito forte no Antigo Regime. Depois da queda do Antigo Regime, que varia de monarquia para monarquia, decaiu bastante a qualidade de sangue, na qual um individuo poderia pleitear um cargo publico ou uma nomeação (veja que nao havia concursos públicos) baseado no fato de que seu antepassado servira ao Rei em tal e tal batalha etc. Nesse sentido, há, realmente, tendência à imortalidade de um sangue nobre. Faz parte da ideologia da nobreza imortalizar-se. Não basta ter um antepassado herói de qualquer coisa. Esse antepassado não era ninguém mesmo, tanto que precisou ser um herói. Agora, a descendência já é imortalizada no nome do herói antepassado. Foi assim com Vasco da Gama, o descobridor do caminho para as Índias, que rendeu à MonRquia portuguesa seculos de império ultramarino. Foi bom para os portugueses, foi bom para os descendentes de Vasco da Gama, foi bom para a aproximação entre Ocidente w Oriente. Foi um marco na historia mundial. E é por isso que, hoje, quando se fala nos condes da Vidigueira e nos marqueses de Niza, já se lhes atrybui todo um passado de seiscentos anos de nobreza pelos Gama de Vasco da Gama.
Tome-se qualquer nobre e sua historia está marcada, geralmente não por isso m, mas por vários nobres seus antepassados, os quais se tornaram famosos de algum modo. Eu descendo três vezes de Diogo Lopes Pacheco, um dos assassinos de Inês de Castro e filho do senhor de Ferreira de Aves e, claro, parente da rainha dona Constança Manoel. Por outras vias, descendo duas vezes de Inês de Castro. E assim a gente vive, conhecendo nossas histórias familiares, observando o tanto de contradição de que somos fruto, cono no caso do filho dos condes de Moray, na Escócia, ter-se casado com a filha dos marqueses de Huntlu, quando o marquês de Huntly mandou matar o conde de Moray. O casamento foi realizado, para restabelecer laços de amizade... E como nós, hoje, vivemos com esses antepassados, cuja história é assim antagônica?
Na minha próxima mensagem, examinarei, uma vez mais, essa combinação curiosa que querem fazer entre nobreza e classe média.
Aguardo sua opinião.
Cordialmente,
Eduardo Pellew Wilson conde de Wilson