De qualquer modo, não podemos dizer que, a partir das definições prévias colocadas pelo mestre Faitanin, o argumento para comprovação da existência de Deus não foi válido. Pareceu-me, entretanto, que as definições iniciais estabeleceram limitações metodológicas que nos "arrastaram", quase sob vara, a um resultado que, em circunstâncias de maior "liberdade do método", poderia ser diferente.
A definição, por exemplo, de "mito" como algo que necessariamente implica uma violação do "Princípio da Não-contradição"... e que este não pode ser racionalmente contrariado, guia-nos, sob uma certa "manipulação", a pensar que se falamos em Deus, e nos é dado o direito de raciocinar sobre Ele, não estamos incorrendo em nenhuma quebra do princípio lógico citado... logo, não estamos falando de um mito, mas de uma realidade.
O discurso pode até convencer, mas penso, sinceramente, que partimos de uma definição viciada, o que nos levou a um resultado com uma marca de possibilidade de ser enganoso.
Mas isso não foi o mais importante. Chegamos à hora das perguntas. Tchan, tchan, tchan, tchan!
Mesmo sem ter pensado minha pergunta na íntegra, arrisquei-me a ir ao microfone. A dúvida era saber se a comprovação da existência daquele Deus-Motor Imóvel metafísico atendia às expectativas dos crentes/fiéis. Citei, por exemplo, que Spinoza, que "naturalizou" Deus, foi veementemente censurado pelos judeus, e considerado ateu - apesar da alegria suprema, para ele, vir justamente do "Amor Intelectual a Deus". Outra ideia posta por mim foi a de que os deístas, apesar de acreditarem num Deus criador, por não crerem na Providência desse novo "demiurgo", também eram chamados de ateus.
O professor Faitanin fez diversas considerações sobre os pontos colocados. Entretanto, o amigo Alan - nosso amigo dos amigos, daqui do blog -, logo depois, inquiriu o palestrante sobre a possibilidade do "Deus" aristotélico encarnar, como teria feito o de Tomás. Ficou claro que não seria possível. Ora, ora... quer dizer que pelo menos uma das características do Deus aristotélico não combina com a do Deus revelado. Haveria outras? Ainda assim seriam o mesmo e único Deus, o de Aristóteles e o de Aquino?
A melhor resposta à minha pergunta, entretanto, parece-me, veio na última pergunta feita. Um jovem foi ao microfone, e após perguntar se o palestrante acreditava em Deus - ouvindo a resposta positiva -; inquiriu o Dr. Faitanin se o mesmo se dava com relação a Jesus, o Cristo. Nova resposta positiva. Nova pergunta, agora dizendo respeito a Jesus ser o único caminho para a salvação - não antes sem uma confissão pessoal do "perguntador", de que esse era seu ponto de vista.
Ficou claro, portanto, que não bastou ao "crente" saber que o Deus metafísico existia, ele carecia da "certeza" do Deus religioso. E essa carência só foi satisfeita quando um especialista da área do pensamento "carimbou" a carteira de identidade desse Deus bíblico.
Eu quase vi Blaise Pascal tomando o microfone do professor Faitanin e gritando "Eu não quero saber do deus dos filósofos; eu acredito é no Deus de Abraão, Isaac e Jacó!"... e o jovem "perguntador" gritando, em resposta: "Aleluia!"