Vou contar uma estorinha. Era uma vez, três amigos que gostavam de três mulheres.
O primeiro gostava muito da Dilma, a presidente da República. Talvez não seja exatamente da Dilma que ele goste, mas de tudo o que ela pretensamente representa, ou melhor, o que ela representa para ele: alguém que defende uma melhor distribuição de renda dentro da sociedade e uma valorização do modo "social" de fazer Política.
O segundo gostava da Suzy - vale qualquer nome -, que tinha relações de trabalho com esse meu amigo. Da mesma forma, talvez ele goste mais do que ela representa para ele, do que aquilo que ela realmente é.
O terceiro amigo gostava da Barbie - também vale qualquer nome -, que, de forma idêntica, tinha fundamentalmente relações de trabalho com ele.
O que aconteceu com estes amigos?
O primeiro viu sua "musa" ser criticada por um montão de gente. Ele conseguiu separar o que vê - tanto as críticas, quanto as atitudes dela - daquilo que não vê - as intenções de sua digníssima amada. Preferiu identificar-se com o que não vê, crendo que os motivos de seu "amor" continuam pertinentes. Algumas vezes, dá ares de que não está completamente confortável com sua escolha, mas aparentemente não está tão angustiado assim.
O segundo passou por uma situação que o decepcionou. Determinada atitude da sua amada não se coadunou com suas expectativas. Aquilo que ele viu - a ação propriamente dita - não se encaixou com o que ele não viu - as motivações da moça. Angustiado, ele ficou tentando justificar as ações a partir do caráter que ele acreditava que a Suzy tinha. Como o tal caráter não poderia servir de motivação para o tal ato, sua imaginação fica dando voltas em busca de um motivo "nobre", que não destrua de vez a bondade atribuída a ela.
O terceiro é um amigo mais pragmático. Alguns dizem "racional" demais. Ele também passou por uma situação que exibiu certo descompasso entre o que ele considerava ser "a Barbie" e uma atitude tomada por sua amada. Ficou com o que viu. Sem falsas esperanças sobre a "continuidade" de um possível caráter ideal, diante de um ato "vil", simplesmente deu de ombros à sua ficção, permanecendo com a realidade concreta.
Dá para entender, pelo que já foi dito, a parte do título do post referente aos "três amigos" e às "três mulheres"... mas e as "duas paixões"? Bem... explico.
Aqui, "paixões" não está no sentido usual de "sentimento arrebatador", mas no sentido spinozano do termo, ou seja, de algo que nos submete, que nos torna passivos, diante de sua força.
Neste sentido, tanto meu primeiro quanto meu segundo amigos estão submetidos afetivamente à imagem de algo que não é real, que idealizaram, e não podem encarar a distinção entre essa figura construída e aquela que efetivamente está diante de suas vistas. Reagem, como conseguem, de uma forma melhor ou pior. O primeiro se angustia menos que o segundo, mas não se pode dizer que está completamente bem.
E o terceiro amigo? Este não tem uma paixão, ele é ativo - spinozanamente falando. A ficção não está acima da realidade, e muito menos acima dele próprio. Ele "comanda as ações", digamos assim, ainda que não tenha poder direto sobre os eventos que envolveram sua "amada". Avaliada a situação, compreendido o acontecido, ele não se submeteu à sua imaginação, e se afastou de qualquer dependência da figura ideal da amada, protagonizando, dali em diante, a história de sua vida.
Agora, sim... três amigos, três mulheres e DUAS paixões.