Comecei a ler o livro que tem o mesmo título do post com uma expectativa enorme. O autor é Flavio Quintela, um jovem engenheiro que, atualmente, conforme nos informa a "orelha" do livro, se dedica à literatura, além de ser autor de um blog sobre Política e também colunista de um portal de notícias.
O livro foi publicado em 2014, pela Vide Editorial.
Disse "expectativa enorme", porque o Prefácio promete algo relativamente grandioso. Nele, Paulo Eduardo Martins, diz que "Flavio golpeia e desmonta as principais falácias estabelecidas [pela esquerda brasileira] com tamanha precisão e impiedade [...]" e que "Mentiram (e muito) para mim é daquelas obras que estabelecem um marco; um antes e depois na vida [...]".
A expectativa aumenta quando sabemos que Flavio Quintela bebe das águas de Olavo de Carvalho, a quem, também o Prefácio informa, se atribui a formação de uma "nova intelectualidade que começa a surgir no país" cuja argumentação atordoa os opositores.
Como eu conheço a argumentação do Olavo de Carvalho, fiquei esperando um poderoso "quebra-cuca" para os "idiotas e cretinos" que formam a oposição indicada pelo prefaciador.
O problema, parece-me, é o autor avançar com muita "volúpia" sobre determinadas ideias do adversário. Esse excesso de "pegada", por vezes, parece privá-lo do que pode ter de melhor, seu raciocínio, tornando-o, como o adversário, um tanto "ideológico" demais.
Vejamos alguns exemplos simples.
Ao atacar o conceito de mais-valia de Marx, Flavio primeiro diz que o "conceito-base da mais valia" indica "que a riqueza apenas sai de uns para outros, e nunca é criada". A ideia não é bem essa. E o próprio autor coloca as coisas de um modo mais preciso um pouco adiante. Ainda assim, indica que é "um raciocínio tosco, ridículo [...] e que se mostra ainda mais sem sentido na era da economia digital, onde se constrói uma empresa milionária em uma garagem, usando apenas inteligência e criatividade".
Ora, Marx está tratando de um capitalismo industrial, e não de um capitalismo financeiro, e muito menos se refere a um tipo de produção que depende em grande parte de recursos que estão, por assim dizer, ao alcance das mãos do self made man. Portanto, se já não acho a crítica de ser um raciocínio "tosco" e "ridículo" válida, menos pertinente ainda penso ser criticar o conceito diante de uma perspectiva na qual ele não foi imaginado.
Quando ataca o "relativismo", o autor também parte com muita avidez sobre o tema, que considera um ponto central de apoio às ideias esquerdistas. A questão é que a preconizada certeza sobre a "verdade", defendida por Flavio Quintela, é bastante atacada por toda a Filosofia a partir de Nietzsche... pelo menos. Esse ataque, embora possa até ser questionado, marca um novo modo de pensar a realidade a partir de então... e tem que ser levado em consideração, sim.
Um engano que se segue é o de afirmar "se não existem verdades, então não existem códigos mútuos pelos quais possamos apreender a realidade". O fato é que esses "códigos mútuos" podem ser pactuados, e, neste caso, não dependem de corresponder a "verdades" no seu sentido "absoluto", digamos assim.
Mas, neste mesmo capítulo do livro, há algo ainda pior: uma defesa exagerada da "herança judaico-cristã". Digo "exagerada", porque Quintela parece perder aquela "frieza" necessária ao bom raciocínio e à boa argumentação.
Primeiro, ele diz que "é impossível imaginar que uma civilização que partisse de valores absolutamente distintos como os do marxismo, ou mesmo os do islamismo, chegasse a conceber coisas como liberdade de expressão, direito à vida e igualdade racial, entre outros". Para, logo em seguida, dizer: "Basta olhar para os países comunistas e para as nações islâmicas, e nada se achará de conquistas. Pelo contrário, é lá que não há liberdade de expressão, que a vida vale menos que uma opinião, e que homossexuais são assassinados pelo simples fato de assim serem". O fato é que essa "herança judaico-cristã" teve que ser "filtrada", ao longo de séculos, para que ela representasse essa "liberdade" toda a respeito da qual Flavio fala. Quem não lembra das intolerâncias cometidas pelas autoridades religiosas - principalmente as cristãs -, dentro do cenário do Ocidente que conhecemos?
Um pouco mais adiante, o autor escorrega numa informação meramente biográfica, ao falar que o filósofo Jean-Jacques Rousseau nasceu na França. Apesar do florescimento na França, Rousseau é suíço.
Após as críticas pontuais, quero dizer que o livro é muito bom. Ele traz alguns argumentos bons; vários fatos históricos são explicados sob uma perspectiva diferente e determinadas posições são fixadas de um modo oposto àquele que costumamos encontrar nas críticas socialistas.
Espero comentar mais sobre o livro aqui.
Ora, Marx está tratando de um capitalismo industrial, e não de um capitalismo financeiro, e muito menos se refere a um tipo de produção que depende em grande parte de recursos que estão, por assim dizer, ao alcance das mãos do self made man. Portanto, se já não acho a crítica de ser um raciocínio "tosco" e "ridículo" válida, menos pertinente ainda penso ser criticar o conceito diante de uma perspectiva na qual ele não foi imaginado.
Quando ataca o "relativismo", o autor também parte com muita avidez sobre o tema, que considera um ponto central de apoio às ideias esquerdistas. A questão é que a preconizada certeza sobre a "verdade", defendida por Flavio Quintela, é bastante atacada por toda a Filosofia a partir de Nietzsche... pelo menos. Esse ataque, embora possa até ser questionado, marca um novo modo de pensar a realidade a partir de então... e tem que ser levado em consideração, sim.
Um engano que se segue é o de afirmar "se não existem verdades, então não existem códigos mútuos pelos quais possamos apreender a realidade". O fato é que esses "códigos mútuos" podem ser pactuados, e, neste caso, não dependem de corresponder a "verdades" no seu sentido "absoluto", digamos assim.
Mas, neste mesmo capítulo do livro, há algo ainda pior: uma defesa exagerada da "herança judaico-cristã". Digo "exagerada", porque Quintela parece perder aquela "frieza" necessária ao bom raciocínio e à boa argumentação.
Primeiro, ele diz que "é impossível imaginar que uma civilização que partisse de valores absolutamente distintos como os do marxismo, ou mesmo os do islamismo, chegasse a conceber coisas como liberdade de expressão, direito à vida e igualdade racial, entre outros". Para, logo em seguida, dizer: "Basta olhar para os países comunistas e para as nações islâmicas, e nada se achará de conquistas. Pelo contrário, é lá que não há liberdade de expressão, que a vida vale menos que uma opinião, e que homossexuais são assassinados pelo simples fato de assim serem". O fato é que essa "herança judaico-cristã" teve que ser "filtrada", ao longo de séculos, para que ela representasse essa "liberdade" toda a respeito da qual Flavio fala. Quem não lembra das intolerâncias cometidas pelas autoridades religiosas - principalmente as cristãs -, dentro do cenário do Ocidente que conhecemos?
Um pouco mais adiante, o autor escorrega numa informação meramente biográfica, ao falar que o filósofo Jean-Jacques Rousseau nasceu na França. Apesar do florescimento na França, Rousseau é suíço.
Após as críticas pontuais, quero dizer que o livro é muito bom. Ele traz alguns argumentos bons; vários fatos históricos são explicados sob uma perspectiva diferente e determinadas posições são fixadas de um modo oposto àquele que costumamos encontrar nas críticas socialistas.
Espero comentar mais sobre o livro aqui.
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