Herbert Spencer (1820-1903) é considerado o pai do Darwinismo Social. Este tipo de pensamento marcou profundamente a gênese da Antropologia Social. Na esteira desse discurso, o antropólogo americano Lewis Morgan (1818-1881) escreve, em 1877, Sociedade Antiga, em que descreve os três estágios de evolução das sociedades - selvageria, barbárie e civilização.
Decerto que podemos lembrar de Auguste Comte (1798-1857), com sua Lei dos Três Estados - Teológico, Metafísico e Positivo -, divulgada no seu Curso de Filosofia Positiva, entre os anos de 1830 e 1842 - anterior, portanto ao A origem das espécies por meio da seleção natural, de Charles Darwin, publicado em 1859. Contudo, eu gostaria de voltar um pouco mais do que isso.
Volto ao ano de 1725, ou seja, ao século anterior a esse do qual falamos. Encontro, então, La scienza nuova, de Giambattista Vico (1668-1744). Reconheço que ainda não estamos falando de "ciência" nos moldes que esta viria a ser definida posteriormente, com o rigor do método científico - embora a mesma procure argumentar em favor de um entendimento científico da História. De qualquer modo, gostaria de registrar algo sobre esse pensador italiano - com apoio do livro História da Antropologia, de Thomas H. Eriksen e Finn S. Nielsen, que registra:
Vico propõe um esquema universal de desenvolvimento social segundo o qual todas as sociedades passariam por quatro fases com características própria e bem definidas. O primeiro estágio seria uma "condição bestial" sem moralidade ou arte, sendo seguida de uma "Idade dos Deuses", caracterizada pelo culto à natureza e por estruturas sociais rudimentares. Adviria, então, a "Idade dos Heróis", perpassada por perturbações sociais generalizadas resultantes de uma grande desigualdade social. Por fim, viria a "Idade do Homem", uma era em que as diferenças de classe desaparecem e a igualdade predomina.
Interessante perceber a visão antecipatória da proposta de Vico. Mas ainda há mais coisas que merecem destaque, no texto que cita o italiano. Vejamos:
Vemos aqui, pela primeira vez, uma teoria do desenvolvimento social que não apenas contrapõe barbárie e civilização, mas especifica também alguns estágios de transição. A teoria de Vico serviria de modelo para os evolucionistas posteriores, de Karl Marx a James Frazer. Mas Vico detém um elemento que está ausente em muitos de seus seguidores. As sociedades não necessariamente se desenvolvem linearmente em direção a condições sempre melhores, mas passam por ciclos de degeneração e desenvolvimento.
Isso porque Vico indica que aquela tal fase da "Idade do Homem" seria "ameaçada pela corrupção interna e pela degenerescência em direção à 'bestialidade'". Ou seja, adeus "fim da História"!