sábado, 31 de julho de 2010

Eckhart, por Kolakowski

  Na sua abordagem sobre Mestre Eckhart, Kolakowski trabalha alguns conceitos de forma interessante. Um deles, por exemplo, é o de "mística".
  No texto, aparece: "A mística não é filosofia nem teologia, não é uma doutrina, mas uma experiência... na qual o místico encontra Deus... O místico sabe algo sobre Deus que o filósofo desconhece. Todavia, quando o místico procura palavrars para expressar esse conhecimento, torna-se, mesmo sem querer um filósofo... para o qual as regras do bom senso e da lógica constituem um obstáculo... para falar daquilo de que não se pode falar. Certamente o mais excelso desses místicos-filósofos é Mestre Eckhart".
  E continua com uma comparação curiosa e uma tese sobre a essência da experiência mística: "O conhecido teólogo alemão Rudolf Otto, em seu tratado sobre a mística oriental e ocidental, demonstra uma convergência impressionante entre Eckhart e o místico indiano Acharya Sankara, que viveu vários séculos antes dele. As palavras diferem, mas a intuição condutora é a mesma... Não se trata de influências..., mas da semelhança de suas experiências resultantes de fontes afins, de uma certa essência comum das camadas mais profundas de suas almas... Eles sabem que, se lhes parecesse que entendem Deus, saberiam, forçosamente, que esse não é Deus. Com o instrumental da linguagem, cujo objetivo é servir a outras tarefas, sem cessar mergulham em apuros semânticos e lógicos, quando se trata de expressar a união do espírito humano com o absoluto inefável".
  Mas o polonês aponta uma dificuldade em relação a essa experiência mística: "Em si mesmo, porém, essas explosões místicas, por mais iluminadas que sejam,... não podem servir como indicações pedagógicas para os fiéis comuns".
  Ou seja, se a experiência mística dá um acesso privilegiado a Deus, não é possível traduzir essa experiência em termos teóricos. Resta apenas citá-la e esperar que o fiel comum creia no parecer do místico... até que um dia lhe seja possível experimentar a experiência mesma.
  Kolakowski, além de apresentar algumas opiniões de Eckhart, registra também alguns fatos históricos que merecem ser lembrados. Um deles é que o dominicano Eckhart foi acusado, por conta de algumas de suas opiniões, pelos franciscanos e que, logo após sua morte, teve algumas de suas teses tidas até como heréticas.
  Por último, uma explicação de uma das teses do dominicano ganha ares problemáticos, quando é afirmado que "quando rezo pedindo isso ou aquilo (ou seja, por algum bem específico), então rezaria para que Deus se negasse a si mesmo, por algo que é a negação do bem e de Deus".
  Em que pese a "força" da experiência mística, a impossibilidade de sua tradução em palavras dificulta muito sua inserção no campo filosófico... parecendo, até mesmo, segundo penso, afastá-la completamente dessa área do conhecimento.
  Mas, para o próprio místico, quem disse que isso tem alguma importância?

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