terça-feira, 27 de julho de 2010

"Genealogia da Moral", de Platão

  Quem leu o título do post deve ter pensado "Esse Ricardo está louco! Afinal, Genealogia da Moral é um livro do Nietzsche!".
  Está bem. Mas quem já leu o Górgias - esse, sim, de Platão - e atentou para o interlocutor Cálicles, poderia se perguntar se Platão também não foi um escritor além do seu tempo, tão "além" que teria escrito uma "proto-Genealogia da Moral".
  Vejamos, então, se Cálicles - personagem completamente inventado por Platão, até onde os pesquisadores sabem - não foi já um Nietzsche da Grécia, antecipando a "Moral do Rebanho" do alemão.
  Lá está, em 483a15 do Górgias: "Não... nenhum homem [livre] toleraria sofrer injustiça; somente um escravo agiria assim... , como é o caso para qualquer pessoa que é incapaz de proteger a si mesma ou qualquer outra pessoa que está sob seu cuidado. Creio que os autores das convenções (leis) constituem o tipo humano mais fraco e numeroso. É tendo a si mesmos em vista e seus próprios interesses que produzem suas leis e distribuem seus louvores e censuras; e com o fito de espalhar o terror entre os mais fortes, que são capazes de obter uma vantagem, e impedi-los de obter vantagens sobre eles, alegam que essa obtenção do que ultrapassa a cota de cada um é 'vergonhosa' e 'injusta' e que cometer injustiça corresponde precisamente a esse empenho de obter algo que vai além da cota de cada um... a meu ver, a própria natureza proclama o fato de ser justo ao melhor ter vantagem sobre o pior e o mais capaz ter vantagem... sobre o menos capaz".
  Quem não lembrou dos cordeirinhos e das aves de rapina de Nietzsche?

Nenhum comentário: