Obviamente, o título do post se refere ao livreto escrito por Karl Marx e Friedrich Engels.
A versão que tenho é publicada pela Edipro, e conta com uma Apresentação, escrita por Annibal Fernandes, e um Prefácio, de autoria de Edmilson Costa - o primeiro é jornalista, advogado e cientista social, enquanto o último é economista e, também, cientista social.
Não tenho competência específica nas áreas de Economia e Direito, como os autores dos textos que introduzem a versão que tenho. Contudo, por vezes, acho que é difícil deixar de estranhar algumas opiniões apresentadas.
Embora Annibal Fernandes privilegie a descrição do texto do livreto, há pelo menos um trecho em que ele se deixa levar pelo entusiasmo com o ataque ao Capitalismo, e parece exagerar na dose. Isto ocorre quando ele explica que o jornalista Carlos Chagas repercute uma notícia do New York Times, de 1996, sobre o aumento da miséria no mundo - obviamente, "empurrando a conta" para o Capitalismo. Annibal conclui que, antes de 2048, metade do gênero humano estará na indigência. Uma matéria da revista Exame, baseada em dados da ONU, indica que aproximadamente um terço da população mundial se situa na região da pobreza, ou na iminência da mesma. Isto é diferente da "indigência", que corresponde a uma "pobreza extrema". Só para que se tenha uma noção melhor, segundo a ONU, aqui na América Latina, calcula-se que, em 2014, haja 28% de pessoas vivendo na "pobreza", mas menos de 12% vive na "indigência".
Além disso, houve, segundo determinadas estatísticas, uma redução da pobreza, durante certo período, com uma posterior estabilização. Entretanto, é verdade que os índices apontam para uma retomada do agravamento destes números. Não seriam estes os efeitos dos "ciclos" do Capitalismo, muito mais do que uma tendência de extermínio do mesmo?
As opiniões de Edmilson Costa, penso, são mais problemáticas. Ele diz, por exemplo, que "a burguesia, apesar de rotineiramente decretar a morte do comunismo, sabe ela mesma que seu domínio histórico é transitório". Pergunto: Será que Edmilson realmente acha que os bilionários donos dos meios de produção pensam que seu domínio é transitório? E, se pensam, será por crer que o Comunismo vá substituir o Capitalismo no mundo?
Diz também que "enquanto houver o capitalismo [...], a luta de classes permanecerá [...] e o Manifesto continuará tão atual quanto o era às vésperas da revolução de 1848 na Europa". Até aqui, nem vou implicar com nada. Mas, logo em seguida, ele registra: "Não se trata aqui de uma profissão de fé, mas, sim, de avaliar a história da humanidade", dando a entender que racionalmente se chega a essa conclusão. Contudo, se a análise da História pode mostrar o que veio antes, somente em certa medida poderá garantir o que virá depois. Este "exercício de futurologia" que Marx faz dá errado em vários momentos. Portanto, parece-me, realmente só uma profissão de fé permite aferrar-se cegamente às suas previsões. Aliás, em anexo, o exemplar traz o "Estatuto da Liga dos Comunistas", que, em seu Artigo 2º, indica "As condições para dela [da Liga] ser membro são: [...] 3º) profissão de fé comunista". Não há nada sobre "analisar criticamente o que está dado".
Curioso é perceber que o próprio Edmilson reconhece alguns "furos" dos pensadores alemães, pais do Comunismo. Ele explica, por exemplo, que "Marx e Engels imaginavam que a revolução socialista irromperia brevemente pelo mundo"... o que não aconteceu. E também diz: "Outro enunciado que também não se verificou foi o desaparecimento das camadas médias".
De um modo geral, penso que os "marxistas" são muito crentes na futurologia de Marx, e que se recusam a reconhecer que os "pequenos enganos" do filósofo prejudicam, e muito, a sua visão sistêmica.
Continuarei falando deste pequeno texto depois.
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