terça-feira, 22 de agosto de 2017

Quotas (3)


   Vamos, agora, aos problemas.
   Como eu mostrei no último post, "fórmula [para reserva de vagas] foi se tornando mais complexa e mais abrangente, com a diminuição crescente do peso da questão racial". Agora, estão em jogo, também, dados sociais dos postulantes às vagas segregadas, como, por exemplo, o fato de ter estudado em escolas públicas. Mas vejamos o que a matéria diz:
   "Uma brecha permite que se qualifique para a reserva de vagas quem estudou em escola privada e, no finzinho do curso, fez um supletivo - e isso vale como carimbo de temporada em escola pública. A falta de limite de renda em uma porção das vagas desvirtua a proposta ao abrir espaço para alunos de nichos de excelência na rede pública, como os colégios militares e de aplicação".
   O maior problema, contudo, ainda está relacionado à própria noção de "ser negro", no que se refere ao candidato, "num país multiético e tão miscigenado". 
   A matéria conta um caso curioso:
  "[Em 2007, na UnB], a seleção era feita por fotos enviadas pelos candidatos. Dois gêmeos idênticos se candidataram. Tinham a aparência do que, no cardápio multicolorido da pele brasileira, se pode chamar de 'café com leite'. Cada um enviou a sua foto. Um foi aceito; o outro não". 
   Diante da experiência de insucesso, a UnB instituiu um novo sistema: uma entrevista presencial com os candidatos, por uma bancada. Tal evento passou a ser chamado pejorativamente de "Tribunal Racial". Mas, em 2013, tal "tribunal" foi desativado, e se voltou à "era da autodeclaração".
   Um dos coordenadores do "tribunal", o senhor Nélson Inocêncio, disse, sobre essa nova era: "Em um país movido a jeitinho, â burla, a autodeclaração produz injustiça. Muito branco acaba passando no critério da cota racial".
   Ele tem razão. Lembro que, há algum tempo, foi publicada uma matéria na mídia que mostrava o caso de alguns alunos quotistas da Uerj. As redes sociais desses alunos exibia jovens de pele branca, vários deles com olhos claros, que se declaravam "negros". 
   A revista informa que "A Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) [...] criou recentemente um comitê para, com base em cor da pele e formato do nariz e boca, bater o martelo sobre quem pode ser contemplado". Esquisito isso. Não fica com cara de avaliação de "raça pura" esse negócio?
   Aliás, a própria matéria indica que este procedimento "não tem como contornar o fulcro da questão: definir com precisão científica quem é branco, pardo ou negro, simplesmente porque, a rigor, raça é uma invenção social". (Grifo nosso)
   Ainda me parece que o mais correto são as quotas sócio-econômicas. Uma pessoa com baixa renda per capita familiar; que mora em favela; que só cursou o ensino público, seja branco e loiro de olhos claros ou negro, merece ter acesso diferenciado aos bancos universitários, a fim de que se tente diminuir a desigualdade social.
   Mas surge outra pergunta: vale à pena dar tanta importância ao ensino superior, mesmo reconhecendo que o ensino médio público, de um modo geral, é de tão pouca qualidade?
   Depois falo sobre isso...

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