Nessa data tem início, ainda que não se pudessem imaginar todas as suas consequências, um processo que custaria muito à humanidade: a ascensão de Hitler, na Alemanha.
É fato que esse é um marco um tanto artificial. Afinal, uma planta não nasce apenas quando o primeiro broto irrompe do solo; já na escuridão do subsolo, pode-se falar da germinação da semente como o "começo". Nesta data, o futuro líder do Terceiro Reich é nomeado chanceler do Reichstag - o Parlamento Alemão -, mas, para isso, já trabalhava - ou "germinava" - sob os "escombros" de uma Alemanha humilhada, a partir da instauração da República de Weimer.
O fenômeno é complexo... e se tornaria ainda mais, com o passar dos anos. Entretanto, parece-me, não há como fugir a ele, deixando de analisá-lo criticamente, pois se hoje, por um lado, acreditamos que ele não se repetiria com a mesma intensidade - e eu realmente espero que não -, por outro, não há como deixar de reconhecer que "pequenos hitleres" - que atuam, talvez, com preocupações e alcance mais local - ainda vivem por aí.
Senhores, por exemplo, que ocupam palanques e espaço na mídia para falar em defender "o nosso mercado de trabalho", diante do desemprego estrutural do mundo globalizado, exacerbando posturas nacionalistas de antagonismo aos "outros, que não nós", são pequenas sementes dessa intolerância que se agigantou a partir de 30 de janeiro de 1933.
Segue um texto sobre o acontecimento, transcrito da coluna "Hoje na história", do Jornal do Brasil de ontem, que dispõe de um blog ( http://jblog.com.br/hojenahistoria.php ) contendo vários outros acontecimentos de grande destaque na História, inclusive com a reprodução da folha do jornal publicado à época.
30 de janeiro de 1933 - Hitler é nomeado chanceler alemão
"Após vários anos de implacavel luta política, o Partido Nacional Socialista Alemão, chefiado por Adolf Hitler, conseguiu chegar ao poder e, em colaboração com outros grupos pan-nacionalistas, assumir a alta direção dos negócios públicos do Reich.
Nos últimos pleitos eleitorais realizados na Alemanha, os nazistas conquistaram o controle do Reichstag (parlamento alemão), mas nem o Presidente da República, marechal von Hindenburg, e nem os ex-chanceleres von Papen e von Schleicher, julgavam prudente a nomeação de Hitler como primeiro-ministro da República, devido ao temperamento exaltado do ex-combatente da Primeira Guerra, mas nada puderam fazer para que Hitler não ascendesse ao poder: o Partido Nacional Socialista tinha maioria dos votos no Parlamento Federal e não admitia outra coisa a não ser a chancelaria do Reich. Assim, Hitler, chefe da maioria da representação legislativa, assumiu o cargo montando um novo Ministério junto aos demais grupos nacionalistas alemães e resolveu a crise política e parlamentar da Alemanha. Ao ser nomeado chanceler, Hitler prometeu ao presidente Hindenburg que respeitaria as leis da nação para evitar problemas diplomáticos europeus.
Como medidas de precaução, o presidente nomeu como vice-chanceler um homem de sua confiança que já havia ocupado o cargo que então estava sendo entregue a Hitler, o Sr. von Papen, e exigiu que o Barão von Neurath fosse mantido à frente do Ministério das Relações Exteriores, para prosseguir com os seus trabalhos que eram bem vistos pelos demais países europeus.
A nomeação de Hitler como chanceler do Reich provocou manifestações contrárias logo após a posse do futuro ditador. A Comissão Executiva do Partido Comunista iniciou uma campanha por meio de jornais e panfletos, incentivando o povo a uma greve geral. “Sua ascenção ao poder constitui um golpe de Estado contra os trabalhadores”, dizia a nota divulgada pelo partido. A grande imprensa, porém, se posicionou a favor do novo Chefe de Governo, celebrando sua nomeação ao cargo como um acontecimento histórico inspirado no exemplo fascista, caracterizando-o como uma grande mudança na política do Reich.
Hitler ocupou o cargo de chanceler até a morte do presidente Hindenburg em agosto do ano seguinte. A partir daí, ele fundiu em suas mãos as funções de chanceler e presidente, instalando uma ditadura baseada nos ideais de superioridade da raça ariana e de hegemonia germânica na Europa, o que levou, seis anos mais tarde, ao maior conflito bélico do século XX: a Segunda Guerra Mundial. A ditadura de Hitler só terminou com o seu suicídio em 1945, na antevéspera da rendição incondicional das forças alemães frente aos Aliados e o fim da guerra na Europa."