sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Spinoza, por Onfray (4)

  Continuando...
  Onfray expõe seu ponto de vista sobre a Ética, caracterizando-a eminentemente como uma obra de cunho existencial. Ele diz:
  "A obra propõe uma salvação pessoal. Para tanto, deve-se alcançar a consciência de si, de Deus e das coisas. Saber quem somos, o que somos, como pensamos, quais afecções nos trabalham, a maneira como as paixões nos habitam, de que maneira o desejo nos atormenta; depois, saber como designar Deus, o que ele é, claro, mas sobretudo o que não é, sua relação com a natureza, com a criação, com o real; enfim, saber o que define o real, as relações entre a substância una do mundo e seus modos múltiplos de aparição ao entendimento.
  Eis o projeto pelo qual o indivíduo pode encontrar seu lugar no mundo, no real, no cosmo, sua razão de ser com outrem, a fim de dar um sentido à sua existência. Porque se trata de filosofar para chegar à Alegria e criar a Beatitude. O projeto espinosista é portanto do âmbito do eudemonismo mais clássico: o soberano bem coincide com esse júbilo".
  É verdade que, para quem já entrou no "espírito spinozano", o trecho acima citado não apresenta grandes novidades. Mas vale a pena registrar que, para quem só conhece Spinoza pelo rótulo de "um dos três grandes racionalistas", um projeto existencial como fundamento da Ética pode representar uma novidade. Normalmente, quem se defronta pela primeira vez com a obra vê nela apenas um grande tratado que fundamenta a "realidade" a partir de uma Metafísica bem estruturada, passando por um encadeamento estritamente matemático e chegando até o comportamento humano, como parte desse todo.
  É verdade que o livro não deixa de seguir esse "roteiro" esperado, mas o "telos" é justamente a Alegria. Quem está em primeiro plano não é o mundo, mas o homem.
   Dito isto, que venha o "Spinoza, por Onfray (5)"!

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