sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Filosofia e poesia (2)

No primeiro post de "Filosofia e poesia", registrei uma opinião que constava no prefácio de um livro de Tomás Melendo, emitida por Antônio Livi, que dizia: “Entre poesia e metafísica existem – desde os tempos do poema de Parmênides – relações estreitíssimas”.
Naquele instante comecei a pensar um pouco mais sobre estas "relações estreitíssimas". Não sei se elas são necessariamente tão estreitas assim. A verdade é que o pensar filosófico pode ser expresso sob diversas formas, inclusive não escritas. Dentro do âmbito da escrita, podem-se ver romances filosóficos, contos filosóficos, diálogos filosóficos ou, como é mais comum, tratados técnicos de Filosofia. E por que não poesia filosófica? Sim, ela também é possível.
Mas há que se lembrar que Parmênides não criou o estilo poético para apresentar sua filosofia. Os grandes textos eram poéticos, como em Homero e Hesíodo. Aliás, vê-se com isso que a poesia serviu, inclusive, ao mito, que era uma espécie de contraponto à própria Filosofia - embora haja discussões pertinentes sobre a validade dessa dicotomia "mito versus logos". Parmênides, então, se vale de uma forma de escrever típica para registrar a sua filosofia. Ao longo da história, outros fizeram isso bem, como Voltaire, Sartre, entre vários pensadores.
Um dos problemas com o uso de gêneros literários diversos para apresentar a Filosofia é a extensão dos textos para obter um aprofundamento suficiente. Normalmente, o que se apresenta são "intuições filosóficas", mais do que Filosofia. É bem verdade que isso aproxima o leitor do pensar filosófico - o que, por si só, já é ótimo -, mas me parece que continua faltando "algo mais", que só se produz através de um método mais "rigoroso", que é o da Filosofia em si. Apesar da ênfase na "intuição" como método apropriado para obtenção de conhecimento, em alguns filósofos, como Bergson.
A propósito disso, aliás, há ainda uma afirmação de Antônio Livi, no prefácio à obra de Melendo de que “as citações dos poetas [no livro] não servem só para expressar de maneira sugestiva o que a metafísica expressa... com a frieza da lógica e da terminologia técnica... A experiência artística capta (às vezes melhor do que qualquer outra experiência) a verdade das coisas”. Parece-me que uma coisa é alcançar a intuição de uma "verdade" - estado eminentemente subjetivo - e outra, totalmente diferente, é usar de elementos discursivos para "organizar" essa intuição e torná-la "compartilhável", isto é, transformá-la em algo "tendendo à" objetividade - pelo menos pelo alcance de uma "intersubjetividade". Em relação ao primeiro item - alcançar a intuição da "verdade" -, penso que a poesia permite isso de modo muito eficiente. Mas o "complemento" - que a mim parece necessário -, que é o desenvolvimento dessa intuição em termos discursivos, não me parece pertencer ao âmbito de possibilidades da poesia.
Mal comparando, seria como se observássemos a foto de uma mãe africana esquelética, com seu filho faminto nos braços, e intuíssemos a "desigualdade social do mundo". Isso serviria para nos tirar da inércia do "nada fazer a respeito", mas não indicaria que ações tomar. Para esse último passo, seria necessário um estudo sobre o lugar onde aquilo acontece; sobre as circunstâncias em que se insere aquela situação; sobre as organizações que já trabalham pelo fim daquela injustiça social e etc. Neste caso, obviamente, a Filosofia também não se equipararia ao fim do caso, pois ela apenas funcionaria no nível teorético, havendo necessidade de um nível prático. Mas como mera comparação, acho que atinge o objetivo desejado.
Por último, algo que me parece ocorrer com os recursos estéticos de auxílio ao filosofar - aqueles que atingem diretamente o âmago da nossa alma sem passar pelo intelecto - é que eles nos dão uma imagem meio "impressionista" da realidade. Nas telas de Renoir ou Monet, vemos o que foi pintado... de longe. Mas se nos fixarmos naquela árvore, ou naquele nariz, por exemplo, eles não têm a forma "exata", que tiveram na época do Barroco. Isso, obviamente, não tira a beleza das obras de Renoir e Monet - dos quais eu, particularmente, sou admirador -, mas força-nos a dar-lhes o valor segundo o que querem nos passar: a intuição sensível, que abraça o conteúdo do todo, sem se preocupar com a necessária composição das partes. Eles não pretendem um registro "fidedigno" da realidade que pintaram. Esse registro teria que ser buscado através de outro método de acesso àquela "realidade".
Algo assim, parece-me, aconteceria com a intuição advinda da poesia, que precisaria ser completada por um discurso amparado por um método.
Acho que haverá mais capítulos da novela "Filosofia e poesia"... Alguém se arrisca a "rabiscar" mais algumas linhas?

4 comentários:

Anônimo disse...

Grande Amigo, entrei aqui para convidar o Cumpadre a visitar o seguinte endereço www.thebestfluoglobertrotterbrasileiro.blogspot.com

Este espaço é de um amigo tricolor, que terá ali uma coluna semanal , sobre qialquer assunto e principalmente o Flu, somente as sextas é que terá post, e esse amigo me convidou para escrever um Post sobre o que quisesse e escrevi sobre o Flu, visita lá e depois me fale o que achou.

Ricardo disse...

Querido cumpadre, minha primeira tentativa de entrar no blog não deu certo. Tem certeza que o endereço é esse mesmo? Dê uma "checada" e confirme para mim.
Agora... do Fluzão, eu sei que você gosta mesmo... mas e aquelas leituras? E a Filosofia? Já desistiu do Sponville?

Anônimo disse...

Não desisti não,é que agora voltei a ler, alguns livros técnicos, e diminui o ritmo nos mais profundos, mas em breve acabo a leitura do sponville, assim como o do Saramago.Bem sobre o blog o endereço é aquele mesmo www.thebestfluoglobertrotterbrasileiro.blogspot.com
o Dono do Blog o Olavo disse que um pessoa que ele não sabe quem, colocou o blog como conteudo adulto e então antes de entrar , tem uma pergunat se a pessoa quer continuar ou não.

Ricardo disse...

Depois de algumas tentativas sem sucesso, consegui ir ao blog.
Isso aí! Faço meus os seus votos para o nosso Fluzão.
Espero que o espaço do blog possa ser ocupado com fidalguia. Boa escrita por lá, também!