quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Relembrando a história da Filosofia

Seguindo nas minhas leituras sobre História da Filosofia, para tirar a poeira da memória, estou no finalzinho de "Iniciação à História da Filosofia", de Danilo Marcondes. O livro é muito bom. Entretanto, não posso deixar de registrar minha impressão de que ele é melhor na parte até Kant, perdendo em valor no conteúdo a partir de Hegel. Schopenhauer, por exemplo, é contemplado com pouco mais de uma página. Melhor um pouco é Nietzsche, que ganha três.
De qualquer forma, até Kant o material dá uma boa visão da Filosofia; valendo a pena ser lido.
Como sempre, meu olhar crítico se volta com maior acuidade para a parte sobre Spinoza. E, nesse aspecto, o livro merece os parabéns. Eu faria apenas três observações.
1) o texto registra, por engano, que o Tratado Teológico-político foi publicado em 1665, quando ele é de 1670;
2) uma passagem do texto indica que Spinoza tem uma "concepção de Deus não pessoal, nem mesmo religiosa, mas metafísica, e de Deus ser compreendido não como transcendente, mas como imanente à realidade natural", afirma logo depois que esta "posição filosófica será conhecida no pensamento moderno como teísmo, ou seja, uma concepção essencialmente filosófica e não teológica ou religiosa de Deus, segundo a qual Deus é essencialmente um princípio metafísico".
O termo "teísmo" deve ter sido colocado enganadamente no lugar de "deísmo". Além disso, realmente o deísmo remete a um Deus metafísico - ou "Deus dos filósofos" - em vez de a um Deus religioso, mas a percepção de Spinoza de um Deus imanente parece superar o conteúdo do sistema deísta em muito. Eu diria até que é uma das contribuições mais interessantes de Spinoza à Filosofia; e, por último,
3) o texto registra, conforme a ortodoxia, o chamado "panteísmo" de Spinoza - apesar de curiosamente ter indicado, como eu disse no item anterior, a proximidade com o "teísmo" (sic). Logo depois, inclui o escólio da Proposição 29, do Livro I, da Ética, onde Spinoza explica a diferença entre a "natureza naturante" e a "natureza naturada".
A observação que faço aqui não é contra Danilo Marcondes, mas contra a ortodoxia, que normalmente registra o lema spinozano "Deus sive Natura" igualando Deus unicamente à natureza material. Como pode ser visto na proposição transcrita por Marcondes, Spinoza iguala Deus à natureza naturante, que ele indica ser "o que existe em si e é concebido por si", que é justamente a definição da substância única spinozana. A natureza naturada, que Spinoza indica ser "aquilo que resulta da necessidade da natureza de Deus... coisas que existem em Deus...", é que corresponde à natureza material. Aliás, "coisas que existem EM Deus" pode sugerir o chamado "panenteísmo", em vez de "panteísmo". Mas isso é outra estória.
Um comentário final sobre Spinoza, ainda pertencente ao livro, é o que diz respeito à citação de que "tanto os cartesianos quanto os racionalistas, como Leibniz, criticaram Spinoza, não vendo nele um representante típico do racionalismo moderno". Eu acharia isso mais um elogio do que uma censura. Rsss.

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