quarta-feira, 8 de abril de 2009

Harry Potter, Dawkins e o papa

Para quem imagina que eu vou escrever sobre três assuntos diferentes nesse post, por causa do título, eu digo que é sobre uma coisa só... envolvendo as três personagens citadas.
O "vínculo" entre o papa e o bruxinho vem da condenação do nosso querido Herr Ratzinger, enquanto ainda era só cardeal, à personagem de J.K. Rowling. Em 2003, após tomar conhecimento do menino-bruxo, Ratzinger escreveu que Harry Potter representaria "uma sutil sedução, pouco perceptível, que tem um efeito profundo e corrompe a fé cristã nas almas antes mesmo de elas poderem crescer".
Dá para rir um pouco, mas não é de escandalizar. Afinal, as opiniões de Sua Santidade sobre o mundo "real" são meio curiosas mesmo.
Por outro lado, a ligação de Dawkins com o bruxinho também acaba por merecer algumas risadas. Segundo conta o artigo, de Paulo Ghiraldelli Jr., "O Caça às Bruxas de um novo Auguste Comte", Dawkins estaria propondo uma pesquisa para verificar os efeitos "anticientíficos" provocados nos jovens, por conta de acompanharem a saga da irmandade de bruxos e seres afins da estória de J.K. Rowling.
Algumas passagens do texto de Ghiraldelli Jr.
"É claro que é engraçado ver Dawkins envolvido nisso, quase que como um Papa reacionário invertido... Tudo isso parece meio que 'fora do lugar'. Todavia, podemos notar que o modo como Dawkins atua, e que nos pareceria um tanto que desajeitado nos anos setenta e oitenta, ganhou sentido nos anos noventa. Ele é um personagem de um enredo gerado pela maneira como os setores conservadores cresceram no Primeiro Mundo, mesmo entre os mais escolarizados. Os conservadores radicalizaram suas propostas, começaram a falar absurdos, como o caso de quererem fazer um confronto entre aulas de biologia, onde se ensinava teoria darwinista da evolução, com aulas de religião, onde se ensinava a doutrina dos Evangelhos. A minha geração cresceu vendo tal debate um pouco sem sentido, uma vez que se estava comparando coisas de ordens diferentes. Todavia, hoje em dia o debate ganhou sentido, e então pessoas como Dawkins tinham de aparecer e, enfim, apareceram mesmo".
O filósofo brasileiro conclui o artigo dizendo: "O problema é que a atitude de Dawkins não ajuda, pois acaba por recriar uma espécie de guerra fria. Não estamos mais na guerra fria política entre comunismo e liberalismo, mas em uma guerra fria entre ateísmo e não-ateísmo, ou melhor, entre cientificismo e fundamentalismo religioso. Não sei se isso pode ser considerado um retrocesso ou um avanço em relação à guerra fria que encerramos, a dos anos cinqüenta e sessenta. Mas o fato é que não vejo nada de interessante ou inteligente nela. O mesmo maniqueísmo de sempre apontando para fogueiras semelhantes. Isso não pode acabar bem".
Eu acho que Ghiraldelli Jr. é muito feliz quando aponta a guerra entre CIENTIFICISMO e FUNDAMENTALISMO RELIGIOSO. Essa guerra, então, acaba sendo entre dois "fundamentalismos", e não mais entre duas "opções metafísicas", passíveis de tentativas de defesa com argumentos bem colocados.
Agora... para o Dawkins: Eu gosto dos seus escritos... mas o Harry Potter também é bem legal. Deixa o bruxinho em paz! Rssss.

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