quarta-feira, 29 de abril de 2009

Uma certa dose de "inautenticidade"

Concordo com Heidegger de que o modo autêntico de ser, onde, ao invés de simplesmente viver como um "eu-eles", um "impessoal", se vive assumindo e realizando os próprios projetos, é o modo mais verdadeiro de realizar plenamente a nossa "humanidade". Se bem que já havia percebido em Spinoza esse modo mais pleno de viver, através da sua proposta do aumento do "conatus", muito antes de ler o filósofo da Floresta Negra.
De qualquer forma, há momentos em que se render ao "palavrório" - a Gerede heideggeriana - é uma necessidade ôntica nossa... para simplificar, uma necessidade para nossa saúde psicológica. É verdade que não chego a assistir ao Big Brother Brasil - o que, aliás, poderia vir a prejudicar minha tal "saúde psicológica". Rsss -, mas me dou o direito de pequenas comédias e leituras não-técnicas.
Ontem, por exemplo, concluí "O mundo é bárbaro - e o que nós temos a ver com isso", de Luís Fernando Veríssimo. O livro é uma coletânea de crônicas. É lógico que não se abandona totalmente o mundo enquanto se lê o Veríssimo. Afinal, ele nos remete constantemente à realidade, com seu característico olhar irônico. Aliás, essa ironia já é, por si só, uma forma de reflexão crítica dos fatos.
Pretendo citar alguns trechos do livro em posts futuros. Hoje, começo com esse:
"Um personagem de John Le Carré diz que ama a hipocrisia, porque ela é o mais próximo que o homem chegará da virtude... A frase sobre o amor à hipocrisia poderia ser de qualquer brasileiro decidido a resistir à desesperança e ao cinismo, por mais que o provoquem. Não somos otários, como pensam. Somos hipócritas. Isto é, otários conscientes. Otários porque alguém nesse país tem que fingir que é virtuoso. Para que a hipocrisia funcione e nos salve do caos, é preciso que a maioria faça seu papel: de otários. Nenhum brasileiro tem dúvida de que é logrado em tudo... A política que lhe vendem há anos é para otários. Essa elite... não existiria se os otários não estivessem compenetrados no seu papel. Aqui ninguém é otário por ingenuidade, é tudo simulação... São os otários que sustentam a República. No Brasil, a hipocrisia é uma forma de patriotismo".
Bem... ser otário e hipócrita por patriotismo já nos tira um peso das costas! E tenho certeza de que os nossos políticos levam esse nosso patriotismo muito a sério. É só ver que, logo depois daqueles escândalos das viagens aéreas, eles logo se propuseram um aumento.
Eita, patriotismo caro!
Outra, mais curtinha:
"Um enólogo francês foi contratado para produzir vinhos iguais aos da França na Califórnia. Depois de plantadas as videiras e instalados os equipamentos, ele disse: 'Pronto, agora é só esperar trezentos anos.'"
Eita, sinceridade desagradável!

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