segunda-feira, 6 de abril de 2009

"Wagner em Bayreuth"

O título do post se refere, obviamente, à última das quatro "Considerações extemporâneas" de Friedrich Nietzsche, que está sendo publicada em separado, pela Editora Jorge Zahar.
Como se sabe, Nietzsche viveu uma relação de amor e ódio com o compositor Richard Wagner. Inicialmente, Wagner foi considerado por Nietzsche como o redentor da arte - interpretação presente em "O nascimento da tragédia". Mais tarde, entretanto, Nietzsche percebe que Wagner só queria fazer sucesso, mantendo o status quo, o que acaba por levar o "bigodudo" filósofo a escrever "O caso Wagner", onde atribui todas as características negativas da arte moderna - da sua época - ao compositor.
O que achei interessante destacar do texto publicado no Jornal do Brasil, de autoria do professor de Filosofia da UFRJ Alexandre Mendonça, comentando o livro, foi a passagem em que ele explica: "Uma das ideias centrais do ensaio é a de que, na sociedade industrial, a arte moderna, longe de atender a fins elevados, longe de promover o fortalecimento da vida, desempenharia principalmente a função de entretenimento, separaria o povo de suas necessidades profundas - seu mito, seu canto, sua dança, suas criações de linguagem... Em última instância, a arte funcionaria como um narcótico cujo objetivo seria aliviar o homem do esgotamento e do tédio de sua existência, cumprindo assim um papel político bem definido: o de produzir e aprofundar certas condições típicas do regime social do mundo moderno, mais especificamente, aquelas que convertem os homens em 'modernos trabalhadores', cada vez mais dóceis, mais humildes e mais estranhos a eles mesmos".
O pior é saber que as considerações nietzscheanas negativas se faziam, também, para a obra de um Richard Wagner. Imaginemos, só por um instante, Nietzsche assistindo a um episódio da "obra de arte" que é o Big Brother Brasil... ou ele ficava curado da loucura ou morria do coração!
Mas, voltando...
Entretanto, o que mais chama minha atenção é a ideia de que "a arte [no sentido criticado por Nietzsche]... longe de promover o fortalecimento da vida, desempenharia principalmente a função de entretenimento, separaria o povo de suas necessidades profundas... funcionaria como um narcótico, cujo objetivo seria aliviar o homem do esgotamento e tédio de sua existência... aprofundando certas condições... que convertem os homens... [tornando-os] cada vez mais dóceis, mais humildes e mais estranhos a eles mesmos".
É superimportante, portanto, que estejamos ligados nesse "efeito narcótico" de qualquer "elemento" que queira tomar a nossa vida de nós, tornando-nos "estranhos a nós mesmos" e, também por isso, tornando nossa existência mais esgotada e tediosa. Afinal, após passado o efeito do narcótico, a realidade quase nos intima a voltar para aquele estado de "semivivência" e torpor do "qualquer-coisa-alucinógena" - seja arte, ideologia política, convicção religiosa, futebol, etc.

2 comentários:

Cecilia disse...

Olá, Ricardo. Tudo bem? Sou a Cecilia Castro, trabalho na Edelman, agência de comunicação de Jorge Zahar Editor. Bacana o seu post. Quando Nietzsche escreveu este Wagner em Bayreuth, o teatro ainda estava em fase de construção e só seria concluído depois com o apoio do rei da Baviera.
Abraços e parabéns pelo blog.

Ricardo disse...

Cecília, obrigado pela gentileza do comentário. Como "viciado" em leituras, que sou, não poderia deixar de possuir inúmeros exemplares da Jorge Zahar - editora de alta qualidade e de vários títulos interessantes na área da Filosofia. As coleções "90 minutos" e "Passo-a-passo Filosofia", por exemplo, são absolutamente necessárias a qualquer introdução em um pensador. Em relação a esta última, especificamente, a publicação de pensadores vinculando-os a suas obras maiores é de uma felicidade incrível - como "Heidegger & Ser e Tempo", "Maquiavel & O príncipe", e etc.
A série dos dicionários referentes ao vocabulário específico de cada filósofo é fantástica, para uma abordagem mais profunda de cada pensador.
Uma pergunta: será que existiria espaço no mercado para um "Dicionário Spinoza" e um "Spinoza & Ética"?
Eu sei que já existe o "Espinosa & a afetividade humana", do Gleizer, onde são feitas abordagens da metafísica spinozana. Mas um livro mais específico sobre o "Ética" de Spinoza, com ênfase na metafísica e na epistemologia spinozana seriam ótimos.
Novamente agradeço o comentário. Abraços.