sexta-feira, 15 de maio de 2009

Dialética(s)

Os termos, em Filosofia, vão se modificando ao longo do tempo, como ocorre com quaisquer palavras, mas, além disso, cada filósofo vai se apropriando do vocabulário filosófico de sua época e vai "torcendo-o", até que se ajuste ao seu pensamento.
Na última aula na Casa do Saber, o assunto era Platão. O professor Fernando Muniz explicava a priméria série de diálogos platônicos - os chamados "Diálogos socráticos" -, mostrando como Sócrates embaraçava seus interlocutores com seu típico método de inquirição; até que o pretenso especialista reconhecesse que não sabia quase nada sobre o que pensava saber. O professor explicou que, através dessa dialética (platônica), o fim dos diálogos era sempre uma aporia, ou seja, um "beco sem saída". Portanto, não se chegava à conclusão sobre o que Sócrates inquiria; havendo apenas um "conhecimento negativo", do tipo "só sei o que X não é"... em vez de saber o que X é.
Determinado ouvinte do curso perguntou: "Mas essa dialética só tem tese e antítese! Onde está a síntese?". O professor reforçou a ideia da falta de conclusão do diálogo como algo, de certa forma, intencional. Afinal, Sócrates estava reforçando a sua ideia "Só sei que nada sei!".
O problema, a meu ver, foi que o aluno pensou na "dialética hegeliana", tentando encaixá-la nos diálogos platônicos. O movimento de tese, antítese e síntese era autônomo, natural, para Hegel. Tese "gerando" antítese, e essas duas, em tensão, "gerando" a síntese, que ao contrário de ser uma resolução pacífica para o conflito tese-antítese, em que apareceria um terceiro elemento "inerte", era apenas um momento de resolução "borbulhante". O conflito continuava a existir, estando os dois elementos iniciais efervescendo de possibilidades criadoras, mas momentaneamente resolvidos... uma espécie de revolução que tem uma solução pactuada. Na verdade, os antagonismos continuam, mas "apacentados" momentaneamente pelo pacto.
Já na "dialética platônica", o que há é uma opinião pretensamente verdadeira, que submetida a um método específico de crítica vai se mostrando não tão rigorosa ou fixa, como se imaginava inicialmente. Sócrates não opunha uma opinião a outra, ele analisava a própria "tese" - se assim quisermos chamar, para aproximar a instância inicial da outra dialética -, a fim de perceber impropriedades lógicas dentro dela mesma.
Além disso, não precisa haver um par de polos antagônicos. Podemos dialogar criticamente partindo de várias opiniões. Elas podem se antagonizar, mostrando seus erros lógicos, sem que se harmonizem necessariamente em uma síntese final.

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