quarta-feira, 13 de maio de 2009

Uma verdade inconveniente

O post não se refere, apesar do título, ao livro de Al Gore, que virou documentário. O assunto aqui é a coluna de Dom Eugênio Sales, arcebispo emérito do Rio, publicada aos sábados no Jornal do Brasil e aos domingos em O Globo.
Na última coluna escrita, cujo título é "A essência da religião", Dom Eugênio expõe, sempre se valendo de trechos de textos "canônicos", o que é o "coração" da religião católica.
Numa passagem, D. Eugênio escreve de modo bastante claro: "Na sua essência, religião é o relacionamento com a divindade e não um instrumento para favores terrenos, busca de solução aos problemas econômicos, restabelecimento da própria saúde ou atendimento das aspirações que lhe vêm ao coração". O problema é que essa é "uma verdade incoveniente" de ser dita. Afinal, se o Catolicismo explicasse a todos os seus "fiéis" - tanto aos que vão às suas igrejas e principalmente aos que fazem promessas aos seus santos - que o que devem ter em mente, e no coração, quando pensarem em religião, é aquilo que o arcebispo emérito conceituou, estariam perdidas praticamente todas as "ovelhas do seu rebanho".
A verdade é que todos os católicos que não estudam a teologia, os católicos "populares", em sua simplicidade, querem justamente o oposto do que D. Eugênio disse, ou seja, querem benesses e proteção terrenas em troca de sua devoção.
Outra dessas "verdades inconvenientes" diz respeito ao que D. Eugênio explica em trecho posterior, ao referir-se especificamente ao "anseio por desvendar o futuro", "tentativas de contato com o além" e "práticas mágicas" de um modo geral. Ele escreve: "O progresso da ciência... poderia dar uma direção a essas atitudes... Com os maiores avanços técnicos, convive a busca de soluções em doutrinas que não se coadunam com o nível intelectual de nossos dias". Faltou, entretanto, o nobre arcebispo indicar que a própria religião que ele professa foi - para não dizer que ainda é - um local de embates insanos com "o progresso da ciência" e que este mesmo catolicismo poderia estar listado entre as "doutrinas que não se coadunam com o nível intelectual de nossos dias". Afinal, uma das justificativas cristãs utilizadas para rebater essa possível "cegueira" da ciência já vem lá do profeta Isaías, quando diz "Se não credes, não entendereis". Com isso, foram queimando - metaforicamente... ou não - muitos dos que apresentavam um "nível intelectual" mais próximo dos nossos dias.
Eu achava melhor quando a fé não apelava à razão para se justificar. Mas isso faz muito tempo. Quando São Paulo foi ao Aerópago, tentar explicar cristianismo aos gregos, o "mingau começou a criar caroço". Rsss.

Um comentário:

Júlio disse...

Ricardo, pra não ficar só nessa questão com a igreja católica, vc viu a tal históra do padre Edvino?
O padre (que não "é divino") deixou os cofres da Arquidiocese do Rio limpinho. Andava até de carro de luxo, gastando o dinheiro todo dos que colocam o dinheiro na sacolinha.
Se nem os padres se salvam, quem é que vai pro céu agora?
SDS.