terça-feira, 19 de maio de 2009

Sócrates vs. Nietzsche

Ainda na aula sobre Platão, o professor Fernando Muniz se revelou um apaixonado por Sócrates, ao defendê-lo da acusação de Nietzsche de que a Filosofia ocidental teria iniciado seu declínio justamente com a "Mosca de Atenas".
A acusação de Nietzsche era de que Sócrates teria se distanciado da vida para se preocupar meramente com conceitos.
O professor Fernando lembra - e seria impossível Nietzsche não saber disso - que, na época de Sócrates, as ações virtuosas justificavam uma vida, ou seja, indicavam que ela valia a pena ser vivida. Sócrates, ao inquirir sobre as virtudes, não estava se preocupando apenas com conceitos "vazios". Ele pretendia, ao contrário, valorizar o viver, justificando-o através das ações virtuosas. Mas... para agir virtuosamente, era necessário saber o que significa cada uma das virtudes. Até porque, eventualmente, duas aparentes ações virtuosas podem entrar em conflito, sendo necessário um julgamento correto para que a vida não perca seu valor.
Imaginemos o famoso julgamento de Salomão, onde uma mãe abre mão de permanecer com seu filho, a fim de que o poderoso rei-juiz não divida a criança em duas partes. Uma argumentação simplória poderia ver como "virtude materna" a ação de nunca entregar o filho para outrem. Entretanto, o "abandono" da criança, pela mãe, embora doloroso em si mesmo, era necessário para salvaguardar a vida do próprio ser que tanto se ama, e o qual não se deseja abandonar.
Esse é um exemplo simples, mas há problemas éticos de uma profundidade abissal, que necessitam que realmente se estabeleçam e se analisem com extremo cuidado os valores em jogo. Era essa possibilidade de viver bem que Sócrates queria alcançar, depurando o máximo possível o que se pensava ser determinada virtude, imaginada como apreensível através de fatos concretos apenas.
Seria muita ousadia dizer que Sócrates fez uma Fenomenologia? Afinal, suspendendo o conhecimento do fato, do dado na prática, Sócrates buscava algo que era a "essência" - o eidos - daquela determinada virtude, para não confundir a "ação virtuosa" - que obviamente continha a essência de determinada virtude - com a própria "virtude".

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