O aniversariante mais ilustre dessa época é Jesus Cristo... o fundador, ainda que assim não o tenha pretendido, do Cristianismo... ou seria, dos Cristianismos?
Pergunto isso porque estranho muito uma atitude que presencio vez por outra: a troca de "igrejas", por evangélicos meus conhecidos. Normalmente, fico sem resposta quando pergunto-lhes qual a diferença doutrinária que os fez mudar.
Posso estar sendo pouco severo na crítica, mas, por vezes, parece-me que há igrejas que estão mais "na moda" que outras.
O fato é que encontrei uma possível explicação num texto de José Arthur Giannotti, do livro "Notícias no espelho", ao qual já me referi em um post anterior. É bem verdade que eu espero que Giannotti esteja tão errado em sua crítica quanto eu, mas é uma possibilidade.
Transcrevo, então, algumas passagens de "Religião como investimento".
"Estava passeando pela TV quando dei com um culto da Igreja Mundial do Poder de Deus. [...] No culto da TV, o pastor simplesmente anunciou que, dado o aumento das despesas da Igreja, no próximo mês o dízimo subiria de 10% para 20% ['dízimo' de 20%!?!? Isso não é uma contradictio in adjecto ?!?!] [...] Notável é que o dízimo não era pensado como doação, mas simplesmente como devolução: já que Deus neste mês dera-lhe tanto, cabia ao fiel devolver uma parte para que a Igreja continuasse no seu trabalho de mediador. [...] Em vez de o salário ser considerado como retribuição ao trabalho, o é tão só como dádiva divina. [...] Se o salário é dádiva, precisa ser recompensado. Não segundo a máxima franciscana 'é dando que se recebe', pois não se processa como ato de amor pelo outro. No fundo vale o princípio: 'Recebes porque doastes'. E, como esse investimento nem sempre dá bons resultados, parece-me natural que o crente mude de igreja, como nós procuramos um banco mais rentável para nossos investimentos. [...] Esse novo crente não mantém com a Igreja e seus pares uma relação amorosa [...] sua adesão não implica conversão, total transformação do sentido de seu ser. Ele apenas assina um contrato integral que lhe traz paz de espírito e confiança no futuro. Em vez de conversão, mera negociação. Essa religião não parece se coadunar, então, com as necessidades de uma massa trabalhadora, cujos empregos são aleatórios e precários?".
Como eu disse antes, espero que o "diagnóstico" de Giannotti esteja tão errado quanto o meu... até porque não acredito que meus conhecidos tenham em mente esse mero acordo "comercial", pelo menos de modo consciente, quando trocam de "um Cristianismo para outro". Entretanto, tenho que reconhecer que é um ponto de vista.
Apesar disso, o que não discordo de Giannotti é um trecho que fecha o texto em questão. Escreve o autor:
"Essa teologia pentecostal se aproxima, então, do maniqueísmo. Como sabemos, o sacerdote Mani (também conhecido como Maniqueu), ativo no século III, pregava a existência de duas divindades igualmente poderosas, a benigna e a maligna. Isto porque o mal somente poderia ter origem no mal. A nova teologia pentecostal empresta o mesmo valor aos dois princípios e, assim, ressuscita a heresia maniqueísta, misturando cristianismo com teologia pagã".
Em alguma medida, realmente, o que o Cristianismo evangélico tende a fazer é dar ao lado mau praticamente tanta força quanto ao lado bom... ressuscitando o maniqueísmo, portanto.
Pergunto isso porque estranho muito uma atitude que presencio vez por outra: a troca de "igrejas", por evangélicos meus conhecidos. Normalmente, fico sem resposta quando pergunto-lhes qual a diferença doutrinária que os fez mudar.
Posso estar sendo pouco severo na crítica, mas, por vezes, parece-me que há igrejas que estão mais "na moda" que outras.
O fato é que encontrei uma possível explicação num texto de José Arthur Giannotti, do livro "Notícias no espelho", ao qual já me referi em um post anterior. É bem verdade que eu espero que Giannotti esteja tão errado em sua crítica quanto eu, mas é uma possibilidade.
Transcrevo, então, algumas passagens de "Religião como investimento".
"Estava passeando pela TV quando dei com um culto da Igreja Mundial do Poder de Deus. [...] No culto da TV, o pastor simplesmente anunciou que, dado o aumento das despesas da Igreja, no próximo mês o dízimo subiria de 10% para 20% ['dízimo' de 20%!?!? Isso não é uma contradictio in adjecto ?!?!] [...] Notável é que o dízimo não era pensado como doação, mas simplesmente como devolução: já que Deus neste mês dera-lhe tanto, cabia ao fiel devolver uma parte para que a Igreja continuasse no seu trabalho de mediador. [...] Em vez de o salário ser considerado como retribuição ao trabalho, o é tão só como dádiva divina. [...] Se o salário é dádiva, precisa ser recompensado. Não segundo a máxima franciscana 'é dando que se recebe', pois não se processa como ato de amor pelo outro. No fundo vale o princípio: 'Recebes porque doastes'. E, como esse investimento nem sempre dá bons resultados, parece-me natural que o crente mude de igreja, como nós procuramos um banco mais rentável para nossos investimentos. [...] Esse novo crente não mantém com a Igreja e seus pares uma relação amorosa [...] sua adesão não implica conversão, total transformação do sentido de seu ser. Ele apenas assina um contrato integral que lhe traz paz de espírito e confiança no futuro. Em vez de conversão, mera negociação. Essa religião não parece se coadunar, então, com as necessidades de uma massa trabalhadora, cujos empregos são aleatórios e precários?".
Como eu disse antes, espero que o "diagnóstico" de Giannotti esteja tão errado quanto o meu... até porque não acredito que meus conhecidos tenham em mente esse mero acordo "comercial", pelo menos de modo consciente, quando trocam de "um Cristianismo para outro". Entretanto, tenho que reconhecer que é um ponto de vista.
Apesar disso, o que não discordo de Giannotti é um trecho que fecha o texto em questão. Escreve o autor:
"Essa teologia pentecostal se aproxima, então, do maniqueísmo. Como sabemos, o sacerdote Mani (também conhecido como Maniqueu), ativo no século III, pregava a existência de duas divindades igualmente poderosas, a benigna e a maligna. Isto porque o mal somente poderia ter origem no mal. A nova teologia pentecostal empresta o mesmo valor aos dois princípios e, assim, ressuscita a heresia maniqueísta, misturando cristianismo com teologia pagã".
Em alguma medida, realmente, o que o Cristianismo evangélico tende a fazer é dar ao lado mau praticamente tanta força quanto ao lado bom... ressuscitando o maniqueísmo, portanto.