quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Boas entradas

   Caros amigos, este é o último post do ano de 2009. Nele, pretendo registrar toda a felicidade que tive este ano em poder compartilhar com essa coleção especial de bons amigos algumas ideias... ou, antes, projetos de ideias - já que sempre lhes falta um acabamento.
   Bem... consideremos, então, que faço, como Gabriel Marcel com seu Journal Metaphysique, um registro de fragmentos que poderão, um dia, vir a ser uma tese completa sobre determinado assunto - viste como não esqueci teu desafio, amigo Guilherme? Entretanto, mais importante do que os meus fragmentos são as diversas discussões que um mesmo tema suscita. E essas são fruto da participação dos "amigos dos amigos".
   Fechando o ano, então, agradeço profundamente a todos vocês. E... para abrir o Ano de 2010, renovo meus votos de muita saúde, muita harmonia, plena realização de desejos pessoais e familiares, e tudo de bom que lhes puder ser dado ou obtido.
   Obrigadão e, novamente, Feliz 2010!!!

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

"Os piores cenários possíveis" (1)


O cientista social, diretor de pesquisas do "Centre National de la Recherche Scientifique", na França, Michael Löwy, escreveu um artigo com o título do post no Le Monde Diplomatique deste mês.
O texto faz um diagnóstico do momento presente da nossa relação com o ambiente; considera o cenário futuro, caso nada seja feito, e, mais importante do que isso, apresenta o que ele chama de "Alternativa Ecossocialista".
Sem entrar no mérito se o mais importante é adotar a tal alternativa "Ecossocialista" - que, por si só, já embute uma opção política, a socialista -, não se pode negar que alguns dos itens abordados parecem ações altamente possíveis de se tornarem concretas.
O autor, inicialmente, indica que "tudo está mais rápido do que se previa [...] Não se fala mais sobre o que vai acontecer no final do século... mas nos próximos 20, 30 ou 40 anos". Explica-se que "Essa aceleração pode ser explicada, entre outras coisas, por efeitos de realimentação", e dá exemplos: "1) o derretimento das geleiras do Ártico... diminuindo... o grau de reflexão da irradiação solar (ele atinge seu máximo nas superfícies brancas), só pode aumentar a quantidade de calor absorvida pelo solo [...] 2) a elevação da temperatura do mar transforma superfícies dos oceanos em desertos sem plâncton nem peixes, o que reduz sua capacidade de absorver o dióxido de carbono" (esse tal dióxido de carbono irá permanecerá na atmosfera, agravando o aquecimento). Apresentam-se dados do IPCC (Painel Internacional de Mudanças Climáticas) e a conclusão de Mark Lynas de que "um planeta com seis graus a mais seria bem pior que o Inferno descrito por Dante em A divina comédia". E, de acordo com o relatório do IPCC, a elevação da temperatura pode ultrapassar esse parâmetro, que é, até agora, o máximo previsto.
Um outro dado interessante - e que pode começar a convencer os incrédulos - é que "todos esses processos começam de maneira gradual, mas a partir de um determinado momento podem se desenvolver por meio de saltos [...] com grande variação rápida e incontrolável do aquecimento".
O autor se assume marxista, com isso, obviamente, culpa o capitalismo pela incapacidade de inverter o curso das coisas.  Com a sua opção, exige "uma mudança radical e estrutural, que atinja os fundamentos do sistema capitalista: uma transformação não só das relações de produção, mas também das forças produtivas"; parece fazer eco ao nosso amigo do blog, Existenz, quando diz que essa mudança "envolve uma revolução do sistema energético e de transportes e dos modos de consumo atuais, baseados na dilapidação e no consumo ostentatórios, induzidos pela publicidade. Em suma, trata-se de uma mudança do paradigma da civilização". Não quero dizer que Existenz ratificaria toda essa passagem citada, mas, parece-me concordaria com sua essência.
O trecho onde Michael explica o novo "sistema ecossocialista" é o seguinte: "a produção será democraticamente planejada pela população; ou seja, ... as grandes decisões sobre as prioridades da produção e do consumo não serão mais decididas por um punhado de exploradores, ou pelas forças cegas do mercado, nem pela oligarquia de burocratas e especialistas, mas pelos trabalhadores e consumidores. Em síntese, pela população, após um debate democrático... entre diferentes propostas. É o que designamos ecossocialismo". E ele ainda explica um pouco mais: "Ecossocialismo... é uma corrente de pensamento e de ação... que toma para si as conquistas fundamentais do socialismo - ao mesmo tempo livrando-se de suas escórias produtivistas. Para os ecossocialistas, as lógicas do mercado e do lucro, assim como a do autoritarismo burocrático inflamado, o 'socialismo real', são incompatíveis com as exigências de salvaguarda do ambiente natural".
Particularmente, penso que uma decisão desse tipo só poderia partir de uma sociedade plenamente participativa e consciente de todas as variáveis envolvidas na questão... o que acho impossível ocorrer na maioria dos países que obrigatoriamente se envolverão nessa decisão - que, lembro, é de nível mundial. Mas acho que essa pode ser uma meta... desde que se pense na adoção de tal sistema.

Depois, eu continuo!

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Três notas da revista Época da semana passada


   Acabou o julgamento da brasileira Paula Oliveira, aquela que teria sido atacada por neonazistas na Suíça. Final da estória: a brasileira foi condenada pela Justiça suíça a pagar uma multa de R$ 22 mil. Ela, entretanto, afirma: "Fui agredida. O ataque é a verdade que está guardada na minha cabeça".
   Longe de tudo, portanto, sem condições de julgar nada, eu só achei estranho o "... é a verdade... na minha cabeça". A ideia de "verdade", para o senso comum, no mínimo, corresponde à intersubjetividade. Se algo é uma "verdade" guardada na "minha" cabeça, pode ser que ela seja uma espécie de ilusão, arquitetada, por exemplo, por uma mente não muito sadia - aliás, essa seria uma suspeita que recairia sobre a nossa compatriota.
   Outra nota. Frase do Sr. Antônio Carlos Rodrigues, do PR, presidente da Câmara Municipal de São Paulo, sobre o "pequeno" aumento proposto para o Exmo. Sr. Prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, que passaria a perceber a quantia de modestos R$ 23 mil mensais: "Quem consegue viver com R$ 5 mil por mês?".
   Seria bom alguém avisar ao digníssimo vereador que há um montão de gente que não tem opção a não ser viver com muito menos que R$ 5 mil. Não quero dizer que não sou favorável ao valor oferecido à figura máxima do Executivo municipal da maior cidade do Brasil... mas que se use outra justificativa, que não a do senhor vereador.
   Eu não sou fã dos banqueiros americanos, mas fiquei empolgado com a notícia - mais ainda se ela se concretizar - de que "O Citibank anunciou que vai devolver US$ 20 bilhões recebidos do governo americano no pacote de ajuda aos bancos. A maioria das grandes instituições financeiras já se comprometeu a repor o dinheiro que veio dos contribuintes". Ao lado da nota, havia um quadro com os valores: Wells Fargo, US$ 25 bilhões; Bank of America, US$ 45 bilhões; Morgan Stanley, US$ 10 bilhões; JP Morgan US$ 25 bilhões, e Goldman Sachs, US$ 10 bilhões. E ainda há que se registrar que o Citibank ainda teve US$ 25 bilhões convertidos em ações que passaram para o governo.
   É bem verdade que o governo dos EUA "derramou" mais de US$ 1 trilhão na economia e eu não sei quanto disso foi parar especificamente no sistema bancário, mas o fato é que a demonstração, mínima que seja, da intenção de devolver dinheiro público é algo fantástico... na "minha cabeça". 
   Bem... deixo esse último assunto para os especialistas de plantão, como meus compadres Mundy e Paulo, por exemplo.

Outro aniversário


Outro aniversário de alguém que não acompanha diretamente o blog. Desta vez, da minha "filhota" Rafaela.
Saúde e muita alegria! Ah... e muito estudo também!
Um bilhão de beijos, do seu pai "babão".

O "irracionalismo", segundo Benedito Nunes


Benedito Nunes, em A Filosofia Contemporânea, descreve o "irracionalismo" na Filosofia Contemporânea sob outras persepctivas, que não somente aquela de mera "oposição à racionalidade".
Interessante registrar aqui.
"O que se chama de irracionalismo na Filosofia Contemporânea é, muitas vezes, a não conformidade com a razão apriorística, cartesiana, origem do idealismo moderno, e também discordância com a concepção psicológica de fundo individualista da experiência segundo o empirismo. O irracional é também o nome do teor social, coletivo e impessoal da experiência, como o que decorre do conteúdo ideológico do conhecimento, [...] dos sistemas linguísticos, da tradição histórica ou da simbologia do inconsciente. Pode ser também o lugar filosófico que ganharam certas realidades irredutíveis ao pensamento analítico, como a disposição afetiva, em contraste com a desconfiança no testemunho da consciência de si; é, de qualquer modo, também, uma reação implícita à noção fenomenológica de intencionalidade à transparência congnoscitiva da consciência.
Em resumo, o irracional, quando não é deliberado antirracionalismo de combate, como nas posições de Nietzsche, é o nome provisório de uma nova razão, ainda somente vislumbrada [...] uma razão operante, advogada por Gaston Bachelard, que se constroi com a experiência, construindo o seu objeto".

Colocando assim, dá até para defender parte desse "irracionalismo"!

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

O desafio de Marise

Num dos últimos posts do blog "Filosofar é preciso!!!", nossa querida Marise lançou um desafio para alguns amigos. Entre eles, eu. O desafio constava de preparar uma lista de cinco manias pessoais e "passar à frente" o mesmo desafio.
Vamos lá, então. Minhas cinco manias:
1ª) comprar mais livros do que consigo ler;
2ª) procrastinar a arrumação do meu armário de papeladas e da estante de livros;
3ª) cobrar demasiado dos meus filhos;
4ª) uma cervejinha ao cair da tarde no bar perto da praia; e
5ª) preferir ficar em casa nos finais de semana.


Bem... agora, vamos ver quem serão os amigos que receberão a mesma missão.

Roberson "Marcquiavel" do http://maquiaveli.blogspot.com/

Missão cumprida...

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

É Natal... ou quase

Quero aproveitar o post de hoje para desejar a todos os "amigos dos amigos" uma ótima noite de Natal. Espero que a saúde e a tranquilidade sejam os primeiros presentes que recebam, e em quantidade tão grande que continuem durando por todo o ano de 2010... mas, que venham também os presentes materiais mais desejados.
Excepcionalmente, repetirei um post. Como, no Natal do ano passado, vários amigos que visitaram o blog gostaram do que escrevi e, além disso, alguns atuais "amigos dos amigos" não estavam por aqui, dar-me-ei essa licença.
Aos que já haviam lido, peço desculpas pela repetição. Aos que não leram ainda, espero que gostem.
O título foi "Feliz aniversário, Jesus!". Foi assim:

Apesar de não ser cristão, vivo numa sociedade fundamentalmente pertencente a essa religião. É bem verdade que muitos desses "cristãos" sequer lembram do aniversariante, tão preocupados que estão com as filas nos shoppings. De qualquer forma, o não pertencimento a um sistema religioso não me impede de admirar seus grandes personagens - mesmo que com um olhar mais crítico do que o "fiel". Há, portanto, que reconhecer - como, aliás, havia feito o "excomungado" judeu Spinoza - o quão magnânimas são as lições de Jesus, o Cristo. Aliás, talvez mais o exemplo do que as lições. Discute-se se o Cristianismo vivido atualmente é apenas um "Paulinismo" - adaptação da mensagem original de Jesus por São Paulo - mas isso não diminui a grandeza espiritual de seu fundador. A mim parece, particularmente, que as vidas de São Francisco de Assis e de Lutero, este, no primeiro momento, seguem melhor o paradigma de Jesus do que toda a Igreja edificada sobre Pedro - como ele pedira ao seu discípulo.

O mais lindo na mensagem "crística" - ou seja, pertencente ao Cristo Jesus - foi, parece-me, a ampliação do alcance do "mandamento" judaico, constante no Levítico, capítulo XIX, versículos 17 e 18, do "Ama ao próximo como a ti mesmo" - Bom lembrar que quem me ensinou que essa idéia não era originalmente cristã foi Baruch Spinoza, no seu Tratado Teológico-Político. Mas, voltando... Jesus, o Cristo, ampliou esse regramento, que se destinava apenas ao tratamento entre "irmãos" da comunidade judaica, para incluir a humanidade inteira.

Novamente, feliz Natal a todos!

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Novas boas vindas!

Ah... já ia esquecendo... boas vindas para nossos mais novos "amigos dos amigos", Silvia e "Varride". Espero que gostem do espaço e reforço a ideia de que se sintam à vontade para participar livremente.

"A falta de uma alternativa de esquerda"

Renato Janine Ribeiro escreveu uma matéria com o título que reproduzi acima, na revista "Filosofia - Ciência & Vida" deste mês.
No texto, Renato Janine fez uma análise interessante - embora eu ache que possamos refletir um pouco mais em alguns pontos - sobre a atual ausência de uma proposta séria de substituição do neoliberalismo por parte do pensamento de "esquerda".
A matéria começa com a seguinte afirmação: "Um ano atrás, desabou a utopia neoliberal". Frase forte! Mas será que desabou mesmo? Será que, vez por outra, talvez até por excesso de confiança no sistema, não ocorrem mesmo "economotos" (um "terremoto econômico")? Particularmente, acho que esse foi mais um e que, de modo algum, a "utopia neoliberal" desabou... até pelo fato que o sistema neoliberal tem muito pouco de utopia, estando presente na realidade de modo bastante pragmático e vivo.
Depois, Renato constata o fato de que essa falta de alternativa já vem de longe, identificando quando se deu o "fim" efetivo do comunismo/socialismo, numa boa explicação histórica. Escreve ele que "a esperança no comunismo resistiu até mesmo à crueldade de Stalin e Mao Tse-tung. Mas o que marcou o seu fim foi a destruição da experiência do comunismo (ou socialismo) 'com rosto humano', efetuado na então Tchecoslováquia, em 1968". E aí, conta que, no início de 1968, o Partido Comunista destituiu o velho ditador tcheco Antonin Novotny, assumindo o poder, em seu lugar, Alexander Dubcek. A partir daí, conquistou-se a liberdade de imprensa e foram denunciados os vinte anos de abusos da ditadura. Essa foi a chamada "Primavera de Praga". A parte ruim da história vem a seguir dessa discussão de um comunismo democrático, contada da seguinte forma: "Isso acabou em 21 de agosto de 1968, quando tropas da União Soviética... invadiram a Tchecoslováquia".
Aliás, para quem quer reviver um pouco aquele "clima" da Primavera de Praga, vale a pena ver o filme - ou ler o livro - "A insustentável leveza do ser", de Milan Kundera.
A última reflexão de Renato Janine diz respeito a uma possível contradição teórica marxista: a supressão do Estado e a necessidade de um ente que fale em nome da sociedade.
Realmente, não sei como Marx teorizou essa "substituição". A visão ortodoxa, seguindo a linha leninista, colocou no lugar do Estado burguês o partido único. Rosa Luxemburgo, teorizou, logo no início da Revolução Russa, ainda segundo Renato Janine, que só haveria socialismo democrático se os partidos não socialistas fossem permitidos. E o autor registra sua opinião de que "a teoria marxista sairia chamuscada de qualquer debate sobre um socialismo democrático". E avança, ao escrever: "Teria que se combinar com teorias, até mesmo liberais... O socialismo precisa do liberalismo, o que Marx nunca aceitaria".
Renato reforça a impossibilidade, senão teórica, pelo menos prática, da compatibilidade entre socialismo e liberdade. Ele conclui seu texto, resumidamente, da seguinte forma: "Depois de 1968, os exilados se interessaram cada vez menos por Marx. O filósofo polonês Leszek Kolakowski [Ele apareceu novamente, hein, pessoal!] ou a húngara Agnes Heller, que comentaram o marxismo, tomaram novos rumos. Os tchecoslovacos, nem se fala... O socialismo se dividiu, no século XX, entre comunistas, que queriam acabar com o poder do capital, mas eram antidemocráticos, e social-democratas, que respeitavam as liberdades, mas conciliavam com o capital... O comunismo democrático não chegou sequer a engatinhar. Não estranha que, hoje, o marxismo não consiga propor nada consistente no vazio do neoliberalismo".
Como eu registrei antes, não sei se essa absoluta impossibilidade da compatibilidade entre socialismo e liberdade, que Renato Janine identifica, é estrutural, ou se fica apenas no plano da constatação histórica da prática socialista. Imagino que, pelo menos em tese, o socialismo deveria garantir justamente uma maior participação do povo, com uma certa liberdade. Há que se pensar que haveria necessariamente, de acordo com as teses marxistas, um período chamado "ditadura do proletariado", onde a força estaria presente, a fim de dar continuidade ao processo de socialização. Quem sabe, vencida essa fase, as coisas pudessem começar a se modificar...

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Spinoza, por Onfray (3)

Continuando...
Michel Onfray cita duas passagens, sobre religião, em que Spinoza praticamente repete pensadores gregos distantes.
Na primeira, lembramos imediatamente de Xenófanes, quando o Onfray diz que Spinoza "afirma que um triângulo dotado de palavra exprimiria a natureza triangular de Deus". Na segunda, e nesta o autor francês estabelece esse paralelismo, Onfray escreve que "Espinosa efetua uma genealogia da religião: os homens inventam deuses por medo, por temor. Essa ideia já se encontra em Lucrécio, no seu Da Natureza. Medo do desconhecido, da morte, do tempo que passa, do seu destino, do real, do que resiste ao entendimento, medo de viver. Donde as lógicas irracionais ativadas pelo pensamento mágico, tão prático para conjurar a angústia existencial dos indivíduos e das coletividades".
Aliás, lembro-me também, aqui, da gênese divina segundo Freud.
Mas que se acautele quem imagina Spinoza um "ateu" no sentido comum. O francês também registra que "Espinosa combate sinceramente o ateísmo e recusa que se faça da sua obra um trabalho ímpio e negador de Deus. Mas Deus não tem forma humana, não se pode lhe emprestar sentimentos humanos, ele não é separado do real".
"À sua análise genealógica", escreve ainda Onfray, "o filósofo acrescente uma mecânica das religiões: elas servem para os poderes políticos embasarem sua autoridade". É certo que, devido à laicização atual, esse papel da religião pode ter se enfraquecido em relação à época spinozana. Mas há movimentos teocráticos claros em todo o mundo. E mesmo em países tidos como amplamente laicos, como é o caso do Brasil, por exemplo, forças religiosas pretendem tomar "à força" o papel de solucionadoras de dilemas morais, a partir do uso de regras absolutas, provenientes de uma iluminação sobrenatural. E se vangloriam de estar elegendo "homens de bem" para conduzir as questões políticas. Ou seja, sem perceber claramente, vamos voltando a misturar as questões religiosas e seculares.
Onfray afirma que Spinoza propõe uma religião imanente, sem "além-mundos", e a define resumidamente como "justiça e caridade". Li o Tratado Político, de Spinoza, mas realmente não lembro da informação de Onfray de que isso é "várias vezes escrito" lá. Mas, realmente, lembro da admiração de Spinoza pela figura humana de Jesus Cristo, que Onfray associa a essa religião imanente, escrevendo: "...observemos a vida de Jesus e isolemos seu ensinamento encarnado em exemplos".
Mudando um pouco da religião para a forma da Ética.
Sobre o método geométrico spinozano, Onfray escreve: "A densidade dos encadeamentos matemático e lógicos torna mais lenta a vitalidade do pensamento... A forma apolínea e geométrica obstaculiza o fundo dionisíaco panteísta e poético". E ainda: "A exposição geométrica desejada por Espinosa impede o 'espírito de finura' caro a Pascal. A obra é um monstro filosófico".
O polêmico Onfray, mais uma vez "tumultua" as coisas; afinal, ele é dos que gostam de Spinoza. Esse "monstro filosófico" que ele usa, parece indicar o contrário. Mas não podemos negar que a filosofia francesa tem a fama de dar valor tanto ao conteúdo quanto à forma dos textos... e, a forma spinozana, embora vangloriando-se do rigor, torna-se "pesada", realmente.
E... que venha o "Spinoza, por Onfray (4)"!

Marina Silva, sobre o COP 15

A senadora Marina Silva é internacionalmente conhecida por seu posicionamento diante da questão ecológica. Como não poderia deixar de ser, ela esteve presente ao COP 15. Em artigo escrito em O Globo, ela opiniou sobre o resultado do encontro. Gostaria de registrar aqui trechos do texto, não só pela inteligente abordagem, mas também pela inusitada comparação que ela faz ao final... bem típica de um brasileiro.
Escreveu Marina:
"Não se pode dizer que o desenrolar meio decepcionante da Convenção do Clima (COP-15)... tenha sido inusitado ou surpreendente... Os discursos sem correspondência prática, os oportunismos, a defesa repetitiva de posições tradicionais de poder, estava tudo lá... Mas, ao mesmo tempo - e felizmente - [em] um evento do porte da Convenção do Clima... há... a energia e as contradições de um embate que naturalmente desnuda esquemas, expõe vacilos e faz com que as forças reais presentes tenham que lidar com a impossibilidade de manter intactos seus interesses e sejam levadas a pensar, ainda que minimamente, num universo maior do que a sua visão particular... Copenhague mostrou que é preciso mudar o roteiro... No antigo conceito de segurança planetária, o referencial era a guerra... O medo da destruição nuclear, da falta de petróleo, entre tantos ícones dessa ideologia da segurança, alimentou uma indústria bélica monumental para 'cuidar do mundo', segundo a visão dos senhores da guerra... Hoje, o risco ambiental que ameaça o planeta está muito além da capacidade desse antigo conceito, mas ninguém se apresenta, com o mesmo entusiasmo, para evitar a destruição provocada por essa nova forma de guerra. Talvez porque ela acontece em outro plano e não se tenha uma indústria 'bélica' tão lucrativa por trás".
Apesar dessa constatação inicial, Marina reafirma sua fé numa mudança, quando escreve: "... acredito em milagre, e ele já aconteceu: foi a voz da sociedade dizendo que entendeu o tamanho do problema e das dificuldades e que dá respaldo para as mudanças necessárias".
Mas Marina reforça que somente esse "milagre" que ela identificou não resolverá a questão, e diz que os mandatários que não perceberem a necessidade da urgência das mudanças "continuará à cata de milagres, quando na verdade já estão dadas as condições para agir".
Por fim, sua "brasilianidade" coloca as coisas nos seguintes termos: "Desde a Rio 92 sabíamos que haveria esta Copa do clima, mas os atletas não treinaram. Pelo contrário, chegaram em péssima forma física e, em campo, fazem o mínimo para manter o empate, quando não há mais empate possível. Já estamos na hora da cobrança dos pênaltis. E mais uma vez caberá à opinião pública internacional empurrar o time".
A maior dificuldade, parece-me, da questão climática é que ela acabou tomando um viés político e social. Que governo quer, a essa altura de globalização do "desemprego estrutural", abrir mão de sua produtividade frenética - ainda que às expensas dos recursos naturais -, e, com isso, deixar de lado seu crescimento e geração de novos empregos - o que diminui o impacto sobre a área social -, trocando esse momento presente - e as eleições de um futuro imediato - por um benefício que só será plenamente percebido na próxima geração?
Sem falsas ilusões, acho que ninguém, isoladamente, tem condições de fazê-lo. Também é lógico que, a essa altura, quem já se desenvolveu não se importa muito com as necessidades dos países emergentes de o fazer. De outro lado, quem está crescendo se preocupa mais em continuar a fazê-lo, imputando a culpa da situação atual a quem, outrora, poluiu demais, justamente para chegar à situação de desenvolvimento de hoje.
A promotora desse "encontro de opiniões" só poderia ser mesmo uma instituição internacional, com isenção suficiente para convencer a cada um que ele tem que parar um pouco de "olhar para seu próprio umbigo", assumindo, em conjunto, a tarefa de reequilibrar as condições ambientais, o que certamente beneficiará a todos. Mas essa instituição ideal não me parece estar plenamente representada pelo que, hoje, é a ONU.
A situação, penso, já é urgente, mas acho que as providências efetivas só começarão a ser tomadas quando a coisa avançar para o quase insuportável.
Espero que, então, já não seja tarde demais!

domingo, 20 de dezembro de 2009

Mário Sérgio Cortella disse...

"Por vezes, quebra de decoro é chamar o outro político de V. Exa.".
A que ponto nós chegamos na política, hein!

O Nobel de Obama


Obviamente, o Nobel de Obama não foi pelo que ele já fez, como é o procedimento usual, mas pelo que ele pode fazer. Pelos "indícios" que ele deu, fez-se uma aposta.
Mas... foi só isso? Não teria sido também uma forma de pressão, ainda que sutil? Tendo em vista decisões que teriam que ser tomadas pelos Estados Unidos, em relação às guerras em andamento, aumentar-se-ia a responsabilidade de Obama, com o tal prêmio Nobel, de responsabilizar-se com um movimento de retirada de seu contingente.
O prêmio, em si, é tão espantoso que o próprio Obama, em seu discurso de aceitação, citou o fato de ser premiado apesar de ser o "comandante de uma nação em meio a duas guerras". Portanto, nem é disso que eu quero falar nesse post. O fato é que, por conta da simpatia de Mr. Barack, o apoio a seu discurso tem me parecido um pouco desmedido.
Vemos, por exemplo, repetidamente as opiniões do jornal O Globo registrarem que, ainda que mantendo a mesma política beligerante de Bush, Obama não aceita abusos como os de Guantânamo e, repercutindo a citação do presidente, que não é possível convencer os talibãs e a Al-Qaeda a estancar o processo de violência.
Neste último domingo, chegou-se a escrever, no Editorial de O Globo, ainda repercutindo a fala do presidente Obama, que "um movimento de não violência não poderia ter parado os exércitos de Hitler". É verdade... mas acho que teríamos que perceber quem é o "agressor" nessa situação atual. Sem pretender culpar Obama pela interferência no Afeganistão e no Iraque, e ainda concordando que não é possível eliminar abruptamente essa mesma interferência, não se pode negar que, em termos efetivos, a modificação entre os presidentes Bush e Obama se deu apenas no campo do discurso... o que ainda é muito pouco.
Mas, o pior mesmo, na minha opinião, foi a reintrodução do conceito de "Guerra Justa". Qual governo não apela à justiça quando vai entrar em guerra? Qual o soldado que parte para o campo inimigo apenas para "assassinar" mulheres e crianças indefesas? É certo, entretanto, que se ele encontrar, na sua campanha, mulheres e crianças "enganadoras", que tentam ajudar os inimigos "criminosos" e "maléficos", poderá matá-los... mas aí, é outra coisa!
Esperemos que não precisemos ter guerras - nem justas, nem injustas! Precisamos, sim, de uma ONU forte, mediadora de conflitos pontuais, com tal peso que acabe por "abafá-los", em vez de precisar combatê-los.

Voltando...


Concluída a tarefa pessoal que me impediu de "atuar" com mais presença nesse espaço, volto às postagens e ao acompanhamento efetivo dos blogs dos queridos amigos.
Então, em primeiro lugar, quero registrar o lindo trabalho de minha "sobrinha" - por adoção afetiva - Sara Portugal, bem como de suas colegas, através do blog www.apagadosnotempo.blogspot.com , que traz a questão "Como (con)viver com o Alzheimer?".
O blog traz um projeto visual jovem e, muito mais do que isso, apresenta informações sobre esse mal que quebra vínculos tão importantes entre familiares. E faz um trabalho importante, por exemplo, quando indica locais e produtos onde e cujas compras acabam por contribuir com programas de interesse público.
Estão de parabéns as meninas! No caso específico de minha "sobrinha" Sara, parabenizo também seus pais, Jorge e Maria, por terem passados tantos valores preciosos à menina tão querida.
Gostaria muito que os amigos do blog pudessem prestigiar o trabalho das meninas, visitando seu blog.
Agradeço desde já.
A propósito... dentre as lindas meninas que aparecem no blog, a minha "sobrinha" é a que está de vermelho.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Ah... faltaram três aforismos pessoanos!

Não queria deixar de registrar esses três que achei fantásticos:
- "Os espíritos altamente analíticos vêem quase que só defeitos: quanto mais forte a lente mais imperfeita se mostra a cousa observada. O detalhe é sempre mau.";
- "A vida é a hesitação entre uma exclamação e uma interrogação. Na dúvida, há um ponto final."; e
- "O homem perfeito do pagão era a perfeição do homem que há; o homem perfeito do cristão, a perfeição do homem que não há; o homem perfeito do budista, a perfeição de não haver o homem."
Esse Pessoa era "penetrante" mesmo!

Mais alguns aforismos pessoanos

Para quem gostou, aí vão mais alguns aforismos do Fernando Pessoa:
- "Que tragédia não acreditar na perfectibilidade humana!... E que tragédia acreditar nela!";
- "Cansa tanto viver! Se houvesse outro modo de vida!...";
- "A vida é cousa tão séria, os seus problemas são tão graves, que a ninguém assiste o direito de rir. Quem ri é estúpido - de momento, pelo menos. A alegria é a forma comunicativa da estupidez.";
- "Torturamos os nossos irmãos homens com o ódio, o rancor, a maldade e depois dizemos 'o mundo é mau'.";
- "Não haja medo que a sociedade se desmorone sob um excesso de altruísmo. Não há perigo desse excesso.";
Caramba! Pessoa andava meio pessimista quando escreveu esses aforismos anteriores.
Continuando...
- "A coragem que vence o medo tem mais elementos de grandeza que aquela que o não tem. Uma começa interiormente; outra é puramente exterior. A última faz frente ao perigo; a primeira faz frente, antes de tudo, ao próprio temor dentro da sua alma.";
- "Nunca tive dinheiro para poder ter tédio à vontade.";
- "Pertenço a uma geração - supondo que essa geração seja mais pessoas que eu - que perdeu por igual a fé nos deuses das religiões antigas e a fé nos deuses das irreligiões modernas. Não posso aceitar Jeová, nem a humanidade. Cristo e o progresso são para mim mitos de mesmo mundo. Não creio na Virgem Maria nem na electricidade." 
- "O que há de bom ou mau em qualquer crença é o modo como se crê. O bem ou o mal estão no psiquismo do crente, não na crença.";
- "O agnosticismo puro é impossível. O único agnosticismo verdadeiro é a ignorância. Porque para nos radicarmos no agnosticismo é-nos preciso um argumento para nos persuadir que a razão tem certos limites. - Ora quem observa pode parar; quem raciocina não pode parar. Portanto quando pelo raciocínio havemos provado a limitação ou a não-limitação destas e daquelas faculdades, não podemos dizer: 'paremos aqui' mas devemos seguir no raciocínio e tirar dessa limitação ou não-limitação as consequências deduzíveis. Assim fazem todos os 'agnósticos' consciente ou inconscientemente".
Depois posto outros.

Filosofia - Série Rosari (2)

Uma retificação em relação ao post anterior, apenas.
Na verdade, a série de Filosofia da Editora Rosari já conta com quatro títulos. O outro, não citado anteriormente, é "O que pensam os filósofos atuais?", de Jeremy Stangroom e Julian Baggini.
Segundo o site da editora: "Este livro é uma coletânea de entrevistas com alguns dos filósofos e intelectuais mais importantes e influentes no mundo todo, e com figuras de destaque nas artes e na política. São eles: Igor Aleksander, Philippa Foot, A. C. Grayling, Ted Honderich, Oliver Letwin, Alexander McCall Smith, Onora O’Neill, Bhikhu Parekh, Robert M. Pirsig, Philip Pullman, Mary Warnock, Bernard Williams e Slavoj Žižek".
Particularmente, só conheço o Zizek. Além disso, não tive oportunidade de folhear este volume, portanto, não há como emitir nenhum juízo de valor a seu respeito. Entretanto, a julgar pelo resto da série, deve ser um bom livro.


quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Filosofia - Série Rosari

A série em questão já conta com três livros: "História concisa da Filosofia - de Sócrates a Derrida"; "Uma introdução aos vinte melhores livros de Filosofia" e, agora, "Filosofia aplicada - Política e Cultura no mundo contemporâneo", de Rupert Read.
Do primeiro, eu já falei algo em posts anteriores. Do segundo, sinceramente, não lembro de ter postado nada. Desse último falo agora.
Comprei o livro hoje, e só o folheei. Portanto, não posso ainda dar uma opinião geral. Mas queria registrar uma passagem bem do começo, que parece muito apropriada para esses momentos de reunião sobre o clima em Copenhague.
Lá vai o trechinho, que é uma introdução escrita pelo organizador, M.A. Lavery: "Costumamos pensar nos desastres naturais e ambientais como duas coisas diferentes: a causa do desastre ambiental somos nós, humanos, ao passo que um desastre natural, como o furacão Katrina, simplesmente 'acontece'. Hoje em dia, contudo, temos observado algo pior, algo que é, ao mesmo tempo, um desastre natural e ambiental. Somos nós: humanos. É a nossa forma arrogante e tola de viver em desequilíbrio com a natureza. Só que há um arriscado empecilho: os seres humanos não podem nunca se desvencilhar da natureza. Somos naturais, mesmo quando fazemos coisas aparentemente 'antinaturais'. E os preços, altos, são pagos por nós - e pelo resto da natureza".
Boa dica de reflexão para as autoridades que se reúnem para decidir o futuro da nossa querida "casinha azul", chamada pelos astrônomos de Terra.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Spinoza, por Onfray (2)

Continuando o post anterior.
Onfray reconhece a agudez do pensamento spinozano, quando diz que "contrariamente a Descartes, que concebe a razão moderna mas a dispensa de funcionar sobre as questões religiosas e políticas, Espinosa não reconhece nenhum limite: os problemas da fé, de crença, de cristianismo, de piedade, de milagres, de prece, ou os da república, do Estado, da democracia, da monarquia, do soberano, do príncipe, sua pena faz passar pelo exame de uma razão eficaz, empregada como uma ferramenta de emancipação e de liberdade".
Bela passagem sobre a ousadia, a força e a profundidade do pensar spinozano!
Onfray diz ainda que "o cartesianismo de Espinosa é heterodoxo... Espinosa toma... de Descartes uma razão bem conduzida a fim de alcançar certezas claras e distintas".
É bem verdade que Spinoza pretende alcançar a "ideia adequada", o que equivaleria à "ideia clara e distinta" cartesiana. Mas, a bem da verdade, muito mais do que um "cartesiano heterodoxo", Spinoza é "absolutamente spinozano". Sua concepção de mundo já se aparta da de Descartes mesmo quando ele escreve uma obra explicando o "Princípios Filosóficos" do próprio Descartes.
Onfray cita a exegese bíblica spinozana. Aliás, sempre gosto de lembrar que Spinoza é o primeiro a caminhar, com conhecimento verdadeiro (de grego, latim e hebraico), sobre esse terreno. Entretanto, parece-me que Onfray comete um pequeno engano neste ponto. Diz ele que "a pastoral cristã faz um uso abundante do Inferno... Espinosa identifica o inferno com as paixões nefastas. Humanas, demasiado humanas, muito humanas...".
Ao dizer que Spinoza "identifica o inferno com as paixões nefastas", Onfray se engana por dois motivos. O primeiro é que o Inferno, na "pastoral cristã" é um castigo, ou seja, efeito de comportamentos ruins; enquanto as "paixões" são, elas próprias, o "erro", portanto, uma causa. Em segundo lugar, o juízo de valor de Spinoza não recai sobre as "paixões nefastas", mas sobre as "paixões em si mesmas", que são uma prova de passividade do ser humano. O "pathos" (paixão) é passividade, é falta de "potência existencial", o que, por si só, é "nefasto", idependentemente de que qualidade seja atribuída à tal "paixão".
Depois, Onfray cita uma posição spinozana que vem desde o "Breve tratado sobre Deus, o homem e a felicidade", indicando que "os milagres [são] impossíveis, porque nada na natureza pode acontecer contrariamente à natureza... Os homens chamam milagres efeitos cujas causas ignoram". E, como eu sempre defendi, é melhor não "inventar" explicações, reconhecendo o desconhecimento de algo, do que remetê-lo a explicações sobrenaturais. Onfray diz: "O que ultrapassa a compreensão humana deve permanecer um enigma, sem com isso gerar uma resposta abracadabrante".
Importante destacar - e Onfray o confirma - que tudo é natural. O sobrenatural é apenas o natural enquanto desconhecido. E aí estão a imanência e o racionalismo spinozanos.
Aguardem o "Spinoza, por Onfray (3)"!

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Já que o assunto é poesia...

Visto que os dois últimos posts versaram sobre poesia... dou-me o direito de avançar nessa linha.
Desta vez, continuando no "terreno" lusófono, invado as praias da nossa Metrópole, Portugal. E quem me conhece um pouquinho só, não titubeará em dizer que falarei de Fernando Pessoa.
Pois é isso mesmo! E nossa amiga Maria gostará.
Entretanto... espantosamente... não colocarei aqui um dos inúúúúmeros espetaculares poemas pessoanos. Desta vez, para surpresa geral, transcreverei alguns dos aforismos do querido português - todos retirados do livro "Aforismos e afins", publicado pela Editora Companhia das Letras, em 2006.
Lá vão eles:
- "Quando reflito sobre quão reais e verdadeiras são para o louco as coisas da sua loucura, não posso deixar de concordar com a essência da declaração de Protágoras de que 'o homem é a medida de todas as coisas'";
- "Não há normas. Todos os homens são exceções a uma regra que não existe";
- "Os deuses são a encarnação do que nunca poderemos ser";
- "A natureza é a diferença entre a alma e Deus";
- "Sinto, por vezes, um temor espantado das minhas inspirações, dos meus pensamentos, compreendendo quão pouco de mim é meu";
- "Custa tanto ser sincero quando se é inteligente! É como ser honesto quando se é ambicioso";
- "A loucura, longe de ser uma anomalia, é a condição normal humana. Não ter consciência dela, e ela não ser grande, é ser homem normal. Não ter consciência dela e ela ser grande, é ser louco. Ter consciência dela e ela ser pequena é ser desiludido. Ter consciência dela e ela ser grande é ser gênio".

De todas essas magníficas ideias, particularmente, gostei muito desta última!
Depois eu posto outras...

domingo, 13 de dezembro de 2009

Então... mais um poema

Uma no Romantismo, uma no Realismo...

ILUSÕES DA VIDA - Francisco Otaviano (1825-1889)

"Quem passou pela vida em branca nuvem
E em plácido repouso adormeceu;
Quem não sentiu o frio da desgraça,
Quem passou pela vida e não sofreu:
Foi espectro de homem, não foi homem,
Só passou pela vida e não viveu."

Bem schopenhauriano, não acham?

sábado, 12 de dezembro de 2009

Gonçalves Dias e Spinoza

Quem viu o título do post deve ter estranhado a inclusão de dois homens tão distantes unidos pelo conectivo "e". Explico...
Os que me conhecem sabem que não tenho "competência" poética. Mas... talvez por um pouco de abuso, gosto de, vez em quando, dar uma lida em poesia. E, recolhendo-me à minha insignificância, apenas aproveito o que agrada meu despreparado senso estético.
Desta vez, fui ao famoso "I-Juca Pirama", do não menos famoso Gonçalves Dias (1823-1864), nosso principal poeta romântico da primeira geração. Sinceramente, não lembrava do conteúdo. Apesar da distância dos anos de meu ensino médio (antigo segundo grau), poderia exigir um pouco mais da minha fraca memória. Mas... o fato é que não lembrava mesmo.
Para quem também não lembra, o poema - muito bonito - conta a estória de um guerreiro tupi que acaba aprisionado por uma tribo inimiga, de antropófagos, a dos Timbiras. Preocupado com seu pai cego, que ele havia deixado na floresta, passa por covarde, pedindo clemência. É livre e vai ao encontro do pai. Este pergunta o porquê da demora e, como não lhe mente o filho, acaba por perceber que o rapaz fora libertado por pena, o que não seria condizente com sua fama de grande guerreiro. Entristecido, ordena ao filho que o conduza até o local de onde veio. Dirige-se ao chefe timbira, indicando que trouxera o filho a fim dele ser sacrificado e morrer com honra. O chefe diz que não poderia comer a carne de um homem fraco, que chorara pela sua vida. O velho tupi, que também tivera fama de grande guerreiro, se enfurece com o filho e profere uma espécie de "maldição".
E é aqui que esse post se explica. A força das palavras do velho guerreiro lembra a do anátema proferido contra o nosso querido luso-holandês. Diz o velho tupi:
"Possas tu, isolado na terra,
Sem arrimo e sem pátria vagando,
Rejeitado da morte na guerra,
Rejeitado dos homens na paz,
Ser das gentes o espectro execrado;
Não encontres amor nas mulheres,
Teus amigos, se amigos tiveres,
Tenham alma inconstante e falaz!

Não encontres doçura no dia,
Nem as cores da aurora te ameiguem,
E entre as larvas da noite sombria
Nunca possas descanso gozar;
Não encontres um tronco, uma pedra,
Posta ao sol, posta às chuvas e aos ventos,
Padecendo os maiores tormentos,
Onde possas a fronte pousar.

Que a teus passos a relva se torre;
Murchem prados, a flor desfaleça,
E o regato que límpido corre,
Mais te acenda o vesano furor;
Suas águas depressa se tornem,
Ao contato dos lábios sedentos,
Lago impuro de vermes nojentos,
Donde fujas com asco e terror!

Sempre o céu, como um teto incendido,
Creste e punja teus membros malditos,
E oceano de pó denegrido
Sela a terra ao ignavo tupi!
Miserável, faminto, sedento,
Manitôs lhe não falem nos sonhos,
E do horror os espectros medonhos
Traga sempre o cobarde após si.

Um amigo não tenhas piedoso
Que o teu corpo na terra embalsame,
Pondo em vaso d'argila cuidoso
Arco e flecha e tacape a teus pés!
Sê maldito, e sozinho na terra;
Pois que a tanta vileza chegaste,
Que em presença da morte choraste,
Tu, cobarde, meu filho não és".

Para quem ainda não lembrou, aí vai o fim da estória.
O velho pai, entristecido e cansado, para. De repente, ouvem-se gritos. O seu filho guerreiro, livre do peso da preocupação com seu pai, antes abandonado a morrer no meio da floresta, põe-se a lutar. A imagem poética produzida por nosso Gonçalves Dias é maravilhosa: "Quantas vagas de povo enfurecido/Contra um rochedo vivo se quebravam". E, diante da fortaleza do "rochedo vivo", o chefe dos Timbiras ordena que seu povo pare. Pai e filho se abraçam. O velho, então, reconhece no filho o guerreiro de outrora. Nova linda imagem poética: "Este, sim, que é meu filho muito amado!/E pois que o acho enfim, qual sempre o tive,/Corram livres as lágrimas que choro,/Estas lágrimas, sim, que não desonram".

E, logo eu, vou acrescentar algo? Eu, não!

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Um pedido de desculpas

Em função dos diversos afazeres comuns nessa época de final de ano, o tempo "disponível" sempre acaba diminuindo. Somado a isso, assumi uma tarefa, no plano pessoal, que tem esgotado o restinho de tempo que me sobra.
Peço, então, a compreensão dos amigos dos blogs em que sou "seguidor", pois tenho lido apenas superficialmente seus posts e não tenho conseguido comentá-los.
Antes do Natal, minha tarefa estará concluída, restando "apenas" o par Natal-Reveillon para me ocupar. Rsss. Prometo dedicar-me mais, então, aos blogs dos amigos.
Agradecido pela compreensão.

Outra perspectiva de Filosofia vs. Mito

Sempre que se fala do nascimento da Filosofia, lá nos idos do século VI aC, na Grécia, registra-se o contraponto entre as perspectivas mítica - até então exclusiva - e a filosófica. Esse é o começo "padrão" das nossas aulas de Filosofia.
Entretanto, normalmente o que se faz é, quase exclusivamente, destacar a Cosmogonia mítica em oposição à busca pela "arché" dos primeiros filósofos. Ficamos, então, com uma polarização entre um mundo criado por deuses, ou seja, que possui um fundamento "sobrenatural", e um mundo que possui um fundamento "incrustado" na própria Natureza/Physis, portanto, um fundamento natural, apenas.
O que, muitas vezes, se perde é a noção de que, embora essa dimensão realmente tenha existido, houve uma outra "região" afetada pelo advento da Filosofia, que talvez seja muito mais importante que esta: a liberdade do homem no seu quotidiano.
Quem tomou contato com as lendas míticas que envolvem a estória de Tróia - narrada na Ilíada, de Homero -, percebe quão "acorrentada" às vontades divinas estava a vida do indivíduo. A visão mítica da realidade era tão preenchida de superstição que tudo só podia ser explicado pelos desígnios das divindades. Até mesmo dos conflitos desses mesmos desígnios, por conta das diferentes vontades dos diversos deuses envolvidos na relação com a realidade e com os seres humanos.
Basta lembrar, por exemplo, que a Batalha de Tróia começa muito antes de Páris raptar a formosa Helena, com uma disputa entre três deusas, para saber quem é a mais bonita. O "pastor" Páris acaba por ser o juiz da questão, obviamente enfurecendo as outras duas candidatas a "Miss Olimpo".
Se andarmos mais para trás, Cassandra, filha do rei Príamo, que tinha visões premonitórias, já tinha vaticinado que, caso seu jovem irmão não fosse morto, Tróia viria a ser destruída. O rei mandou apenas abandonar o jovem príncipe, que viria posteriormente a ser o "pastor" Páris.
Ainda nessa estória, temos o insano sacrifício da própria filha Ifigênia, pelo rei Agamênon, a fim de que os deuses permitissem o aparecimento dos ventos, possibilitando a partida dos seus navios rumo à Tróia.
Então, quando Tales de Mileto - o primeiro filósofo que a História registra - prevê um eclipse e, muito mais ainda, quando consegue identificar  que haverá uma grande colheita de azeitonas, de modo perspicaz, torna-se arrendatário da maior parte das prensas para produção de azeite e consegue ficar "milionário", ele confirma a liberdade humana diante das vontades divinas.
É interessante registrar que essa libertação da superstição e da total submissão do quotidiano à vontade dos deuses acaba por levar Tales a ser acusado de "ateu" - viram como isso é antigo? -, por Simplício, comentador do filósofo milesiano e de outros pré-socráticos.
Ainda bem que ninguém teve a ideia de antecipar as fogueiras da Inquisição Católica, para queimar um acusado de "ateísmo" numa Inquisição Pagã! Rsss.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Spinoza, por Onfray

Nesse blog, vários assuntos ficam para trás sem serem "resolvidos", e por isso são assuntos sempre presentes. Aliás, assim é com a Filosofia, de um modo geral.
Por diversas vezes, digo "Depois eu escreverei mais". E, em algumas, acabo não voltando ao assunto por um bom tempo.
Para saldar uma dessas dívidas, esse post é sobre o livro "Contra-história da Filosofia", de Michel Onfray, que, no terceiro volume ("Libertinos barrocos"), fala do nosso querido Spinoza.
O título do capítulo sexto, que trata especificamente do luso-holandês, é sugestivo "Espinosa e 'o que leva à alegria'".
Logo de início, Onfray levanta uma polêmica - como se isso não fosse comum neste autor francês: "os retratos de Espinosa são abundantes, mas nenhum é de fato seguro". Dúvida menor sobre esse grande pensador. Então, deixemo-la de lado.
Onfray traça a trajetória intelectual do pensador luso-holandês, pontuando sua biografia também. E "relança" nova polêmica no ar: "O fim de Espinosa é misterioso: foi um médico vindo de Amsterdã, que encontrou o filósofo... aproveitando-se da situação [ausência dos senhorios], o médico rouba suas economias, uma faca com cabo de prata e foge... abandonando o cadáver de Espinosa em seu quartinho". O "relança", que usei, fica por conta de que esse episódio é narrado pelo biógrafo Johanes Colerus - que escreveu trinta anos após os eventos, diga-se de passagem. Entretanto, é difícil acreditar que o "médico L.M" (conforme registra Colerus), se este era o amigo íntimo do filósofo, o médico e livre pensador Lodewijk Meyer - o que provavelmente é o caso -, pudesse furtar dinheiro do falecido. Talvez, como diz Steven Nadler, em "Espinosa - Vida e Obra", se tratasse, antes, de um recolhimento de pertences pessoais de um amigo, como recordação, "exagerada" pelo senhoria Van der Spyck com a inclusão de dinheiro entre esses pertences tomados.
Interessante o destaque de Onfray de que o "Tratado da Reforma do Entendimento" fala do método - tão em voga na Filosofia Moderna -, em busca de regras de certeza, "mas também de vida filosófica capaz de permitir 'por toda a eternidade, o gozo de uma alegria suprema e incessante'. Projeto existencial, portanto, mas também eudemonista - se não hedonista!".
E é na "onda" do "hedonista", que Onfray entitula o trecho seguinte de "Uma vida epicurista". Neste trecho, Onfray fala daquilo que, além da potência do pensamento, apaixona em Spinoza: seu comportamento. Diz-nos Onfray: "Espinosa vive... de acordo com os princípios de ascese hedonista do filósofo do Jardim, uma vida propriamente epicurista, portanto: vida saudável, sóbria, privada de paixões negativas, voltada para a coincidência entre seus princípios e seu cotidiano...; vida de organização dos prazeres segundo uma aritmética destinada a gerar mais Alegria ao menor custo existencial; vida livre de bugigangas do haver mundano; inteiramente voltada para as virtudes verdadeiras: a razão, a contemplação, a sabedoria, a alegria, a beatitude". Ah.... que inveja! Rsss.
Outra boa aproximação que Onfray faz entre Spinoza e o epicurismo diz respeito à máxima epicurista "Esconde tua vida" e o selo spinozano "Caute", remetendo à sua prudência.
Título de outra parte do capítulo referente a Spinoza é "Nem rir, nem chorar; compreender". Segundo Onfray, essa expressão não se encontra na "Ética", mas na Carta XXX, a Oldenburg. No entanto, na Introdução à Parte III, da Ética, Spinoza escreve: "quero voltar àqueles que preferem detestar ou ridicularizar as afecções e as ações dos homens a conhecê-las", e depois explica que seu intento será justamente o de compreender. Cabe uma aproximação, penso, entre "rir/chorar/compreender" e "ridicularizar/detestar/conhecer". De modo que, penso, em essência, a ideia está tanto na Ética quanto na Carta XXX, que é de 1665.
Onfray, a meu ver, capta bem o espírito spinozano dessa afirmação quando escreve: "o juízo de valor importa pouco, ... não se trata de fazer moral, ... é preciso se situar além do bem e do mal para tentar compreender o que acontece, como e de que maneira...". Que fique claro que "além do bem e do mal", aqui, não significa um "acima do bem e do mal", como um censor, que julga mas não pode ser julgado, mas sim "longe dos preconceitos", "além de uma tábua de valores preestabelecidos".
Aguardem o "Spinoza, por Onfray (2)"!

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Tolerância religiosa

A matéria de capa da revista "Filosofia - Ciência & Vida" desse mês diz respeito à "Intolerância religiosa". O título interno, entretanto, é "A religião sem razão".
Antes de falar especificamente da matéria de capa, gostaria de registrar duas coisas que julgo interessantes. A primeira é a opinião de Voltaire, em seu "Dicionário Filosófico", no verbete "Tolerância", de que "De todas as religiões, a cristã é, sem dúvida, aquela que mais deve inspirar tolerância, embora, até hoje, os cristãos tenham sido os mais intolerantes de todos os homens".
Tirando algumas concepções religiosas orientais, penso que Voltaire estava coberto de razão sobre o Cristianismo, quanto ao fato de, depois do magnífico exemplo de seu "fundador", dever tomar para si o estandarte da tolerância. Entretanto - e, novamente, o francês acerta -, muito do que se viu de intolerância religiosa foi presentificado por esse mesmo Cristianismo.
O segundo registro interessante vem de um pensador altamente "equilibrado": John Locke. Esse inglês escreveu a famosa "Carta sobre a tolerância", em 1689. Nela, defende o livre culto entre as diferentes facções do Cristianismo, mas aponta para os limites das ações que desarmonizem a sociedade. Entretanto,  triste é perceber que Locke cria "limites" para a tolerância, além desses meramente referentes à vida social, fazendo restrições aos muçulmanos e excluindo desses limites o diálogo com os ateus, visto que a crença em Deus seria a base de qualquer tolerância.
De minha parte, penso que seria melhor perdoar um possível "erro" do que impor um "acerto", sob a força da espada. Isso, se, pessoalmente,  não considerasse as religiões apenas como meras construções sociais.
Aliás, algo parecido aparece logo no terceiro parágrafo da matéria da revista, escrita por Márcio Müller, quando se registra que "Voltaire... condena... as lutas religiosas, quando afirma 'esta horrível discórdia... constitui a lição... que devemos perdoar-nos mutuamente os nossos erros; a discórdia é o grande mal do gênero humano e a tolerância, seu único remédio' (Dicionário Filosófico)".
A matéria, entretanto, também revela um certo preconceito de Voltaire, quando este liga o "ateísmo" à "amoralidade", ao afirmar que "Um ateu polêmico, violento e robusto seria um flagelo tão funesto quanto um supersticioso sanguinário" (Tratado sobre a Tolerância). A afirmação é perfeita, mas poderíamos modificá-la, sem que perdesse sua veracidade, para "Um ateu harmonizador e pacífico seria muito melhor que um supersticioso sanguinário".
De qualquer modo, compartilho com uma ideia do autor da matéria da revista, quando ele escreve sobre um "Freio Divino", dizendo: "A religião é necessária em qualquer... sociedade, pois, enquanto as leis reprimem os crimes conhecidos, ... a religião se encarrega dos crimes secretos...". Afinal, enquanto o homem não puder guiar suas ações única e exclusivamente por uma consciência da necessidade do respeito em sociedade, nele precisa ser infundido o temor quanto a um "policial/juiz invisível", que tudo vê e a tudo irá punir, ainda que não lhe seja permitido presenciar muitas das penas dos erros alheios.
Pronto... está justificada a religião! Mas... não estaremos atacando o cerne do problema, que é a falta de respeito. Em oposição a este comportamento, temos a possibilidade de educar nossos cidadãos, vivificando neles a noção de que estamos todos em uma relação permanente, que precisa ser "cuidada", a fim de que todos potencializem o que há de melhor e diminuam o que há de pior na vida humana coletiva.
Enquanto não for possível um pensar maduro, que permaneçam as infantis fábulas de seres invisíveis, prontos a punir as "crianças malvadas", algo como um "Homem do Saco" ou um "Bicho Papão" onisciente, onipresente e onipotente.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

"Palavrório" futebolístico pós-campeonato

Inicialmente, quero parabenizar o Flamengo pela conquista do Campeonato Brasileiro. Sabemos, nós os amantes do futebol, que esse campeonato não foi uma referência de alta qualidade técnica, mas a história só registra o nome do campeão. E, então, lá estará o nome do Flamengo.
Tudo acabou mais ou menos bem para os cariocas: além do Fla sendo campeão; Botafogo e Fluminense não se viram rebaixados. No ano que vem, portanto, seremos quatro cariocas na "Primeirona".
Lamentável o acontecimento em Curitiba, onde um povo educado se iguala ao mais bárbaro, ferindo e matando gente inocente. E meu Fluzão, que só foi jogar bola, se viu novamente no meio de uma tremenda confusão.
Que coisa!!! E a Copa de 2014 [corrigido conforme boa lembrança do amigo Mundy] é nossa...
Para fechar o "palavrório" futebolístico, uma notícia do jornal O Globo desse fim de semana: "A CBF vai oferecer um prêmio especial durante a festa 'Craque do Brasileirão', segunda-feira... homenagem à torcida do Fluminense pela mobilização, pelo fair play e por ter jogado com a equipe...".
Parabéns para nós!!!

sábado, 5 de dezembro de 2009

Aos enófilos

Há muito que não escrevo algo sobre vinhos nesse espaço, embora saiba que alguns dos amigos do blog sejam, como eu, enófilos.
Pois então, lá vai uma notícia que é motivo de orgulho para nós, brasileiros.
Deu no Jornal do Brasil: "O Miolo Reserva Merlot 2008, produzido no Vale dos Vinhedos (RS), pelo Miolo Wine Group, recebeu Medalha de Prata no Mondial do Merlot 2009 - principal evento de avaliação da variedade, no mundo -, que rolou mês passado, em Lugano, na Suíça. O Vale dos Vinhedos tem se consagrado como terroir ideal para o cultivo da Merlot".
Parabéns, Miolo!

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Hannah Arendt e o feminismo

O posicionamento de Arendt quanto ao "feminismo" era um tanto heterodoxo... mas, a meu ver, correto.
Conta-nos Celso Lafer que: "Já em 1931, com 26 anos, portanto, ela havia escrito uma longa resenha do livro de Alice Rühle-Gerstel, O problema contemporâneo da mulher, na qual questionava a validade de um movimento isolado de mulheres, da mesma forma como duvidava da sabedoria política de um movimento só de jovens. O que Hannah Arendt consistentemente quis, das mulheres, era uma atenção às discriminações políticas e jurídicas que enfrentavam que fosse suficientemente abrangente, para inserir os problemas políticos e jurídicos da condição feminina no contexto mais amplo dos grupos sociais aos quais a igualdade era denegada".
Por motivo parecido, já questionei as quotas raciais. Ou seja, se há grupos desfavorecidos mais abrangentes, no caso que mencionei, o das pessoas que, por razões econômicas, só podem frequentar escolas públicas, não há porque preocupar-se exclusivamente com a categoria menos abrangente, no exemplo anterior, a dos negros. Mais importante, penso, seria um movimento que reintegrasse as pessoas do grupo "maior", dentre os quais estariam negros, índios, etc.
No caso de Arendt, mais importante do que combater discriminações quanto ao sexo - que, de certa forma, estariam ratificando a diferenciação imaginada - seria atacar a distinção que se faz por quaisquer fatores, lutando para que legalmente essas discriminações se tornassem vazias, impensáveis e irrealizáveis.
Essa Arendt era demais!

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Dinheiro chama...

Se o dito popular "Dinheiro chama dinheiro" é verdadeiro, deve haver alguma validade em "Inteligência chama inteligência".
O posfácio do livro "Homens em tempos sombrios", registra o tempo do primeiro casamento de Hannah Arendt, com Günther Anders, que começou em 1929 e de quem ela se separou em 1936, que era "um intelectual de talento que se doutorou com Husserl e cujos projetos de carreira universitária, em Frankfurt, esbarraram na má vontade de Adorno". Celso Lafer fala do círculo de amigos de Günther, em Berlim, "integrado por artistas, jornalistas e intelectuais, que gravitavam em torno do Partido Comunista".
Vejamos a "galera": "Günther Anders era primo distante de Walter Benjamin e o casal intensificou relações quando já tinham saído da Alemanha e viviam todos em Paris. Anders apresentou Hannah Arendt a Brecht e a Arnold Zweig, e o casal, graças à amizade com Raymond Aaron, frequentou os célebres seminários de Alexandre Kojève sobre Hegel na École de Hautes Études, onde conheceram Sartre, de quem nunca foram próximos, e Alexandre Koyré, que posteriormente tornou-se grande amigo de Hannah Arendt".
Imaginem Hannah Arendt; o próprio marido dela, doutorado junto com Husserl; Arnold Zweig; Raymond Aaron; Alexandre Kojève, Sartre e Alexandre Koyré!!!!!
Para completar, ainda há os encontros do grupo de estudos marxistas, em 1936, que contava, por exemplo, com Erich Cohn-Bendit - pai do Daniel Cohn-Bendit... aquele dos movimentos estudantis de maio de 1968, em Paris -, o psicanalista Fritz Fränkel, o pintor Karl Hendenrich e Heinrich Blücher (seu futuro segundo marido).
Desse segundo grupo, confesso, só conheço o Cohn-Bendit, mesmo assim, por causa do seu rebelde filho.
Aliás, vale registrar que, em 27 de junho de 1968, Arendt escreve carta ao jovem Cohn-Bendit dizendo que seu pai teria visto com satisfação as atividades do rapaz e oferecendo-lhe, caso necessitasse, auxílio e dinheiro.
Ou seja... "inteligência chama inteligência"!

"Se eles têm a altitude...

... vocês têm a gente!".
Essa era a frase de apoio registrada pela "mais linda torcida do mundo", no Maracanã.
Essa linda torcida tinha uma missão inglória: apoiar o time do Fluzão para ganhar, por 5 a 0, o mediano time da LDU, que se valeu dos quase três mil metros de altitude para nos "abater" por 5 a 1.
E, com imensa tristeza, registro a vitória do meu querido Fluzão. Normalmente, ninguém se lastima de ter ganho uma partida de futebol. Mas, especificamente neste caso, em que meu time precisava ganhar por vantagem tão "elástica", a coisa ficou difícil. O time jogou com garra. O time merecia até ganhar de mais do que os 3 a 0 de que ganhamos. Mas... não deu!

Se a ideia do blog é ser um diário eletrônico, faço o mesmo que faria com os meus 14 anos, deixando registrada por escrito minha tristeza com o fim da estória, mas não com o time.
Eu, que vi treinarem nas Laranjeiras Rivelino & Cia., ainda não presenciei um título internacional... e já QUASE foram dois, nos últimos dois anos.
Disse Álvaro Oliveira Filho, o comentarista que mais gosto, da Rádio Globo/CBN, que os jogadores nunca esquecerão a beleza da festa da torcida tricolor. E eu emendo: "Nem eu esquecerei!".
Mesmo triste, só posso dizer: Parabéns, Fluzão!


quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Hannah Arendt revisitada

Que me perdoem os senhores Günther Anders, Heinrich Blücher - maridos de Hannah -, Martin Heidegger - seu amante -, W.H. Auden e Hans Morgenthau - que a pediram em casamento após enviuvar -, bem como a Sra. Nádia - minha esposa -, mas cada vez me apaixono mais por Frau Hannah Arendt.
Uma de minhas leituras de agora é "Homens em tempos sombrios", de Arendt. Há um posfácio de Celso Lafer, nosso compatriota que foi aluno dela nos EUA, em Cornell. Aliás, que me desculpem todos os anteriormente citados, e mais a esposa do Celso Lafer, mas eu acho que ele também foi apaixonado pela alemã. Rsss.
Obviamente, essa paixão com que brinco aqui não precisa ser heterossexual, nem ao menos precisa se dar intervivos. É uma paixão pela história e pela alma de uma outra pessoa. Aliás, a história de alguém, segundo a própria Arendt, é o conjunto de suas ações e discursos... e como ações e discursos são a própria alma de alguém, poderia dizer que me apaixonei pela alma da Sra. Hannah Arendt... como continuo apaixonado por Spinoza.
Aliás, outro ponto interessante sobre esse sentimento: ele não diminui quando o dividimos. É possível, dessa forma, apaixonar-se por muitos indivíduos, sem privar ninguém da paixão que lhe cabe. Isso é quase o "summum bonum" spinozano! Rsss.
Feita a minha declaração sentimental para a Sra. Hannah Arendt, falo um pouco do livro.
Ao contrário dos livros "teóricos" de Arendt - as aspas indicam um certo saudável paradoxo, visto que a autora alemã sempre mergulhava nos fatos "concretos" para fazer suas reflexões abstratas -, esse é um conjunto de ensaios sobre pessoas. Mas não são exatamente ensaios biográficos. Como indica Celso Lafer: "alguns, como os sobre Jaspers e Heidegger, são evocações e depoimentos. Outros têm a dimensão de uma visão de conjunto de trajetórias. É o caso dos estudos sobre Walter Benjamin e Hermann Broch. Muitos são artigos que, partindo de biografias que Hannah Arendt resenhou, deram-lhe a oportunidade de escrever sobre figuras que a fascinaram, como Rosa Luxemburgo e Isak Dinesen".
Em breve aparecerão posts sobre a figura de Hannah e do que ela escreveu para os oitenta anos de Heidegger. 
Antes, porém, eu gostaria de registrar um pequeno trecho do prefácio do livro. A autora nos diz que "Os 'tempos sombrios', no sentido mais amplo que aqui proponho, não são idênticos às monstruosidades desse século [XX, no qual ela escreve], que de fato constituem uma horrível novidade. Os tempos sombrios, pelo contrário, não só não são novos, como não constituem uma raridade na história.... Que mesmo no tempo mais sombrio temos o direito de esperar alguma iluminação, e que tal iluminação pode bem provir, menos das teorias e conceitos, e mais da luz incerta, bruxuleante e frequentemente fraca que alguns homens e mulheres, nas suas vidas e obras, farão brilhar em quase todas as circunstâncias e irradiarão pelo tempo que lhes foi dado na Terra - essa convicção constitui o pano de fundo implícito contra o qual se delinearam esses perfis. Olhos tão habituados às sombras, como os nossos, dificilmente conseguirão dizer se sua luz era a luz de uma vela ou a de um sol resplandecente. Mas tal avaliação objetiva me parece uma questão de importância secundária que pode ser seguramente legada à posteridade".
Aplausos, de pé, para a Sra. Arendt!

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Agradecimento a um amigo

Nosso amigo Sérgio, dono do maravilhoso blog "Histórico-Filosóficas", enviou-me de presente um prêmio. É o selo, que já fiz constar na coluna da esquerda, "Para um... Blog Pensador".
Fico imensamente feliz em receber o presente do amigo, desejando estar sempre a altura do prêmio concedido a mim. Principalmente porque, como eu já registrei, o "Histórico-Filosóficas" é um blog de qualidade reconhecida entre aqueles que se põem a pensar o mundo de modo filosófico.
Muito agradecido, amigo Sérgio.

Novamente, Arruda?!

José Roberto Arruda está no meio de um escândalo envolvendo propinas. Filmado e "gravado" fazendo suas negociações, a coisa fica meio difícil de ser negada. Obviamente, sê-lo-á, pois a fertilidade da imaginação de nossos políticos ultrapassa, em larga escala, a dos melhores escritores de ficção de todo o mundo. Mas não é para louvar essa ladinice que estou escrevendo, e sim para lembrar um pouco do passado do governador Arruda.
Pego com a "boca na botija" no caso da violação do painel eletrônico do Senado, em 2001, junto com o, então todo poderoso, senador Antônio Carlos Magalhães, e ameaçado de ser cassado pelo Conselho de Ética e Decoro Parlamentar, José Roberto Arruda resolveu deixar o cargo. Não sem antes reclamar do "exagero" da punição. Segundo ele, à época, o castigo deveria ser proporcional à culpa. Disse, então: "Não matei, não roubei e não desviei recursos públicos".
Bem... ao que parece, nesse episódio de agora, ele também não matou, só recebeu recursos para favorecer os cedentes desses valores. Deve ter pensado - valendo-se de uma certa lógica: "Se antes, eu não matei, não roubei e não desviei recursos públicos e seria cassado, melhor fazer isso agora, para ver se não sofrerei a mesma punição!".
Mais interessante é que, por esses dias, fazendo aqueles trabalhos escolares com minha filha, para os quais guardo um monte de revistas antigas, descobri uma matéria da época, publicada na revista "Isto é", em que ele aparecia como "favorito ao governo do Distrito Federal" - favoritismo que acabou se confirmando com sua eleição. A matéria tinha como título "Ele foi ao Inferno. E voltou"... Bonito!!!
A matéria conta um pouco do caso da violação do painel; do pedido do relator do processo de cassação, Roberto Saturnino Braga - que tem frequentado o blog em posts anteriores -, pela efetivação da punição; e segue com Arruda falando sobre o acontecido.
Uma das passagens registra a sua opinião de que "Na verdade, cometi dois erros. O primeiro foi ver a lista. O segundo foi ter mentido, na tribuna do Senado, e nos primeiros depoimentos, dizendo que eu não tinha visto". Nenhuma menção à possibilidade de ter cometido um erro mais primordial, de violar o painel. Mas... sigamos.
O fim da matéria indica as três lições tiradas por Arruda com aquele evento: 1ª) "Há momentos em que, no plano racional, você não consegue superar determinadas situações. Você precisa se soltar, subir para o plano espiritual. De lá, a visão do mundo fica diferente. Tudo fica mais fácil"; 2ª) "É preciso ter humildade para reconhecer os próprios erros" e 3ª) "Na nossa sociedade tudo é muito superficial, inclusive as amizades, que muitas vezes são enganosas". Sobre essa última lição, Arruda diz que as coisas só começaram a mudar depois que amigos o chamaram para assistir a um jogo do seu time de coração, o Gama, contra o Santos. O seu time perdia por 1 a 0 e alguém, reconhecendo o ex-senador, gritou "Arruda... mexe no placar!". Segundo o texto: "Ele se virou, encarou a pequena multidão sorrindo. Recomeçava a ser o Arruda que toda Brasília conhece". Bonito! Cheguei a me emocionar com essa descrição das lições arrudianas!
Espero que o governador Arruda tenha a felicidade de ter guardado a revista "Isto é", ou possa dar uma olhadinha neste blog, a fim de rever as lições e poder relembrá-las para esse novo episódio.
Desejo, então, que ele possa novamente ter a fé suficiente para "se soltar, subir para o plano espiritual" e ver tudo ficar "mais fácil" e que tenha "humildade para reconhecer os próprios erros". Infelizmente, quanto a ir ver um jogo do Gama, com os amigos, já não será mais possível, visto que seu time ficou de fora da outra fase da Terceira Divisão do Campeonato Brasileiro. Fica para o ano que vem... ou para o próximo escândalo, Arruda!

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Dispondo de pouco tempo...

Já que, neste momento, o tempo está curtinho, quero apenas registrar um "palavrório" futebolístico.
Não é que meu Fluzão conseguiu, no finalzinho do campeonato brasileiro, dar uma leve respirada em relação à zona de rebaixamento. Se a coisa continuar assim, escaparemos da "degola".
Quem sabe os "deuses do futebol" ainda não levem em consideração o esforço hercúleo do Fluzão e permitam que ele receba como prêmio o Campeonato Sulamericano?
Ah... e o Flamengo está chegando ao hexa, hein! Quem diria?!
Esgotado o "palavrório", volto aos assuntos "normais"! Rsss.

O fermento do blog voltou a funcionar?

Apesar da falta de certeza se esse fermento que coloquei no blog está ativo, visto que já havíamos chegado a desfrutar da amizade de 22 amigos e depois "encolhemos" para 21, fico satisfeito em ver que momentaneamente somos 23 amigos dos amigos de Spinoza.
Às duas novas amigas, minhas boas vindas. Espero que o espaço e os outros amigos possam ser agradáveis a vocês. E... expressem suas opiniões à vontade.

sábado, 28 de novembro de 2009

"O curso das ideias" (2)

Achei o livro "O curso das ideias - História do pensamento político no mundo e no Brasil", de Roberto Saturnino Braga, fantástico!!!
Já havia listado algumas informações sobre ele no último post. Mas eram mais sobre a estrutura do livro. Agora, com o livro lido, o conteúdo já pode ser avaliado.
Aliás, antes de falar especificamente do conteúdo, uma observação altamente relevante sobre a "forma". O livro passa incólume a uma revisão de Português. Um dos raríssimos livros que li que contém esse atributo. Nesse quesito, recomendaria apenas o destaque dos títulos das obras citadas (em itálico ou entre aspas).
Mas, voltando ao conteúdo...
Antes de comentar o "mar" de aspectos positivos do livro, uma pequena crítica (uma "gota", comparada ao tanto de qualidades do livro).
Primeiro, sobre a "vontade geral" em Rousseau. Saturnino enfatiza que ela equivale à "vontade da maioria" ou à "vontade do povo". Particularmente, discordo do autor. Um dos conceitos mais interessantes em Rousseau é justamente esse da "vontade geral", que corresponde a uma vontade do corpo social como um todo. Nesse tipo de vontade, o que se procura é aquilo que aumenta a qualidade de "vida" da comunidade. A vontade individual é relegada a segundo plano. O ponto chave nesse conceito, entretanto, é que ele exige uma "consciência social" enooooorme, visto que, em determinados momentos, o indivíduo vai apoiar opções que vão diametralmente contra aquilo que deseja... tudo em nome da sociedade.
Quando Saturnino indica a total paridade entre os conceitos de "vontade geral" e "vontade da maioria" ou "do povo", ele parece esquecer que a tal "vontade da maioria" só realiza o "egoísmo" num grau de generalidade maior. É difícil concordar que o "povo" terá consciência suficiente para escolher o que lhe prejudica, a fim de aumentar a "saúde" do "tecido social".
Segundo, sobre a visão da democracia no mundo. Saturnino pensa que a democracia está "consolidada em definitivo". Mesmo reconhecendo que, de um modo geral, a democracia se estabeleceu como melhor regime a ser adotado, não há como negar que há diversas tentativas de estabelecer regimes que, se não são autoritários, não são exatamente democráticos. Nós sul-americanos temos vários exemplos perto de nós, com Zelayas e Chavez que só trocam de nome e de país.
Antes de passar para as ideias políticas no Brasil, Saturnino propõe três soluções para a crise em que nosso mundo se "meteu". Lindas teses, mas que me parecem utópicas demais. Mas nem é isso que quero criticar. 
A sua primeira proposta diz respeito à redução da jornada de trabalho, de modo agudo, composta de quatro horas diárias. Segundo ele: "O volume de emprego mais que dobraria, a massa excluída cairia a quase desaparecer, e a disponibilidade de tempo dos trabalhadores para cuidar do seu desenvolvimento espiritual e cultural seria capaz de produzir, sim, um extraordinário salto qualitativo na evolução do espírito humano".
Saturnino, de que planeta você está falando? Ou, para não ser tão radical: de que cultura você está falando?
A tese da redução da jornada a níveis de quatro horas diários já me parece complicada demais, mas a de que os homens gastarão suas horas vagas para "desenvolvimento espiritual e cultural" me parece fantasiosa demais. Lembremos que ele está falando de uma massa global de pessoas. Aqui no Brasil, por exemplo, a grande maioria se preocuparia em ver mais novela, beber mais cerveja e aproveitar as baladas ou os pagodes por mais tempo. Eu não acredito que, com raras exceções, o mundo todo investisse mais em cultura que em um lazer "vazio".
Mas... ele já havia colocado, no começo do livro, que acredita numa evolução constante do homem, no sentido moral... enquanto eu só consigo vislumbrar uma evolução tecnológica, enquanto, moralmente, temos apenas "idas e vindas" em torno de um mesmo nível.
Espero que ele seja o certo e eu o errado!
Em breve falo de tudo o que o livro tem de bom... que é a maioria esmagadora de suas páginas.