quarta-feira, 14 de outubro de 2009

O papel da Imprensa

No post "Olimpíada de 2016", sem querer, "esbarrei" num tema que me parece merecer um post: a Imprensa.
De certa forma, fiz um juízo de valores quando destaquei a publicação do jornal "O Globo" no dia seguinte à vitória como sede olímpica de 2016.
Nosso amigo Existenz sinalizou, muito acertadamente, que devemos ter um certo cuidado com as análises da Imprensa sobre os diversos acontecimentos. Ele disse: "não faria mal ter certa 'malícia' na hora de se defrontar com as 'notícias' (que, para mim, nada mais são do que descrições e 'informações' sobre ocorridos entranhadas de juízos, valores, intenções e afetos, como boa parte das conversas cotidianas que cada um tem na nossa vida social) anunciadas por essas fontes".
Lembrando Nietzsche, sobre o fato de que "não há fatos, somente interpretações", acho difícil que alguma coisa veiculada na Imprensa seja totalmente "isenta", no que diz respeito às ideologias de quem as escreve. Entretanto, acho que foi justamente esse o ponto alto de "O Globo", ou seja, enquanto todos eram simplesmente tomados pela euforia da vitória - que, lembro, também está carregada de "ideologia" -, este jornal, sem deixar de noticiar - e até participar da comemoração pelo sucesso do acontecido -, alertou-nos para o "outro lado" da estória. Acho que essa é uma postura crítica que combina muito com o que tentamos fazer neste espaço - filosofar.
Agora, fica a pergunta: qual é o papel exato da Imprensa? Ela deve ser uma mera "informadora" dos acontecimentos ou deve ser "formadora de opiniões"?
E surgem perguntas mais profundas: se o papel deve ser de mero "informador", há possibilidade de fazê-lo com plena isenção, sem nenhum aparato ideológico de fundo? E se o papel é de "formador de opinião", seria a opinião veiculada mais adequada que a do leitor?
Parece-me que existe, na verdade, um misto de "informador" e "formador" (de opiniões). Se Nietzsche estiver certo, cabe a nós, leitores, a decisão sobre a "interpretação" com a qual compartilhamos. E essa "interpretação" que recebe um reforço valorativo nosso só pode "nascer" a partir da análise das várias opiniões veiculadas... até porque nós também temos as nossas "ideologias" pessoais - ou, pelo menos, que nós pensamos ser "pessoais"/"individuais".
De qualquer forma, continua valendo a reflexão, proposta pelo nosso amigo Existenz, sobre o "peso valorativo" das opiniões veiculadas em todos os meios de comunicação.

2 comentários:

Anônimo disse...

Ricardo, novamente trazendo bons pontos para enriquecer o assunto. Eu, no entanto, sou um pouco mais pessimista: a imprensa, hoje, possui um papel de “divulgadora oficial das opiniões coletivas”, o que é bastante preocupante, e que, naturalmente, significa também concentração de poder e influência sobre a sociedade. Isso se dá no seguinte contexto: 1) em uma sociedade onde o conhecimento é advindo basicamente da impressa (afinal, são pouquíssimos aqueles que lêem livros a não ser para interesses profissionais), 2) onde os detentores desse mercado representam somente “meia dúzia” de famílias, 3) e onde o que é divulgado pela impressa não se separa das opiniões que seus detentores possuem sobre o mundo. Assim, alguns poucos possuem grande capacidade de divulgar suas opiniões a muitos, possuindo basicamente o monopólio de influência na sociedade, algo semelhante a que a Igreja tinha em outras épocas. Quanto mais capacidade de divulgar opiniões e quanto menos outros tiverem a mesma capacidade mais haverá necessariamente concentração de poder, o que significa potencial em induzir raciocínios e ligações “fortuitas” de sentido nas pessoas, colocar em pauta temas desejados ou excluir aqueles indesejados, provocar tendências estéticas e intelectuais ou suprimir outras, interferir no futuro político dos pouquíssimos que possuem poder político entre os cidadãos, propagar juízos e valores que antes eram exclusividade de um certo grupo social ou dificultar o avanço de valores referentes a outros grupos, etc... E isso se complica quando as pessoas em geral acreditam que estão tendo acesso “aos próprios fatos”, desligando seu senso crítico e aderindo com muito mais intensidade o que lhes é divulgado. Qual seria a solução? Esta, de qualquer forma só poderia surgir de um debate aberto entre os indivíduos de toda a coletividade, uma possibilidade que permanece fechada em uma sociedade onde aquele que está em pauta para ser discutido (a mídia) possui praticamente todo o monopólio da propagação de opiniões em um ambiente além da mera vida privada, pessoal e restrita dos indivíduos particulares...

G.C.A disse...

Infelizmente a maioria da imprensa não informa seus leitores, ouvintes e telespectadores, eles formam a opinião destes. O certo deveria ser analisar todas as hipóteses de interpretação de um fato noticiado, trabalhar os possíveis pontos de vista.