terça-feira, 10 de novembro de 2009

Jorge Luís Borges, a Filosofia e a fé

Nosso amigo Raph colocou no blog um poema de Jorge Luís Borges sobre Spinoza. Como eu já conhecia também um sobre Schopenhauer, destaquei o fato de que Borges era apreciador da Filosofia - ou pelo menos de alguns filósofos - no seu pensar poético.
Não devo estar tão longe da verdade, afinal há uma "trilogia", de autoria do escritor, jornalista e poeta Osvaldo Ferrari, referente a diálogos deste autor com Borges, na qual um dos títulos é "Sobre a Filosofia e outros diálogos".
Aliás, numa entrevista recente ao caderno Prosa & Verso, do jornal O Globo, Osvaldo Ferrari indica que o pai e um amigo de Borges "transmitiram-lhe a ideia de que o homem deve pensar. E Borges se obrigou a seguir esta linha toda a vida. A natureza de seu pensamento era literária, tinha uma maneira original e artística de ver o mundo".
Importante destacar como o pensamento não sufoca a sensibilidade, ao contrário do que muitos pensam. E Borges é uma prova incontestável disso.
Interessante aproveitar esta entrevista para destacar outro aspecto de Borges: a fé - ou a falta dela.
Osvaldo Ferrari diz que Borges - curiosamente, no meu ponto de vista - "tinha uma visão desencantada da realidade" e acredita que "essa é a chave para sua recusa da fé".
Talvez, os poemas sobre Spinoza e Schopenhauer possam ter a ver com uma certa desconstrução, por parte destes pensadores, de um Deus antropomórfico e com uma possibilidade de leitura religiosa "orientalista" de ambos. Afinal, informa-nos Ferrari que Borges "dizia que para ele seria mais fácil aderir a uma religião como o budismo, no qual as coisas se apresentam não tão antropomorficamente como no cristianismo e com menos dogmas". E prossegue avaliando o "pensar religioso" de Borges, dizendo "Creio que o extraordinário mecanismo lógico de Borges fazia com que não pudesse crer. Como assim, o filho de Deus veio passar férias de 33 anos na Terra? E o que dizer da Santíssima Trindade? Borges raciocinava logicamente, e a fé está além da lógica".
Eu não diria que a "fé está além da lógica". Afinal, a "fé" se vale constantemente das explicações racionais para afirmar suas doutrinas. A crítica que me parece mais pertinente é que "a fé abre mão da lógica, quando esta não mais lhe interessa, ou quando esta lhe opõe embaraços". E isso me parece um comportamento por demais manipulador.
Curioso, também, é quando se diz que a luz sobrenatural - que só surge pela graça - ilumina os recantos que a luz natural não alcança. E aí vem a interessantíssima análise do grande lógico Pedro Abelardo - aquele mesmo da Heloísa -, no seu "Sim e Não", quando põe frente à frente posições doutrinárias absolutamente contrárias, mas que, em tese, foram produto da mesma iluminação sobrenatural.

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