sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Um livro para ser "degustado"

Ao contrário de alguns livros que servem para serem lidos, e mesmo de alguns que servem para serem estudados, "O mais potente dos afetos: Spinoza e Nietzsche" é um daqueles que merecem ser "degustados", como um bom vinho, lentamente.
A Apresentação, escrita por André Martins, já nos traz algumas informações interessantes. Por exemplo, a de que o primeiro estudo comparativo entre Spinoza e Nietzsche foi publicado apenas cinco anos após a morte do "bigodudo" alemão.
Outro ponto destacado é que, apesar de Nietzsche, na carta a Franz Overbeck, de julho de 1881, demonstrar a descoberta recente da sua afinidade com Spinoza, já existiam referências positivas do primeiro sobre este último, pelo menos em três obras anteriores - "Humano, demasiado humano" (1878), "Miscelânea de opiniões e sentenças" (1879) e "Aurora" (1881).
Exigir constância nas posições de Nietzsche é algo impensável. Entretanto, o alemão não precisava ser tão "volúvel" assim... Afinal, já em 1882, Nietzsche muda radicalmente de opinião em relação ao nosso querido luso-holandês.
Entretanto, essa modificação só é abordada na Introdução. Aliás, essa peça de extrema qualidade é produzida pela professora Scarlett Marton - que dispensa qualquer apresentação! A digníssima representante da mais alta casta de interpretadores nietzscheanos surpreende - e deve aborrecer alguns apreciadores de Nietzsche -, quando detecta uma certa confusão, por parte do alemão, em relação a algo que diz respeito ao conceito spinozano do "conatus". A professora Marton diz textualmente: "Nietzsche interpreta-a [a ideia spinozana] de maneira equivocada...".
A própria história da evolução da opinião de Nietzsche em relação a Spinoza é muito bem explicada. Mas a professora Scarlett Marton vai ainda mais longe, questionando algumas opiniões do ótimo André Comte-Sponville e indica que, em alguns momentos, "Deleuze acaba por forçar as tintas" quando afirma que "Nietzsche e Spinoza são filósofos da imanência, da afirmação e da alegria".
A interpretadora, além de beber da fonte original dos textos de Nietzsche, não se perde no tempo, atualizando suas interpretações ao analisar, não só os já citados Sponville e Deleuze, mas também Yirmiyahu Yovel.
Depois eu conto mais... 

Um comentário:

Prof. Guilherme Fauque disse...

Realmente, o livro é fantástico. Não pude ler todo porque tenho outros na frente que precisam ser lidos obrigatóriamente - rsrsrsrsrsrs. Mas, não resisti em ler pelo menos a introdução.

É um livro para degustar com calma e atenção.