quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Roberto Da Matta, sobre ser avô

  Na coluna de ontem, em O Globo, o nosso antropólogo Roberto Da Matta escrevia sobre seus 48 anos de casado quando, de repente, desviou-se para um outro tema. Esse súbito desvio se deu quando ele se perguntou: "Como é que eu consegui não só ser um pai razoável, mas também um bom avô?". Eu, que sou pai, mas espero levar um bom tempo, ainda, sem ser avô, continuei lendo... e me senti mais relaxado com a frase seguinte: "E digo isso, queridos leitores, sem problemas, porque o laço entre pais e filhos não se resolve, mas os de avô e neto, como o de tio e sobrinho, têm a doçura da ausência das obrigações de educar e impor limites". Ufa... relaxei! Afinal, ser pai é uma "profissão" difícil demais. Nessa "obrigação de educar e de impor limites" fica sempre a dúvida se não carregamos demais na "autoridade" e esquecemos um pouco a amizade. Mas o fato é que Da Matta me sossegou um pouco quando escreveu que "o laço entre pais e filhos não se resolve". Haverá sempre essa "tensão" entre autoridade e amizade em cada ato que envolve os dois... por mais amor que cada um carregue.
  No entanto, a reflexão de Da Matta não para por aí. Já há na passagem anterior a semente para outro tema: o ser avô. E o nosso antropólogo - talvez, escrevendo muito mais como "gente", simplesmente, do que como cientista -, primeiro, constata que "Não há nos Dez Mandamentos nenhuma referência a 'honrar os avós', porque, em primeiro lugar, eles não fazem os netos, no sentido bíblico e corrente do termo" e, depois, conta-nos que "uma vez, Celeste, minha mulher, remarcou, ao observar minha paciência com os netos: 'Como pai sua nota foi zero. Mas dou-lhe dez como avô. Passou com média cinco!'".
  É verdade que, com as médias atuais - seis, em algumas instituições, e sete, em outras -, Da Matta iria apenas para a prova de recuperação... se bem que eu acho que a "fessora" não iria ser tão cruel quanto à primeira nota... quem sabe um dois, só para ajudá-lo a passar direto?!
  De qualquer forma, fica o registro de quão diferentes são essas relações que envolvem pessoas tão próximas e com funções que, apesar de tão distantes, são, no fundo, apenas pais e filhos...  ainda que os pais dos pais e os filhos dos filhos tenham um envolvimento bem mais "doce".
  Aqui do meu lado, mesmo reconhecendo a "dificuldade" de ser pai, prefiro ficar bastante tempo sem a "doçura" de ser avô. Rsss.

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