quarta-feira, 7 de abril de 2010

Antropologia Filosófica

  A Antropologia Filosófica se propõe a responder basicamente à pergunta "O que é o homem?". Em tese, essa pergunta poderia ser antevista já em Sócrates... afinal, "O que é X?", pergunta socrática por excelência,  pode indagar sobre a "essência" de qualquer "coisa" - embora este "X" normalmente se referisse a uma virtude para a "Mosca de Atenas".  Entre essas, obviamente, poderia ser incluído o homem.
  Formalmente, entretanto, essa área da Filosofia só "nasce" lá pelos idos de 1920.
  Os aspectos históricos são relevantes nessa área, como em todas as que estruturam a Filosofia, porque podemos ver como a mesma pergunta pode ter respostas tão diversas ao longo do tempo... e mesmo como pode ter uma intenção totalmente diferente em cada momento em que é colocada.
  São várias as possibilidades de "divisão"  dos períodos da Antropologia Filosófica, segundo a fonte em que formos beber. Uma bastante aceita é a que estabelece três grandes concepções: a socrático-platônica, a medieval-religiosa e a pós-metafísica.
  Parece-me, entretanto, uma simplificação demasiado extrema, visto a riqueza das contribuições de tantos filósofos que pensaram sobre o tema "homem".
  Gostaria de, nesse post, e em outros futuros, ir discutindo essa historicidade das respostas dadas à questão "O que é o homem?"... e mesmo sobre a perspectiva em que a própria pergunta era feita.
  Neste post, entretanto, quero pensar sobre o fato do homem se colocar como objeto cognoscitivo dele, que é o próprio sujeito cognoscente.
  Isso representaria uma vantagem ou uma desvantagem?
  Podemos pensar que só seria possível responder à questão "Como é ser uma pedra?" - com a maior proximidade a uma "verdade absoluta" -, caso nos "transmutássemos" em pedra... ainda que por alguns instantes. Da mesma forma, poderíamos responder melhor a "Como é ser um cachorro?", se fôssemos cães. Desta última "vivência", poderíamos reter informações diversas que nos possibilitariam discutir, por exemplo, os limites éticos das experiências com animais como cobaias.
  Parece que, participando efetivamente da "vivência", estaríamos mais aptos a fazer um discurso pleno de sentido sobre aquele determinado ente.
  O ponto chave é estabelecer se  conhecer o "como" é realmente uma passagem segura para descobrir o "quê" - isso, se houver realmente um "o quê"... pois, lembremo-nos que existem também as ideias sobre um "construir-se" contínuo. Nesse caso, talvez fosse mais relevante saber o "como" se vai experimentando a nossa tal "humanidade".
  Mas, fiquemos, por enquanto, com a simplificação que o "essencialismo" nos confere.
  Além do ponto que destaquei como "chave", há outro muito importante, que diz respeito à nossa "intimidade" com o objeto estudado. Será que essa proximidade entre o sujeito cognoscente que somos e o objeto cognoscível, que também somos, causa "contaminação" das nossas observações ou será que ela garante, justamente, a clareza de nossas impressões?
  Sob esse aspecto, cientificamente falando - embora esse não seja necessariamente um paradigma a ser seguido pelo pensamento filosófico -, o pesquisador tem que se "afastar" do objeto pesquisado, a fim de não contaminar o experimento. Mas, neste caso, como... se é a nossa vida que é o próprio "experimento"?
  Por outro lado, a percepção de dados de forma imediata, sem a necessidade do observações mediadas pelo que quer que seja - a menos de algo que nos é inerente, ou seja, os sentidos - parece ganhar em "vivacidade"... permitindo uma análise mais precisa.
  Já temos o primeiro problema, então.
  Depois eu continuo...

7 comentários:

Anônimo disse...

Olá Ricardo. Interessante o que disse: “Por outro lado, a percepção de dados de forma imediata, sem a necessidade do observações mediadas pelo que quer que seja - a menos de algo que nos é inerente, ou seja, os sentidos - parece ganhar em "vivacidade"... permitindo uma análise mais precisa.” Não achei que diria isso um dia, mas parece que você realmente está se aproximando da fenomenologia, afinal, você basicamente acabou de defender a “volta às coisas mesmas” de Husserl. Só não sei se isso foi intencional ou não.
Um abraço.

Ricardo disse...

Caro amigo:
Já sentia a falta dos seus "agudos" comentários. Pretendia colocar uma "provocação" e ver sua reação... mas nem precisei, pois você já se manifestou sobre "o homem".
Mas calma... estou "pensando alto"... por enquanto, não há respostas definitivas. Rsss.
Mas sei que, de fato, esse assunto, e o confronto entre teses "essencialistas" e "pós-metafísicas"... e "fenomenologistas", se aproxima muito de conversas que já tivemos "ao vivo".
Entrará, você, em novos debates sobre o tema? Quem sabe não seja a hora de demonstrar essa sua passagem do indivíduo para o social agora?
Grande abraço.

mundy disse...

Bom dia, e as chuvas continuam causando terror no Estado do Rio, Maricá, Sao Gonçalo e Niteroi, estao bastante atingidos, Niteroi é a regiao mais atingida, uma lástima.Sobre a questao levantada no outro post, de fato sua opiniao vai de encontro a minha o Spinoza seria hostilizado de fato, pela sua maneira de entender, é uma pena que sejamos considerados focos de resistencia, deveriamos em realidade ser maioria, pois quem sabe o mundo poderia estar melhor, pois este mundo em que vib=vemos em que o que importa é ter Status sem se importar por meios e modos a atingir o mesmo, ou seja a ética, a moral pouco importa, eu mesmo tenho exemplos para dar bem proximos , mas deixa eu me pautar num caso futebolistico, o jogador Dalton do Flu entrou na justiça trabalhista pedindo desligamento do clube e rescisao de seu contrato que dura ate 2013 alegando atraso de salarios e FGTS, só que fontes internas do clube , tanto de situaçao como oposiçao afirmam que o clube esta rigorasamente em dia com as obrigaçoes salariais e de deposito do FGTS, a se confirmar esta versao as chances de o Clube ganhar a açao crescem bastante, mas vamos mais alem,o referido atleta segundo fontes quentes de dentro do clube, fechou o seu ciclo no FLU, mesmo que o clube vença na Justiça, o jogador perdeu espaço entre Diretores, CT e jogadores que julgaram que o mesmo foi de uma imprudencia sem tamanho e numa semana decisiva, azedou seu clima no Clube, agora vejam só afalta de ética do jogador e de seu agente e de sua familai no intuito de ganhar dinheiro a qualquer custo, mesmo sem seguir a ética, o mesmo entrou com açao contra o Flu por estar seduzido por uma proposta do Internacional, que o quer mas nao deseja pagar nada ao Flu, ou seja o quer de graça, entrou foi orientado a brigar na Justiça para que o intento seja alcançado, agora nao seria mais legal, o jogador, seu agente e o proprio clube Gaucho se sentar com os dirigentes do Flu e negociarem uma possivel saida pela porta da Frente, mas nao hoje a necessidade de se enriquecer rápido faz com que um jovem cde 20 anos prefira sair pela porta dos fundos, hoje é consenso entre todas as forças politicas do Clube, que se brigue na justiça para derrotar o malandro e dificultar sua vida profissional, o vendendo por propostas concretas, desculpe invadir seu espaço com assunto futebolistico, mas é que a falta de etica do Dalton , tornou o mesmo pertinente ao seu Blog que trata de SPINOZA e outros filosofos,pela questao da falta de valores morais e éticos nos dias atuais,eu mesmo sofro em minha vida por ser ético profissionalmente.

Anônimo disse...

Bom, não vou entrar muito em detalhes se não, com certeza vou extrapolar demasiadamente o adequado em termos de espaço para comentários, mas, pode-se dizer que o meu olhar sobre a relação que o “eu” tem com o Outro possui já algum lugar na fenomenologia existencial, mesmo que não da forma exata como eu coloco. A própria idéia de intencionalidade, por exemplo, já pode provocar essa visão de que cada um é “algo” que só pode sê-lo a medida que com-vive com outros, ou seja, com aquilo que é distinto de si mesmo. O alter ego, portanto, é como o vazio no budismo: um vaso só é aquele vaso pois há algo de “não vaso” (ou seja, o espaço vazio dentro dele) para que ele possa ter seu ser como um vaso, pois só assim haveria espaço para colocar plantas, fazendo dele, justamente, aquilo que ele é! Mas essa relação não é simplesmente de subordinação, nem de si nem do outro, pois é uma “via de mão dupla”, do qual cada “lado” perde um pouco de seus contornos e limites em relação ao outro. O ser-com de Heidegger e as circunstâncias de Ortega y Gasset pareciam concordar comigo, até o ponto que acabam caindo em algum tipo de isolamento personalista, enfatizando a centralidade da própria consciência na relação com o Outro (o que até esse ponto, para mim, é correto, afinal é dentro de nossa vida particular que tudo se dá para nós próprios) de tal maneira a dar partida em uma visão do “eu” como constante e radical auto-constituição de si mesmo, tendo o projeto, e, portanto, o futuro como enfoque desse processo de busca constante por “autenticidade”. Para mim, pelo contrário, o enfoque fica no presente não no futuro, pois é ali que de fato entramos em contato com o mundo e, além disso, é o campo onde nos descobrimos e nos fazemos a nós próprios, ou seja, é com o outro no mundo e com os demais que somos a pessoa que somos, e isso só ocorre de fato no presente.
Essa é somente uma “palhinha”.

Ricardo disse...

Caro compadre:
Essa estória do Dalton me causa tremenda surpresa. É verdade que não sou "enfronhado" nas políticas do Fluzão, como é você. Mas eu já me acostumara ao jovem zagueiro, vizinho meu, aqui em Niterói, com aquela carinha de "bom moço"... tomando conta dos atacantes adversários.
Mas, como bem diz o compadre, essa "necessidade de enriquecer rápido" contradiz todos os ditames do que esperaríamos ser um "bom comportamento"... e a garotada, infelizmente, vai sendo seduzida e "abduzida" por esses espertalhões de plantão - que são os empresários futebolísticos.
É realmente uma pena que seja assim.
Pena que o Zico não joga agora no Fla. Caso isso acontecesse, o Flazinho não seria campeão brasileiro, e muito menos mundial, visto que o Galinho de Quintino já teria deixado o clube com seus 19 anos, cheio de dívidas com fisioterapeutas, nutricionistas e preparadores físicos, enquanto os empresários ganhavam dinheiro com a venda do garoto, sem render quase nada para o clube.
O problema, entretanto, compadre, é que ética não é exatamente "ensinável". Os valores podem ir passando de geração em geração, mas a assimilação destes valores depende de uma motivação individual... que tem sido, normalmente, ligada à ingenuidade ou à "estupidez" - já que "espertos" são os que usam e abusam das artimanhas para "se darem bem".
Pobre de nós, compadre, que somos a minoria!

Ricardo disse...

Amigo Existenz:
Meu pedido não foi lançado em vão... e sua pequeno já permitiu antever algo. Entretanto, talvez pela necessária pequena extensão do texto, ainda não vi muita diferença do que já pregava esse amigo, antes de ser o "Existenz", em nossas conversas. Afinal, sempre me pareceu que você dava uma grande ênfase a esse Outro como parte necessária do Eu. Aliás, mesmo quando esse "outro" (agora minúsculo) dizia respeito a um objeto, já que você não aceitava essa separação formal - tão presente na visão Metafísica - entre sujeito e objeto.
Continuo, entretanto, vendo muito de fenomenológico em você. É certo que, principalmente em Heidegger, essa abordagem da "com-vivência" parece perder em profundidade diante da sua proposta... mas o resto do discurso - a menos, também, do seu ponto de vista do presente como extase privilegiada, em vez do futuro, como era para Heidegger - o discurso cabe, fundamentalmente, na escola fenomenológica-existencial de pensamento... até os termos heideggerianos você adota sem grandes ressignificações.
Uma pergunta: Você já visitou o pensamento de Levinás?
Abração... e obrigado pelo comentário... mas queremos mais. Rsss

Anônimo disse...

Caro Ricardo. Com certeza ainda há muito de mim hoje do que pensava naquelas cartas nossas. No entanto, com o tempo, o pensamento adentra por “cantos” novos, o que, talvez, ainda não tenha sido evidenciado pelo que escrevi no comentário anterior. De qualquer forma, você já deve ter percebido antes que há algum interesse meu por assuntos políticos e sociais, a questão agora para mim é como ligar de forma bem sucedida isso com a filosofia mais “abstrata”, criando, assim, um corpo de pensamento que - apesar de nunca querer ser de fato sistemático – possa dialogar com as mais variadas preocupações da vida humana concreta, e fazer isso sem grandes “solavancos” entre um tipo de assunto e outro. Seria uma filosofia que se comunica com a sociologia, com a política e principalmente com a ética.

A respeito de Lévinas o que posso dizer é que já tentei “fuxicar” um pouco do seu pensamento, mas o pouco que descobri não me animei muito. Primeiro: fala muito (e de forma difícil) para dizer pouco (Heidegger, bem diferente, fala difícil, mas cada frase possui uma riqueza impressionante). Segundo: não concordo em nada com a tese de que o outro é “absolutamente outro”, e, ao mesmo tempo, precisamos nos responsabilizar por ele! Ora, como posso me responsabilizar por “algo” do qual em nada posso me identificar, reconhecer, e tocar ou ser tocado em minha interioridade? Além disso, a responsabilidade não pode vir “de graça”, ela vem com a ampliação da consciência, da capacidade de compreender o ponto de vista de outrem, de me identificar com suas dores e alegrias, de compartilhar uma situação comum do qual ambos estamos inextricavelmente ligados, apesar de sermos sempre existências distintas e únicas. A centralidade epistemológica na existência não pode nos transformar em uma ilha, em um átomo intransponível, pois ela nos ensina a nos abrir ao Outro, e assim poder nos fazer compreender que compartilhamos de uma mesma humanidade, somos, portanto, membros de uma mesma comunidade, e, ao mesmo tempo, o fazemos na nossa existência particular. E como isso seria possível se minha distância em relação a outrem é absoluta?! No final, prefiro ficar com uma perspectiva mais próxima de Marcel, apesar de respeitar a sentimento de solidariedade que Lévinas tenta produzir com sua filosofia.
Um abraço.