terça-feira, 13 de abril de 2010

A superstição

  Como já sabem aqueles que conhecem Spinoza, este filósofo tinha como uma de suas características principais o combate à superstição - aquelas crenças infundadas, que acabam por submeter os menos esclarecidos ao jugo de poderosos "espertalhões"... ou até de propagandistas de determinadas ideologias.
  Kolakowski, em "Pequenas palestras sobre grandes temas", no artigo "Sobre as superstições", lança uma provocação "desagradável" quando afirma: "Poucos de nós estão preparados para admitir que são supersticiosos". Entretanto, o clima fica mais ameno quando ele narra uma anedota sobre o tema, que inclui o grande físico Niels Bohr. A estorieta conta que, questionado sobre a presença de uma ferradura pendurada na porta, Niels Bohr respondeu: "Parece que traz sorte". O amigo que o interrogara rebateu irritado: "Mas como você, um físico, pode acreditar nessas superstições?". Esclareceu Bohr: "Não, de fato, eu não creio nisso... mas parece que traz sorte inclusive para aqueles que não acreditam".
  Parece que o intelecto pode pouco contra determinadas crenças... se bem que Spinoza já percebera que a razão não tem poder absoluto de eliminar a "não-razão" - aqui, significando o que não está sob o domínio direto do discurso consciente... sem nenhum sentido pejorativo.
  Mas... vindo de um físico do "quilate" de Bohr, a coisa soa tanto estranha como "reconfortante". Afinal, se ele, mesmo que de modo "enviesado", admite sua crença no "mágico", fica mais fácil os simples e ignaros "mortais" fazerem o mesmo.

Nenhum comentário: