sexta-feira, 9 de abril de 2010

Prefácio ao post sobre Antropologia Filosófica

  Tomei um puxão de orelha de uma amiga que lê o blog, mas não consta da lista de "amigos dos amigos". Ela indicou, com certa razão, que, no post sobre Antropologia Filosófica, eu "saltara" uma etapa importante: a explicação de cada uma das três perspectivas históricas sobre a questão "homem", que eu havia citado.
  Reconheço que poderia tê-lo feito, mas devo lembrar que, no próprio post, eu escrevi que pretenderia falar sobre essa divisão histórica - que, inclusive, registrei pensar ser demasiado reducionista - em ocasiões futuras. Naquele primeiro post da "série", queria discutir uma questão prévia, que era a relação entre esse saber-se homem e o pensar-se homem. Sob esse aspecto, eu quis dar relevo à dúvida da vantagem ou desvantagem dessa "posição privilegiada" do sujeito que se propõe como objeto ele mesmo.
  Entretanto, para não deixar minha amiga zangada comigo, vamos dar um rápido sobrevoo nas classificações em questão - ainda que registrando um certo desconforto com tão limitadas perspectivas.
  A primeira solução ao problema "o que é o homem?" seria dada pela perspectiva socrático-platônica, que daria ênfase ao homem enquanto "alma", capaz de reminiscências que a permitiriam ter contato com uma realidade efetiva. Não deixamos de encontrar aí uma "essência" humana, dada pela alma.
  A segunda solução seria dada pela perspectiva medieval-religiosa cristã, onde o homem continua tendo uma "essência", criada e finita. Continua uma dualidade corpo-alma, sendo a alma valorizada em relação ao corpo. Mas, mesmo nessa continuidade, há uma virada importante da epistemologia para a ética. Se na visão socrático-platônica a constatação ontológica dessa dualidade levava ao maior interesse na epistemologia - até porque a ética viria a reboque desta, já que "quem conhece o bem não faz o mal" -, na perspectiva cristã, o corpo contém necessariamente os vícios e a tendência ao pecado, restando à alma - enquanto "centelha divina" - o papel de destaque no campo ético.
  O homem, no seu conjunto, perde ainda a liberdade de agir e de conhecer de modo pleno; afinal, tanto o livre-arbítrio quanto o conhecimento são submetidos à uma Providência divina. E a razão, dona da "luz natural" se submete à fé, que possibilita o acesso à "luz sobrenatural".
  Mas a grande diferença dessa perspectiva é que o fundo sobre o qual se instala o homem - e a partir do qual ele poderá ser estudado - não é mais a natureza, o cosmo, mas o mundo divino. Desta forma, será a reflexão teocêntrica o ponto de partida para se estudar o homem.
  A terceira perspectiva, chamada aqui de pós-metafísica, vem questionar essa "essência" do homem. São diversos os pensadores que caminharam por essa senda. Nietzsche foi um, principalmente negando ao homem o privilégio da sua racionalidade sobre sua corporalidade... Heidegger foi outro, tentando "descoisificar" o homem... Sartre foi outro, afirmando que "a existência precede a essência", sendo esta última construída a partir da existência efetiva.
  Como eu escrevi antes, esse é só um sobrevoo rápido. Mas a pretensão é aterrissar em cada um desses "territórios"... vasculhando-os um pouco mais... encontrando, inclusive, outras "cidades" que foram "engolidas" por essa divisão territorial relativamente arbitrária.
  Espero ter "desmerecido" o puxão de orelhas da minha amiga, agora. Rsss
 

Nenhum comentário: