terça-feira, 27 de abril de 2010

Em Platão, nada é fortuito

  Como meu amigo Henrique, sei que cada passo dos diálogos platônicos é planejado e construído - ainda que de modo não tão fiel aos fatos - seguindo intenções previamente elaboradas... e, aliás, finamente arquitetadas.
  Saltou-me aos olhos, portanto - e só agora, depois de tantas lidas da "Apologia de Sócrates" -, o fato de Platão ter contado a busca de Sócrates pela verdade da sua própria sabedoria, enunciada pelo Oráculo de Delfos, pesquisando junto a três grupos distintos: os políticos, os poetas e os artesãos.
  Embora a linha que percorra todos os questionamentos pareça se basear na ideia de que "eles pensam que sabem o que não sabem", há determinadas nuances que não me tinham chamado atenção antes.
  Senão vejamos...
  Ao questionar um político, Sócrates percebe que "ele passava por sábio aos olhos de muita gente, principalmente aos seus próprios, mas não o era". Ou seja, simples ignorância da própria ignorância... e, por isso, o não poder agir de modo correto, justificando suas pretensas boas ações.
  Mas, ao questionar a classe dos poetas, Sócrates não lhes condena o não poder fazer de modo correto. Ele reconhece que "os poetas compunham suas obras... por dom natural, em estado de inspiração, como os adivinhos e profetas". Então, o problema é só o de não ter a sabedoria para "justificar" suas composições. Mas, insisto, ainda se pode reconhecer a "competência" na sua atividade.
  Em certa medida, quando Sócrates vai inquirir os artesãos, ele também reconhece a sua "boa obra", ou seja, a sua competência no agir fabril. Mas indica que os "bons artesãos" têm o defeito de que "cada qual pensa ser sapientíssimo nos demais assuntos". Novamente, fica claro que Sócrates não deixa de reconhecer a "expertise" dos mesmos... o engano deles, entretanto, é querer avançar sobre um terreno desconhecido, ou "não-sabido".
  Desta forma, a única classe que sequer consegue agir bem... mesmo que por inspiração divina ou habilidade inata, é a dos políticos.
  Até onde Platão pretendia levar essa diferenciação entre as citadas classes? Qual sua intenção mais profunda? E, por último, será que é essa impossibilidade de acerto, ainda que "acidental", dos políticos que vivemos até hoje? Rsss.

2 comentários:

mundy disse...

Estou dando sinal de vida apenas, Um abraço .

Ricardo disse...

Querido compadre:
Por três vezes já tentei falar-lhe ao celular. É verdade que poderia ter tentado o fixo, à noite. De qualquer forma, não fiquei sem "sinais de vida" seus, visto que perguntei ao Paulão sobre você.
Entrarei em contato brevemente.
Abração.