quarta-feira, 1 de julho de 2009

Wilson Simonal

Recentemente, foi lançado o documentário "Simonal - Ninguém sabe o duro que dei", trazendo à tona novamente a discussão sobre se o cantor foi, ou não, informante do regime militar, durante a ditadura. Até então, afirmava-se categoricamente que ele era. A partir de novas pesquisas, chegou-se à conclusão que não se poderia afirmar isso de modo inquestionável, já que não havia provas do fato.
Entretanto, após o lançamento do documentário, Mário Magalhães, do jornal "Folha de São Paulo", publicou um depoimento que o próprio Simonal teria dado à Polícia, onde assumia ser "dedo-duro". Depois disso, a polêmica se reacendeu.
Sem pretender me manifestar sobre essa questão, especificamente, achei curioso o que li numa entrevista dada ao jornal "O Globo" pelo filho de Simonal, Max de Castro.
Vejamos.
Antes da entrevista, propriamente dita, o jornal afirma "Nos tempos da ditadura, assumir uma posição política era uma exigência feita tanto por aqueles alinhados com o governo militar, quanto por militantes de esquerda". Durante a entrevista, o filho do cantor diz que esse estória - que ele julga falsa - só pegou pelo estilo "marrento e exibido" de Simonal.
Paro por aqui... para traçar um paralelo entre as situações de Simonal com Heidegger.
A primeira observação, para colocar as coisas nos devidos lugares, é que existem dúvidas sobre a adesão de Simonal ao regime militar, enquanto as mesmas não parecem existir em relação a Heidegger e o nazismo. Digo que "não parecem" em função de não haver certeza sobre a adesão de Heidegger ao anti-sionismo, característica marcante e das piores do nazismo. Embora não duvide de sua concordância com os planos de tornar a Alemanha um país forte e, talvez até, de uma certa simpatia pela ideia de alguma "superioridade" do povo germânico - embora não diria que ele pensasse exatamente na criação de uma raça pura.
Feita essa consideração inicial, gostaria que se pensasse no que afirma o jornal - sobre o caso Simonal -, dizendo que "nos tempos da ditadura" era "exigido assumir uma posição". Imagino que algo similar devesse acontecer na Alemanha, nos tempos da ascensão do nazismo.
Como eu fiz questão de ressaltar, não imagino um Heidegger totalmente ingênuo, tomado da mesma euforia da "massa", e que simplesmente dava um apoio tácito a Hitler. No caso de Heidegger, sua participação foi mais ativa - ainda bem que não tanto a ponto de torná-lo um assassino -, alcançando, inclusive, um posto destacado como reitor. E talvez essa parte valha como nova comparação com o "marrento e exibido" Simonal. Até que ponto Heidegger também não pode ter se aproximado do nazismo por ser um intelectual "exibido"? Até que ponto seu pedantismo não atrapalhou sua clareza de pensamento, neste caso?
De qualquer forma, ainda fico com a impressão de Richard Rorty de que a sua péssima opção política não "transbordou" para a sua filosofia, a ponto de contaminar esta última pelo que de pior se produziu no nazismo.
É isso... por enquanto.

2 comentários:

Deia Mundy disse...

Sabe que cultivo uma certa admiração por Hitler. Antes que eu seja queimada viva, minha "admiração" deve-se ao fato de tentar entender como um ser humano (não sei se o termo correto seria este) conseguiu fazer todos aqueles absurdos e maldades e ainda assim ter tantos que acreditavam nele.
Esse assunto rende horas de papo...

Ricardo disse...

Deia:
Eu também fico pensando sobre o fato de uma sociedade praticamente inteira ter apoiado Hitler. Nesse sentido, a sua "admiração" seria o meu "espanto".
Aliás, talvez o Hitler seja responsável por mais um ponto de aproximação meu ao pensamento de Heidegger, ou seja, entender os motivos de um pensador "poderoso" se aproximar da proposta nazista.
Mesmo estudando o momento histórico e fazendo uma avaliação psicológica do povo alemão, não consigo perceber bem a "força" de convencimento de Hitler. E mesmo que entendesse a adesão da "massa" - que sempre adere às propostas "populistas" -, teria dificuldades em entender o mesmo acontecer com uma "elite cultural".
É bem verdade que, quanto mais "orgulhoso" é alguém - e isso se aplicava ao povo alemão -, menos ele aceita ser subserviente. E foi justamente isso o que se obrigou o povo a ser após a Primeira Guerra Mundial. Uma hora, alguém daria voz aos anseios populares de ser grande novamente. Hitler - e seu grupo - certamente foi perspicaz em captar esse sentimento e transformá-lo em energia para movimentar sua "máquina de guerra".
De certa forma, então, não há como deixar de reconhecer valor em Hitler - um valor com padrões éticos muito questionáveis, é verdade.
Como você disse: esse assunto rende horas de papo...