Meu compadre diz que esse blog não é um espaço de futebol... mas acho que ele não tem razão. Afinal, a concepção inicial - e penso que continua assim - era a de que nossos amigos pudessem lançar aqui quaisquer questões que os "incomodassem". É bem verdade que o assunto "futebol" normalmente não aparecerá como um mero tratar do resultado de um jogo, mas reflexões sobre o esporte, de maneira geral, ou até de itens específicos do mesmo, não são rejeitadas, de forma alguma.
Então, é com esse espírito que escrevo hoje: refletir sobre as arbitragens no Campeonato Brasileiro (de futebol).
Dois são os motivos básicos dessa reflexão: (1) dois jogos a que assisti, há duas semanas - Cruzeiro vs. Fluminense e Palmeiras vs. Flamengo -, e (2) duas colunas do Fernando Calazans, em O Globo.
Os dois jogos me chamaram atenção pela "violência" em campo. Entretanto, quando os jogadores/gladiadores pararam para dar entrevistas, antes de descer para os vestiários no intervalo, todos fizeram questão de minimizar as "pancadas", dizendo que "Eram coisas do jogo". Se para eles está tudo bem, para mim, que estou só me divertindo, bebendo minha cervejinha em casa, também. Mas, como alguém que já curte futebol há anos, que já viu muitas "feras" - não no sentido de que atacavam os outros, como hoje -, que "comiam a bola", me dá um certo desânimo ver aos jogos "pegados" - como se diz hoje em dia.
Ah... só um lembrete: os técnicos de Cruzeiro e Palmeiras são, respectivamente, Celso Roth e Felipão. Quem é do mundo futebolístico conhece a fama deles, quanto a mandar "dar um cascudo" nos adversários.
Continuemos com a outra motivação deste post: a coluna de jornal.
Fernando Calazans já tinha escrito uma matéria, logo após os jogos em questão, reproduzindo minhas impressões sobre a violência nos dois jogos. Pensei: "Ufa, não sou tão analfabeto em futebol... Embora não tenha a sapiência do meu querido compadre Mundy!". Calazans, então, comentava que a violência estava atrapalhando o nosso futebol, e que isso precisava ser observado por aqueles que cuidam - ou deveriam cuidar - desse nosso esporte.
Mas, hoje, a coluna completou a análise do nosso tão querido - mas sofrido - futebol.
O título da matéria já é bastante interessante: "Repensar, reeducar". Acho que, em qualquer área de nossas vidas, repensar e reeducar são boas dicas. Calazans abre a matéria escrevendo: "Quem acompanha o futebol com algum senso crítico e capacidade de interpretar o que está acontecendo já sabia que, um dia, a tentativa ou a sensação de obrigação de mudar a arbitragem iria acontecer".
O foco da matéria, portanto, é a arbitragem. Um princípio de leitura poderia sugerir que Calazans iria "descer a borduna" nos árbitros, dizendo que eles são fracos, etc. e tal. Mas o "senso crítico e capacidade de interpretar" do jornalista estão aguçados. Segundo Fernando Calazans, fazendo eco, conforme ele mesmo reconhece, ao comentarista de arbitragem da TV Globo - e ex-árbitro - Arnaldo Cezar Coelho, o maior "problema" são os dirigentes, técnicos e jogadores, com seus comportamentos absolutamente antiéticos.
Aqui, como os nossos amigos já podem perceber, é que entra nossa reflexão filosófica da questão.
O jornalista diz: "Outro dia, fiz aqui um breve desfile do que se vê dentro de campo. Jogadores que entram para dar pontapés, parar os adversários com falta o tempo todo, com o rodízio delas. Entram, enfim, não para o jogo, mas para o antijogo. Outros jogadores, ou os mesmos, que entram para fingir que sofreram faltas, para simular, para se atirar acrobaticamente no campo, simulando também dramáticas contusões. A qualquer marcação do juiz e dos bandeirinhas, certa ou errada, esses jogadores os cercam com ameaças, palavrões, dedos em riste, vociferações".
Calazans destacará, mais adiante em sua matéria, que os técnicos incentivam esse tipo de comportamento... o que corresponde totalmente à verdade, em diversos casos. Segundo ele, Arnaldo Cezar Coelho teria dito, em relação a isso, que "Ninguém colabora", ao que o jornalista acrescenta, com muita propriedade, "Pior até: todos dificultam". E diz mais: "O futebol brasileiro perdeu a civilidade". Eu arriscaria que o futebol sul-americano... mas fiquemos no nosso "Brasilzão", para seguir o jornalista. Também poderíamos escrever, talvez, que "O (futebol) brasileiro perdeu a civilidade". Colocaríamos, então, a opção de incluir, ou não, na frase a palavra "futebol".
Mas sigamos.
Logo a seguir, Calazans lança outro título "A cara do nosso futebol" - eu registraria "A cara (de pau) do nosso futebol", mas o escritor é ele. Rsss -, para citar o caso do zagueiro do Corinthians, Paulo André, que "criticou severamente Neymar, depois do jogo com o Santos, por simular faltas e se atirar no chão", e que, no jogo seguinte, foi criticado por seu próprio técnico, o Tite - salvou-se uma alma! -, por também ter simulado sofrer uma falta. A observação de Calazans é que "Paulo André não é exceção, é regra". Isso, infelizmente.
Concordo em gênero, número e grau com Fernando Calazans, quanto à "picaretagem" que grassa em nossos gramados. A falta de ética é a rotina, e não a exceção.
Mas... eu gostaria de acrescentar um item ao que o jornalista disse, e, se fosse possível, que ele refletisse junto comigo: não podemos esperar que a "honestidade" das instituições dependa da dos homens que as compõem. Se é necessário que os árbitros encerrem todos os jogos antes dos noventa minutos, expulsando os brigões, os "botinudos" e os "atores", que se faça isso. Da mesma forma que, se for necessário marcar dez pênaltis em cada partida, por conta do "agarra-agarra" na área em 100% dos escanteios, que assim seja. A coisa ficará tão ridícula que repercutirá no mundo todo. E, talvez, nossos "trabalhadores dos gramados", com seus milionários salários, comecem a repensar seu comportamento em campo.