sábado, 30 de maio de 2015

Facas (2)


   A piada do post anterior diagnostica um problema real, que são as investigações baseadas em provas "frágeis". Afinal, sob tortura, muito provavelmente, eu me acusaria até de ter matado meu pai. Mas a crítica feita não se refere só à tortura, mas na fragilidade material das provas como um todo. No caso específico do latrocínio do médico Jaime Gold, por exemplo, há a testemunha que identificou dois garotos negros, quando tinha dito que era um branco e um negro. Isso, sem contar o fato de que, num primeiro momento, ele afirmara que não poderia reconhecer os criminosos.
   Mas eu não gostaria apenas de registrar uma opinião contra a Polícia e seus métodos investigativos. Se essa crítica pode até ser válida sob o enfoque específico do oferecimento da caracterização do crime e de seus autores para o Ministério Público prosseguir com o caso, isto não resolve a questão sob uma avaliação mais ampla, que envolve a perspectiva da violência social como um todo.
   Quisera eu, como vejo tantos "especialistas" fazerem, apontar uma única ação que corrija o problema da violência como um todo. Uns apontam o aumento do contingente policial... E ponto final. Outros dizem que é necessário diminuir a maioridade penal, e só. Uns tantos mais dizem que é só a educação que pode mudar essa situação. Há outros ainda que falam da importância de inculcar nos jovens os valores corretos. Existem propostas de penas mais duras - perpétuas e até de morte - para os criminosos. E algumas outras.
   O que me parece correto, contudo, é perceber que se trata de um problema com diversas causas simultâneas - que, eventualmente, podem até se retroalimentar umas às outras. E, se é assim, a solução dificilmente passará por resolver pontualmente apenas uma dessas múltiplas causas. 
   Chamou minha atenção, por exemplo, especificamente neste caso, a situação do segundo menor acusado, que tem quinze anos. Segundo as informações que obtive pela mídia, trata-se de um jovem que estuda numa escola pública bem conhecida; que foi entregue pela própria mãe, ao ter conhecimento da participação do filho em crime com tamanha gravidade; que já fora apreendido duas vezes anteriormente por furto e que teve determinado, por parte da Justiça, o cumprimento de medida socioeducativa - ficando 45 dias numa instituição para tais fins, da qual foi solto para cumprir pena alternativa de serviços à comunidade... o que, no entanto, não foi realizado.
    Embora haja diversas nuances que poderiam ser acrescentadas nessa minha breve lista, seria importante chamar atenção para alguns fatos:
   1º) o jovem estuda - parece-me que está no 8º ano. Não parece que a educação lhe foi suficiente;
   2º) a mãe do jovem parece ser uma pessoa de princípios, e, pode-se imaginar, que tenha apresentado os valores nos quais acredita ao próprio filho. Isso também não pareceu suficiente;
   3º) o jovem foi apreendido pela Polícia, não sendo possível escapar com o famoso "Sou de menor, tio!". E, isso, por duas vezes. Mas a eficácia da Polícia também não foi suficiente para coibir a violência; e
   4º) houve cumprimento de medida socioeducativa em instituição para menores por um tempo razoável. Contudo, isso também não foi suficiente.
   Obviamente, muitas análises mais profundas podem ser feitas. Aliás, devem ser feitas... e, isso, contando com informações mais diretas do jovem, de sua família, dos casos em que esteve envolvido, de seu comportamento na escola e na instituição de recuperação e etc. Mas o que eu quero registrar é a complexidade da questão, que, por vezes, apresenta casos que nos surpreendem pela presença de circunstâncias cuja ausência nos pareceriam essenciais para a ocorrência deste grau de violência.

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