terça-feira, 26 de maio de 2015

Laranja Mecânica


   Ao ouvir a expressão "Laranja Mecânica" é quase natural lembrar de Stanley Kubrick e do filme produzido por ele. Só que, como sabemos, Kubrick fez uma adaptação para os cinemas do livro, de mesmo nome, escrito por Anthony Burgess, em 1961.
   Num de meus aniversários, recebi de presente de uma querida amiga - que, aliás, é a protagonista do meu interesse pela Filosofia -, a Sandra, a edição comemorativa do livro. Ele é encadernado com capa dura e tem várias páginas de conteúdo extra, com artigos do próprio Burgess e até cópias de páginas originais datilografadas, com anotações pela mão do autor.
   Novamente, no período sabático, era a hora de ler o livro. E foi o que fiz. Por enquanto, ainda faltam os conteúdos extras.
    A estória, para quem não lembra, é a do jovem Alex - um encrenqueiro de marca maior, como tantos outros jovens do ambiente do livro - que é submetido a um tratamento inovador, que consta de "reforços negativos para a ação", numa linguagem de B. F. Skinner, teórico do behaviourismo. Este tratamento dá "certo", pelo menos no que concerne à violência do garoto. Contudo, há certos "problemas" que aparecem posteriormente, os quais serão utilizados politicamente, e que acabam por tornar importante fazer com que o comportamento do jovem volte a ser aquele de antes, tornando-o novamente aquele reprovável rapaz violento e "imoral".
   Há um epílogo no livro - que não aparece no filme e nem na versão americana do texto - que mostra Alex "crescendo", e se pensando em se afastar da vida violenta, retomada após o desfazimento do processo de modificação comportamental.
   O livro é realmente ótimo. Valeu a pena a leitura. Mas o mais curioso foi algo que li nos conteúdos extras - coisa que minha amiga não sabia quando me deu o livro.
   Burgess discute a questão da submissão a um certo nível de "padronização" ser reconfortante. Ele diz algo assim: "Existe algo em nossa natureza gregária que faz com que desejemos nos submeter. Até mesmo os rebeldes anticonformistas encontram suas próprias conformidades: o 'uniforme' de cabelo longo, barba, calças de algodão trançado, miçangas e amuletos, por exemplo, e o invariável gosto por maconha e músicas de protesto tocadas no violão". Contudo, o mais engraçado mesmo é algo que vem um pouco antes: "Talvez exista algo de positivo na submissão social, considerando que a vida dos trabalhadores tem muito pouco espaço para o individualismo: é doloroso ser um especialista em Spinoza à noite e um operário durante o dia".
   Eu me sinto um pouco "um especialista em Spinoza à noite e um operário durante o dia". Rssss.

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