sexta-feira, 7 de julho de 2017

Óptica e ideologia


   Um torcedor do Fluminense entra com sua bandeira tricolor (verde, branca e vermelha), todo feliz, num ambiente iluminado por uma luz vermelha. Lá dentro, volta a olhar para o pavilhão tricolor e se assusta. Ele percebe que vinha carregando um pano com as cores do seu arquirrival, o Flamengo. Desesperado, rasga aquele pano em preto e vermelho. Aborrecido, deixa o tal ambiente em que entrara, e se vê com sua bandeira tricolor em farrapos. Agora triste, não entende o que aconteceu.
   É lógico que quem lembrou das aulas de óptica do segundo grau, entendeu o fato. O branco reflete todas as cores, e, neste caso, é visto como vermelho. O vermelho reflete o vermelho, sendo visto também como vermelho. O verde não reflete o vermelho, sendo percebido como preto. Conclusão, a bandeira tricolor original é percebida, no ambiente com luz monocromática vermelha, como uma bandeira rubro-negra.
  A brincadeira óptica serve de pano de fundo para uma reflexão nossa sobre a ideologia.
  Quando estamos mergulhados em uma ideologia - e sempre estamos -, mas não conseguimos o mínimo afastamento crítico do que percebemos, acabamos fazendo discursos que beiram o ridículo - como no caso do dono da bandeira, que rasgou seu tão amado objeto. 
   Não deve ser verdade que tudo o que os governos de Lula e Dilma fizeram foi péssimo. Como também não deve ser verdade que tudo o que fizeram foi ótimo. Deve-se elogiar o que acertaram e censurar o que erraram. Quando se é um político profissional, que precisa do apoio do partido para "existir", eu até entendo que a defesa de tudo - quando se é da base de apoio - ou o ataque a tudo - quando se é da oposição - pode fazer um mínimo sentido. Mas quando somos meros participantes "amadores" da Política, ainda que tenhamos nossas preferências ideológicas, o bom senso tem que dizer "Presente!" com mais força.
   Vemos a situação lastimável do governo atual, enredado em acusações complicadas, que, pelo menos num primeiro momento, parecem incontornáveis. Para livrar-se delas, escutamos desculpas pouco convincentes, com ares burlescos. Este é um fato. Mas tão risíveis quando as ponderações dos primeiros são as observações feitas por aqueles que foram defenestrados do poder pelo acusado de agora, quando se percebe que os atos deste só significariam uma continuidade dos daqueles.
   Como alguém que vive a Política e reflete sobre ela, gostaria de algo muito simples: o expurgo de todos aqueles que agiram mal. O "todos", neste caso, significando tanto aqueles que se alinham com as minhas ideologias políticas, quanto aqueles que a ela se opõem.
   A questão ideológica, neste caso, não pode superar a questão ética e mesmo cívica. 
   

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