domingo, 6 de setembro de 2009

A árvore cartesiana vista por Heidegger

No livro "Marcas do Caminho", há um texto de Heidegger, que é "Introdução a 'O que é a metafísica?'", onde ele começa registrando um trecho dos "Princípios da Filosofia", de Descartes, e lança um estimulante conjunto de perguntas.
O trecho citado é "Assim, toda a Filosofia é como uma árvore, cujas raízes são a Metafísica, o tronco é a Física e os galhos que saem deste tronco são todas as outras ciências". E Heidegger pergunta: "Em que solo as raízes da árvore da Filosofia encontram o seu apoio? De que solo recebem as raízes e, através delas, toda a árvore as suas seivas e forças nutrientes? Qual o elemento que percorre e vigora, oculto no solo e no chão, as raízes que dão apoio e alimento à árvore? Em que repousa e se movimenta a essência da Metafísica?"... isso, para chegar à pergunta que conduzirá seu famoso texto, do qual esse seria uma introdução escrita após vinte anos, que é "O que, em última análise, é a Metafísica?".
Não se pode negar que o Heidegger era sagaz. A comparação da árvore com a Filosofia, embora questionável, é muito bem bolada. Mas o alemão consegue problematizar de maneira tão interessante a "árvore" cartesiana, que os problemas do "solo" e da "seiva" passam a ter mais importância do que a própria "árvore".
Heidegger responde suas perguntas iniciais da seguinte forma : "A verdade do ser pode chamar-se o solo no qual a Metafísica, mantida como a raiz da árvore da Filosofia, se apoia e do qual retira seu alimento". Eu me arriscaria em dizer que o "solo" e a "seiva" seriam a realidade. Como há comentadores que dizem que "realidade" e "Ser" seriam a mesma coisa, eu não estaria tão longe assim da resposta de Heidegger.
Quem quiser que arrisque outra!

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