terça-feira, 29 de setembro de 2009

Spinoza e o pessimismo

Há alguns dias, registrei uma possível aproximação, mediada por Nietzsche, entre o "conatus" spinozano e a "Vontade" schopenhaueriana. Acho que ainda há muito mais a pensar sobre essa proximidade.
Entretanto, este post não olha essa aproximação do mesmo ponto de vista que o anterior. Aqui, a intenção é demonstrar a perspicácia de Spinoza para fugir ao pessimismo, característico de Schopenhauer, em relação à existência do ser humano.
Ao enxergar o mundo como uma "briga" insana entre as Vontades particulares, Schopenhauer vislumbra um egoísmo irremediável... que o encaminha naturalmente a um pessimismo.
Spinoza, mesmo sem conhecer essa "armadilha individualista", propõe um conatus (imaginando um paralelismo entre este conceito e o de Vontade) que possui duas dimensões: a primeira, individual, e uma outra, "social". Salva-se, então, nosso querido filósofo, e consegue propor uma ética, o que não foi possível para Schopenhauer e, penso, nem mesmo para Nietzsche - embora, no caso deste último, eu deixe o assunto para outro post.
Como Spinoza consegue isso? De modo relativamente simples: ele instaura um "conatus" do ente social - também um "corpo" composto de "corpos", que somos nós, indivíduos -, o que permite que, mesmo abrindo mão momentaneamente de um esforço "egoísta", o indivíduo possa ser beneficiado, visto ter agregado "energia" ao esforço do conjunto social. Isto, em última instância, se reflete num ganho individual "global".
Tanto assim que Spinoza indica, ao contrário de Hobbes - com seu "O homem é o lobo do homem" -, que o homem é o maior amigo do homem, pois é só através do outro, companheiro de sociedade, que se torna possível a obtenção da felicidade.
Esse Spinoza não é fácil!

Um comentário:

Júlio disse...

Ricardo, estou vendo que junto com Spinoza um outro alemão tomou conta do pedaço, o Schopenhauer. Tudo bem. Mas cadê o meu amigo Heidegger? Alemão por alemão, sou mais esse.
Brincadeira. Estou curtindo muito as comparações entre Spinoza e outros. Não só o Schopenhauer, mas tb o Kierkegaard e o Nietzsche. Mas fiquei com uma dúvida. Será que o Kolakowsk fala do Heidegger naquele livrinho que vc disse que comprou? Escreve alguma coisa aí sobre isso!
SDS