quinta-feira, 4 de março de 2010

"A Monadologia"

  A Editora Hedra tem lançado alguns livros, no formato "de bolso", bastante interessantes. Comprei, há algum tempo, "A Monadologia e outros textos". Apesar de "adversário" de Leibniz, ainda não havia lido esse seu livro. Como o alemão vem frequentando, vez por outra, este blog, resolvi dedicar-me um pouco mais a ele. Visto que o texto "A Monadologia" é pequeno, não foi difícil encaixá-lo entre minhas leituras.
  Antes de comentar o texto, propriamente dito, gostaria de citar algumas informações obtidas na Introdução, escrita por Fernando Luiz Barreto Gallas e Souza.
  Em primeiro lugar, o destaque de que "o próprio Leibniz chegou a afirmar que conheceria mal sua filosofia, aquele que se dedicasse tão somente ao estudo de suas obras então publicadas". Isso corrobora a informação, já amplamente divulgada, de que Leibniz guardava o seu "baú de inéditos" muito bem... e que, dali, viria muita coisa mais.
  Depois, Fernando Luiz escreve especificamente sobre a "Monadologia", dizendo: "Leibniz compôs a Monadologia em 1714, dois anos antes de sua morte, como um resumo de sua filosofia. Por seus noventa parágrafos, ele apresenta uma elaborada exposição do mundo por meio das lentes da razão pura" - se bem que essa "razão pura" não se limita, em Leibniz, à "luz natural", visto que Deus é chamado a participar de suas construções filosóficas em vários momentos... senão em todos, como pano de fundo.
  Mas... continuando: "A doutrina das mônadas, tal como apresentada na Monadologia, é o ponto culminante do pensamento leibniziano sobre a substância"... e "A Substância" era o ápice da Metafísica, também, na Filosofia Moderna. Portanto, em tese, tratamos do "ponto culminante... do cume da Metafísica". Sem falar que, para muitos, a própria Metafísica já era o que havia de superior na Filsofia. Rsss.
  Depois, a Introdução apresenta vários dos conceitos que Leibniz construirá ao longo de seu texto. Essa apresentação prepara melhor para a leitura da "Monadologia", embora não seja imprescindível para seu entendimento. É quase uma transcrição com uma paráfrase explicativa.
  De qualquer forma, algumas explicações são interessantes. Por exemplo, ao dizer que, para Leibniz, "Deus é a substância simples originária, e todas as mônadas criadas nascem de contínuas fulgurações da divindade momento a momento", o autor explica que "Leibniz utiliza a palavra 'fulgurações' para expressar o modo pelo qual as mônadas criadas nascem a partir de Deus, a fim de evitar dois extremos. A utilização da palavra 'criação' sugeriria uma enorme independência por parte das mônadas finitas. As pessoas imaginam o mundo criado como tendo sido produzido e persisitindo de modo independente. Por outro lado, 'emanação' torna o mundo criado quase uma parte da divindade, e é difícil dissociar suas imperfeições da própria natureza divina"... e, aqui, ficaria difícil "escudar" Deus do famoso "Problema do Mal".
  É muito interessante esse "cuidado" de Leibniz. Eu gosto muito do termo "emanações", mas ainda acho que se tem, utilizando-o, uma certa exterioridade do "criado" em relação ao "incriado"... o que não combina, por exemplo, com o pensamento spinozano da total imanência dos modos à Substância. E é esta última, a minha visão.
  Nessas explicações, fica bem clara a proximidade - que obviamente Leibniz tentará dissimular... ou até, eliminar - com alguns conceitos spinozanos.
  Já nesse próprio item exemplificado, constrói-se a figura de uma "substância simples originária", em relação à qual não há como deixar de sentir uma "fantasmática" presença do "monismo substancial" spinozano.
  Em outro ponto da Introdução, Fernando Luiz explica que, para Leibniz, "o que reconhecemos como um corpo vivo pode ser entendido como uma colônia de almas, cada uma com sua mônada dominante". Não há como negar, retirada a presença desse ente imaterial criado por Leibniz, resquícios dos "entes" que se reúnem através de um "bom encontro" e permanecem harmonizados, formando um ente mais complexo, através do conatus, mas que as diversas "partes" também têm seus respectivos conatus indivíduais.
  Aliás, penso que Spinoza é muito contemporâneo - e Leibniz acaba por segui-lo nisto - quando mostra que nós humanos, e os entes em geral, são muito mais "relações" do que "indivíduos".
  Feita essa introdução (da Introdução), passarei, em breve, aos comentários sobre o livro de Leibniz propriamente dito.

4 comentários:

Joaos disse...

Que coincidência, na semana passada comprei esse mesmo livro. Boas leituras.

Ricardo disse...

Caro Joaos:
Essa é uma boa coincidência. Já li o livro. Um dos problemas é que eu o leio com "olhos spinozanos". Ou seja, acabo ou vendo "rastros" do pensamento de Spinoza aproveitado pelo "espertalhão" Leibniz, ou vendo uma antítese indefensável no pensamento deste, em relação ao holandês.
Mas, sendo justo, o alemão constrói um sistema "harmônico" e, internamente, coerente.
Boas leituras, para você também.
Abraços.

Joaos disse...

Oi, Ricardo, ainda não li o livro (só a introdução e o glossário no final). Na verdade, fui levado a querer ler o Leibniz por suas constantes referências no "Diferença e Repetição" do Deleuze. O Leibniz parece que é (ou foi) muito mal falado (ri muito lendo o "Cândido ou o Otimismo"), mas o cara, além da filosofia, fez contribuições nos campos da epistemologia, logica, matemática, física, geologia, direito e história. Isso não é pouca coisa não, o cara parece "sinistro".

mundy disse...

Queria registrar aqui no espaço que hoje é o aniversario de Paulo Zaccur, grande pequeno Compadre de Ricardo , padrinho da Rafinha , menina dos olhos do Ricardo , paulo completa hoje 46 primaveras, espero que com muita saude, paz e amor, DINDIN sei que no momento esta raro, mas desejo que logo seja sanada esta questao, bem fica aqui de público os desejos de que a Festa em SG seja repleta de bons fluidos, e que é de coração o meu desejo de uma grande felicidade seja este dia e todos os outros por virem, um grande abraço para vc Paulo.